sábado, 25 de setembro de 2021

Platão: Alegoria da caverna

TPC 10E - Os temas do texto de Platão: "Alegoria da Caverna"


Pintura de Jacques-Louis David 1787
Banda desenhada - Turma do Piteco, Maurício de Sousa

Temas da Alegoria da Caverna:


1. A condição humana.

2. A ignorância e a educação.


1. A CONDIÇÃO HUMANA - A Alegoria pretende alertar para a condição de escravidão e ignorância dos seres humanos. Essa escravidão consiste essencialmente na fixação a certas ideias do senso-comum que resistem a ser postas à prova e a mudar, dando-nos uma falsa ilusão de que sabemos o que, afinal, não sabemos. A questão é que o senso comum faz-nos ver as coisas pelo que habitualmente parecem ser, mas essa aparência é uma sombra de como as coisas são verdadeiramente. A verdade não é acessível ao senso comum. Vemos e ouvimos sem perguntar porque são as coisas como são. A resistência ao saber é ilustrada pela morte do homem que se liberta da caverna, como se essa libertação fosse uma ameaça para o homem comum, preso às sombras da caverna. Esse homem que ousa descrever outra realidade é considerado perigoso e seria eventualmente assassinado pelos seus companheiros.

A educação é o único meio que poderá tirar o homem da escravidão, na Alegoria ela é representada pela aprendizagem sucessiva do homem que confrontado com a luz do exterior fica cego e nada consegue ver. Precisa adaptar-se gradualmente e com esforço à luz, significando esse esforço de adaptação, o carácter difícil e incómodo da aprendizagem. Todavia, o resultado dessa educação é, sem dúvida, a percepção de um mundo de contornos mais nítidos, um mundo com riqueza de formas e contrastes que não é comparável ao mundo das sombras e da escuridão. Só pela educação da vista (aqui a vista significa a inteligência, isto é, a capacidade de entender) o homem pode compreender a sua verdadeira condição no passado, pois é por ter agora outras possibilidades de pensar que pode fazer a comparação com a vida que teve na caverna, compreender a sua pobreza e rejeitá-la.

2. A IGNORÂNCIA E A EDUCAÇÃO - O conhecimento obtido pela saída da caverna, deve ser transmitido, pois o homem que obtém conhecimento sabe o quanto os seus colegas vivem enganados e tem poder para os libertar mostrando-lhes como é o mundo, mas os homens devem querê-lo, senão não o podem atingir. É pelo poder do conhecimento e do ensino que se poderá retirar os homens da escuridão do seu falso conhecimento. Só o filósofo terá a necessidade de saber e é também dele a missão de ensinar e guiar porque o que é ignorante nada pode ensinar, não pode guiar, tem uma atitude passiva, visto que não há nele o apelo a outros mundos, a outras possibilidades mais justas.

CONCEITOS

Conhecimento versus Ignorância

Realidade versus Aparência

Hábito versus Pensamento

TESES
A condição humana é prisioneira de hábitos e teme o desconhecido.
 
O Filósofo é aquele que se liberta pela sabedoria e tem a função de despertar os homens para a verdade da sua condição.

A libertação da condição de ignorância é possível pela educação.


1. Se a "Alegoria da Caverna" faz um retrato da condição humana, diga que retrato é esse que Platão elabora?

2. O homem que se liberta sabe fazer uma distinção que os homens na caverna não sabem fazer. Que distinção é essa?

3. Diga o que simbolizam, na "Alegoria da Caverna": "a caverna", "as sombras", "o fogo", "os prisioneiros", "o Sol" e "a escadaria" e o "homem que se liberta".

4. Segundo a obra de Platão, os prisioneiros matariam aquele que tentasse retirá-los das trevas. Porquê?

A Alegoria da Caverna. O Texto.


Platão, República, Livro VII, 514a -517c

Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
– Estou a ver – disse ele.
– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.
– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.
– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?
– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?
– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles?
– Sem dúvida.        
– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?
– É forçoso.
– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?
– Por Zeus, que sim!
– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.
– É absolutamente forçoso – disse ele.
– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?
– Muito mais – afirmou.
– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?
– Seria assim – disse ele.
– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?
– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.
– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.
– Pois não!
– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.
– Necessariamente.
– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.
– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.
– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?
– Com certeza.
– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?
– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.
– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?
– Com certeza.
– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam?
– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

– Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.»

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Resumo/análise de texto Daniela Oliveira 10E



FALÁCIAS DE NÃO RELEVÂNCIA

( Quando as razões são logicamente irrelevantes embora possam psicologicamente ser relevantes)
1. Argumentum ad populun (apelo ao povo) quando se apela ao que a maioria das pessoas faz, ao “espírito das massas”.
2. Argumentum ad hominem (argumento contra a pessoa) quando para destruir o argumento de alguém tenta-se destruir a pessoa.

FALÁCIAS DAS PREMISSAS INSUFICIENTES:
(Quando a indução é fraca e as premissas embora relevantes não são suficientes para justificar a conclusão)
3. Argumentum ad verecundiam (apelo ao uma autoridade não qualificada). Quando para se justificar algo se recorre a uma autoridade que não é digna de confiança ou que não é uma autoridade no assunto.
4. Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância). Quando as premissas de um argumento estabelecem que nada se sabe acerca de um assunto e se procura concluir a partir dessas premissas algo acerca do assunto.
Exemplos:Os fantasmas existem! Já provaste que não existem?
Como os cientistas não podem provar que se vai dar uma guerra global, ela provavelmente não ocorrerá.
5. Generalização apressada . Quando se extrai uma conclusão de uma amostra atípica e não significativa.
Exemplos: Fred, o australiano, roubou a minha carteira. Portanto, os Australianos são ladrões. (Claro que não devemos julgar os Australianos na base de um exemplo).
6. Amostra não representativa: Os alunos do 11ºAno desta escola leem muito. São jovens, logo, hoje em dia os jovens leem mais.

7. Falsa Causa. Quando a ligação entre premissas e conclusão depende de uma causa não existente. Os argumentos causais são os argumentos onde se conclui que uma coisa ou acontecimento causa outra. São muito comuns mas, como a relação entre causa e efeito é complexa, é fácil cometer erros. Exemplo de uma Falsa Causa: Ganho sempre ao poker quando levo uma camisa preta. Amanhã, se levar a camisa preta também ganharei.
8. Reação em cadeia (derrapagem). Quando as premissas apresentam uma reação em cadeia com uma probabilidade mínima de acontecer.
Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar verás que é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a deixar todo o teu dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que te vires para o crime para suportar as tuas despesas e pagar as dívidas.
Se eu abrir uma exceção para ti, terei de abrir exceções para todos.

9. Espantalho ou boneco de palha: Quando se deturpa o argumento adversário de modo a torná-lo mais fácil de atacar. Exemplo: Não pode estacionar o carro no passeio porque impede as pessoas de passarem! Estou a ver quer que eu estacione o automóvel no meio da rua.
10. Falsa analogia: Quando se faz uma comparação entre duas coisas que têm diferenças que não podem ser ignoradas porque são determinantes.

11. Falso dilema: Coloca apenas duas alternativas como se fossem únicas quando há mais alternativas possíveis. Exemplo: Ou tomas uma atitude violenta ou és vítima de "bulling". se não queres ser vítima então tens que ser carrasco.

FALÁCIAS DE PRESSUPOSIÇÃO
12. Petitio principii (Petição de princípio). Quando o que devia ser aprovado pelo argumento é já suposto pelas premissas.
Exemplos: Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a dizer a verdade.
Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a Bíblia.)

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Regras para realizar a análise/resumo do texto


1. Começar com uma síntese básica:

" O texto intitula-se ... é de... e relata..." ou

"Este texto (segue-se o título), de ...(autor), pretende defender..." ou

 "O texto que estou a apresentar  pretende esclarecer o problema..., o seu autor é... e o título é...", ou

 "neste texto de...o autor discursa sobre..."

2. Apresentar de forma muito breve o autor e a sua obra.

3. Selecionar a tese principal do texto e o problema a que a tese pretende dar resposta.

4. Selecionar os conceitos principais;  dar uma pequena definição de cada um deles.

5. Selecionar o argumento ou argumentos utilizados para defender as teses ou tese. 

6. Se houver mais que uma ideia principal ou tese deve selecioná-la e relacioná-la com a tese principal.

7. Elaborar um comentário crítico. ( Breve apreciação sobre o texto, focando aspetos mais ou menos claros, controvérsias, objeções que podem ser colocadas e a sua posição pessoal justificada)

Regras para o relatório da aula

 


  1. O relatório é um resumo da aula, mas este resumo é apenas dos conteúdos filosóficos que são transmitidos na aula.
  2. O relatório só deve incluir, ideias, explicações, exemplos, exercícios, correções, discussões, da professora e dos alunos mas só quando têm real interesse para a Filosofia ou para o conhecimento em geral.
  3. Tem que ter um conteúdo que esteja de acordo com a aula, não pode ter erros científicos.
  4. Deve ser bem organizado mantendo os assuntos por ordem sem repetições nem saltos.
  5. Deve tentar abranger todos os conteúdos dados na aula.
  6. Pode ter o seu grau de originalidade e criatividade. Na escolha de exemplos ou na compreensão do mesmo assunto de outro modo; (se é utilizado um exemplo para demonstrar que Sócrates acreditava na imortalidade da alma, podemos dar outro exemplo que demonstre o mesmo).
  7.  Não deve ser muito extenso nem muito curto, entre 1,5 e 2 páginas. 
  8. Deve ser lido com clareza e escrito utilizando uma linguagem correta, sem gíria.

       Até breve. Helena Serrão