sábado, 16 de janeiro de 2021

Texto para resumo Muni 10ºB (Indeterminismo)

 


Pretendo ver considerada uma certa ideia: Se toda a matéria for determinista, e se a mente das pessoas for algo de material, então o comportamento humano é fisicamente determinado. Um dos “ses” no que acabo de descrever — a ideia de que a matéria é determinista — não foi posta em questão até ao século XX. Foi então que Niels Bohr, Werner Heisenberg e Erwin Schödinger desenvolveram a Teoria Quântica. Esta teoria é interpretada de modos diferentes pelos físicos, mas segundo a interpretação canónica (chamada “a interpretação de Copenhaga”, em homenagem à terra natal de Bhor), de acordo com a Teoria Quântica, o comportamento das partículas elementares é indeterminista. Para esta interpretação da teoria, até uma descrição completa de um sistema físico deixa em aberto o que virá a ser o seu futuro. Alguns futuros serão mais prováveis que outros, mas o número de possibilidades é sempre maior que um. Em resumo, o presente não determina o futuro — o acaso faz parte do mundo. Não está estabelecido que a interpretação de Copenhaga é a melhor interpretação da Teoria Quântica. Nem sequer é inconcebível que esta bem confirmada teoria venha um dia a ser substituída por outra, que assegure que o universo é determinista. O que parece agora claro é que não podemos simplesmente pressupor que o determinismo tem de ser verdadeiro. Talvez o universo seja determinista, talvez não. Esta é uma questão científica a ser resolvida pela investigação científica. Não podemos decidir a priori se o determinismo é ou não verdadeiro. Suponhamos que somos feitos de matéria e que as nossas características psicológicas não se devem à presença de uma substância imaterial (um ego cartesiano), mas à maneira como a matéria de que somos feitos está estruturada. Se isto estiver certo, sugiro que o nosso comportamento deve ser como o comportamento das partículas elementares. Se o acaso influencia o comportamento das partículas, também influencia o das pessoas. Ou seja, estou a propor que o indeterminismo se propaga para os níveis superiores. Se os objetos físicos não obedecem a leis deterministas, os nossos desejos e crenças não determinam o que serão as nossas ações. Esses desejos e crenças tornarão algumas ações mais prováveis que outras. Do mesmo modo, os nossos genes mais o meio em que vivemos não determinam o que serão os nossos pensamentos e ações. A relação é uma vez mais probabilística, não determinista. A maioria dos filósofos que escreveram sobre o problema da liberdade humana não se mostraram preocupados com as implicações da Teoria Quântica. Pressupõem, em geral, que a matéria é determinista e, depois, tentam considerar o que isso implica para a questão de saber se somos ou não livres. Isto é inteiramente compreensível para pessoas como David Hume, que escreveram sobre a questão do livre-arbítrio muito antes de a Teoria Quântica entrar em cena; afinal, Hume escrevia no apogeu da conceção newtoniana do mundo.

Elliott Sober, Core Questions in Philosophy (Prentice Hall, 2008) 

https://criticanarede.com/eti_livrearbitrio.html


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