domingo, 29 de março de 2020

ENSAIO FILOSÓFICO #1

  1. O que é um ensaio filosófico?
  2. O que deve conter a introdução?

Ensaio

Olá a todos, o prazo para entrega dos ensaios filosóficos foi alargado até 17 de Abril. Quem já fez o ensaio pode enviar para este endereço que será corrigido e depois revisto para o poderem melhorar. Entretanto vão sendo colocados vários materiais para aprofundamento dos temas e esclarecimento do trabalho. 

endereço: ensaiofilosofia@gmail.com

sexta-feira, 27 de março de 2020

Critérios de Avaliação do ensaio



 ENDEREÇO PARAOS ENSAIOS: ensaiofilosofia@gmail.com

Tomada de Posição Fundamentada      20/200  

Tomar posição acerca do tema escolhido de forma pensada e fundamentada em argumentos fortes. 

Criatividade                                                  20/200

Escrita que mostre pensamento pessoal e  apreensão de conhecimentos sobre o tema e, a partir destes, a capacidade de uma apresentação e organização das matérias de uma forma nova e autónoma.

Rigor                                                                20/200
Escolha de textos e argumentos que sejam pertinentes e que não tenham falhas aparentes no que toca à argumentação ou justificação das conclusões que fazem.

Coerência                                                      20/200
Composição do ensaio sem ideias contraditórias. Textualmente uniforme e uno.

Estrutura                                                        30/200
Composição fluídas, i.e., com um seguimento de ideias natural. Começar por introduzir o tema e a problemática a discutir. Depois dar alguns exemplos que mostrem a sua pertinência para depois partir para a parte da argumentação e conclusão do trabalho.

Caráter Filosófico                                       40/200
Teor do trabalho de cariz filosófico (diferenciando-se de ensaios de outras disciplinas) e utilizando conceitos filosóficos.

Argumentação                                             50/200
Apresentação de argumentos fortes e possíveis contra-argumentos à tese defendida. Usar exemplos, mas apenas como ilustrações dos argumentos.









sexta-feira, 20 de março de 2020

Mensagem de hoje

 Foto de Annie Leibovitz


Caros alunos, estamos a viver um tempo especial para descobrirmos quem somos enquanto seres éticos, inteligentes e solidários, e também enquanto humanos predadores, irresponsáveis e egoístas. A cultura, o conhecimento, o pensamento, garantem-nos um lugar melhor, uma intervenção mais acertada no mundo, não podemos ser sempre bons mas podemos ter uma boa formação. Acredito que a Filosofia pode dar um contributo importante neste aspecto. Obrigada pelos trabalhos que me enviaram, estou a ler, a corrigir e a comentar. Tenho saudades dos meus alunos mas estou a ver se aprendo umas técnicas de videoconferência para vos ver de novo.

Entretanto preciso dos tópicos, uma lista de tópicos que irão tratar nos vossos futuros ensaios (enviem-me até segunda).
De acordo com os temas posso selecionar uma lista de leituras , uma espécie de "play list" mas de pensamentos e argumentos para orientar e substanciar os vossos ensaios. Até breve.
(não vos deixo com uma citação mas com um excerto de uma obra que me marcou muito, chama-se "A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer".  

Não possuo filosofia, em que possa mover-me como o peixe na água ou o pássaro no céu. Tudo em mim é um duelo, uma luta travada a cada minuto da vida entre falsas e verdadeiras formas de consolo. Umas não fazem senão aumentar a impotência e tornar-me mais fundo o desespero, outras são fonte de temporária libertação. Falsas e verdadeiras! Deveria antes dizer verdadeira, pois só existe uma consolação verdadeiramente real: a que me diz que sou um homem livre, um indivíduo inviolável, ser soberano no interior dos seus limites.
Stig Dagerman

terça-feira, 17 de março de 2020

Trabalho para sexta dia 20 de Março 10A e 10B (quem faz resumo entrega segunda)



Leitura da obra: "ÉTICA PARA UM JOVEM" de Fernando Savater 
Escolher um  capítulo para resumir, problematizar e estabelecer uma crítica fundamentada.


VER A OBRA AQUI

segunda-feira, 16 de março de 2020

Texto para resumo: Tomás Antunes, Tomás Mendes e Yan Santos 10A; Tomás Pardal, Vasco Fernandes e Vasco Santana 10B


Estrutura: Biografia dos autores, definição dos conceitos e das teorias, resumo, conclusão e comentário

A ÉTICA NORMATIVA - SOBRE A MORAL DEONTOLÓGICA DE KANT

 PARA TOMÁS ANTUNES e VASCO FERNANDES

“- Kant tinha desde o princípio a forte impressão de que a diferença entre o justo e o injusto tinha de ser mais do que uma questão de sentimentos. Nesse aspecto ele estava de acordo com os racionalistas, que tinham explicado que era inerente à razão humana distinguir o justo do injusto. Todos os homens sabem o que é justo e o que não é, e nós sabemo-lo não apenas porque o aprendemos, mas também porque é inerente à nossa razão. Kant achava que todos os homens tinham uma “razão prática” que nos diz sempre o que é justo e o que é injusto no domínio da moral.
- Então é inata?
 - A capacidade de distinguir o justo do injusto é tão inata como todos os outros atributos da razão. Todos os homens vêem os fenómenos como determinados causalmente – e também têm acesso à mesma lei moral universal. Esta lei moral tem a mesma validade absoluta que as leis físicas da natureza. Isso é tão fundamental para a nossa vida moral como é fundamental para a nossa vida racional que tudo tenha uma causa, ou que sete mais cinco sejam doze.
- E o que é que diz essa lei moral?
- Uma vez que precede qualquer experiência, é "formal". Significa que não está relacionada com possibilidades morais de escolha determinadas. É válida para todos os homens em todas as sociedades e em todos os tempos. Logo, não diz que tens de fazer isto ou aquilo nesta ou naquela situação. Diz como te deves comportar em todas as situações.
- Mas que sentido tem uma lei moral, se não nos diz como nos devemos comportar numa situação determinada?
-Kant formula a lei moral como imperativo categórico. Por isto, ele entende que a lei moral é "categórica", quer dizer, é válida em todas as situações. Além disso, é um "imperativo" e consequentemente uma "ordem" e absolutamente inevitável.
- Hm...
- Aliás, Kant formula o seu imperativo categórico de diversas formas. Primeiro, diz: “devíamos agir sempre de tal forma que pudéssemos desejar simultaneamente que a regra segundo a qual agimos fosse uma lei universal”.
- Quando faço alguma coisa, tenho de ter a certeza de que desejo que todos façam o mesmo na mesma situação.
- Exato. Só nessa altura ages de acordo com a tua lei moral interior. Kant também formulou o imperativo categórico da seguinte forma: devemos tratar os outros homens sempre como um fim em si e não como um meio para alguma outra coisa.
-Não podemos, portanto, "explorar" os outros para obtermos benefícios.
 -Não, porque todos os homens são um fim em si. Mas isso não é válido apenas para os outros, mas também para nós mesmos. Também não nos devemos explorar como meio para alcançar algo.
- Isso faz-me lembrar a "regra dourada": não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. -Sim, e isso é uma norma formal que abrange basicamente todas as possibilidades éticas de escolha. (…)
- Para Kant, a lei moral era tão absoluta e universalmente válida como, por exemplo, a lei da causalidade. Também não pode ser provada pela razão, mas é incontornável. Nenhum homem a contestaria.
 - Começo a ter a sensação de que estamos realmente a falar da consciência, porque todos os homens têm uma consciência.

Jostein Gaarder “ O Mundo de Sofia” p.296/297
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A ÉTICA NORMATIVA - SOBRE A MORAL DEONTOLÓGICA DE KANT 

 PARA TOMÁS MENDES E VASCO SANTANA

-Sim, quando Kant descreve a lei moral, descreve a consciência humana. Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemo-lo. - Por vezes, sou muito simpático para com os outros simplesmente porque é vantajoso para mim. Desse modo, posso ser popular. - Mas quando és simpática para com os outros apenas para seres popular, não estás a agir de acordo com a lei moral. Talvez não estejas a observar a lei moral. Talvez estejas a agir numa espécie de acordo superficial com a lei moral - e isso já é alguma coisa -, mas uma ação moral tem de ser o resultado de uma superação de ti mesma. Só quando fazes algo porque achas ser teu “dever” seguir a lei moral é que podes falar de uma ação moral. Por isso, a ética de Kant é frequentemente chamada “ética do dever”.
- Eu posso achar ser meu dever juntar dinheiro para a Cruz Vermelha ou a Caritas. - Sim, e o importante é tu fazeres uma coisa porque a achas correta. Mesmo quando o dinheiro que tu juntaste se extravia ou nunca alimente as pessoas que devia alimentar, tu cumpriste a lei moral. Agiste com a atitude correta e, segundo Kant, a atitude é decisiva para podermos dizer que uma coisa é moralmente correta. Não são as consequências de uma ação que são decisivas. Por isso, também dizemos que a “ética de Kant é uma ética da boa vontade”.
 - Porque é que era tão importante para ele saber quando é que agimos por respeito à lei moral? Não é mais importante que aquilo que fazemos ajude os outros? - Sim, Kant concordaria, mas só quando sabemos que agimos por respeito à lei moral é que agimos em “liberdade”.
- Só obedecendo a uma lei é que agimos em liberdade? Isso não é estranho?
- Segundo Kant, não. Talvez ainda te lembres que ele "postulou" o livre arbítrio do homem. Esse é um ponto importante, porque Kant achava que todas as coisas seguem a lei da causalidade. Como é que podemos ter livre arbítrio assim?
-Não me perguntes.
 - Aqui, Kant divide o homem em duas partes, e nisso faz lembrar Descartes, que afirmava que o homem era um ser duplo visto que tem corpo e razão. Enquanto seres sensíveis, estamos completamente sujeitos às leis imutáveis da causalidade, segundo Kant. Não decidimos o que sentimos; as sensações surgem necessariamente e influenciam-nos, quer queiramos quer não. Mas o homem não é apenas um ser sensível. Somos também seres racionais. - Explica-me isso! - Enquanto seres sensíveis, pertencemos à ordem da natureza. Por isso estamos sujeitos à lei da causalidade. Deste ponto de vista, não temos livre arbítrio. Mas enquanto seres racionais, participamos no mundo "em si" – ou seja, no mundo independente das nossas sensações. Só quando seguimos a nossa "razão prática" - que nos possibilita fazer uma escolha moral -, temos livre arbítrio. Se obedecermos à lei moral, somos nós que fazemos a lei pela qual nos orientamos.
-Sim, isso está certo. Eu digo - ou alguma coisa em mim diz - que eu não devo ser má para os outros. - Se decides não ser má - mesmo quando ages contra o teu próprio interesse - então estás a agir livremente. - Pelo menos, não somos livres e autónomos quando seguimos apenas os nossos instintos. - Podemos fazer-nos escravos de tudo. Sim, podemos inclusivamente ser escravos do nosso próprio egoísmo. Para nos elevarmos acima dos nossos instintos e vícios é necessário autonomia - e liberdade.
- E quanto aos animais? Eles seguem só os seus instintos e necessidades. Não têm essa liberdade de seguir uma lei moral?

- Não, é justamente esta liberdade que nos torna seres humanos. - Estou a ver. “

Jostein Gaarder “ O Mundo de Sofia” p.296/297
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SOBRE O QUE É A ÉTICA OU TER ÉTICA
PARA YAN SANTOS E TOMÁS PARDAL 
"Supõe que trabalhas numa biblioteca, verificando os livros que as pessoas requisitam, e um amigo te pede para o deixares roubar uma obra de referência difícil de encontrar que quer possuir.Podes hesitar em concordar por diversas razões. Podes recear que ele seja apanhado e que, assim, tanto ele como tu arranjem problemas. Ou podes querer que o livro fique na biblioteca para que tu próprio possas consultá-lo.
Mas também podes pensar que aquilo que ele propõe está errado – que ele não deve fazê-lo e que tu não deves ajudá-lo. Se pensas assim, o que quer isso dizer, o que torna isso verdadeiro, se é que há algo que o torne verdadeiro? 

Dizer que isso está errado não é dizer apenas que vai contra as regras. Pode haver más regras que proíbam aquilo que não está errado — tal como uma lei contra criticar o governo. Uma regra também pode ser má por exigir algo que é errado — tal como uma lei que exige a segregação racial em hotéis e restaurantes. As ideias de certo e errado são diferentes das ideias daquilo que vai ou não contra as regras. Caso contrário, não podiam ser usadas na avaliação das regras, bem como na avaliação das ações.Se pensas que seria errado ajudares o teu amigo a roubar o livro, então sentes-te desconfortável com a ideia de o fazeres: de algum modo, não queres fazê-lo, mesmo que também estejas relutante em recusares ajudar um amigo. Donde vem o desejo de não o fazer? Qual é o seu motivo, a razão por detrás dele?

Há várias maneiras pelas quais algo pode estar errado, mas neste caso, se tivesses de explicá-lo, provavelmente, dirias que seria injusto [unfair no original] para os restantes utentes da biblioteca, que podem estar tão interessados no livro como o teu amigo, mas que o consultam na sala das obras de referência, onde qualquer pessoa que precise dele pode encontrá-lo. Podes também sentir que deixar o teu amigo levar o livro trairia aqueles que te empregam, que te pagam precisamente para prevenir que coisas como estas aconteçam.
Estas ideias relacionam-se com os efeitos sobre outras pessoas — não necessariamente com efeitos sobre os seus sentimentos, uma vez que podem nunca vir a descobri-lo, mas, ainda assim, com algum tipo de dano. Em geral, a ideia de que algo é errado depende do seu impacto não só na pessoa que o pratica, mas também noutras pessoas. Se o descobrissem, não gostariam e opor-se-iam. Mas supõe que tentas explicar tudo isto ao teu amigo e ele diz: «Eu sei que o bibliotecário não havia de gostar se viesse a dar pela falta do livro e que, provavelmente, alguns dos restantes utentes da biblioteca ficariam aborrecidos se descobrissem que o livro tinha desaparecido, mas que mal faz? Eu quero o livro; por que razão hei-de preocupar-me com os outros?»

Espera-se que o argumento de que tal seria errado lhe dê uma razão qualquer para não o fazer. Mas que razão poderá ter alguém que, pura e simplesmente, não se preocupa com as outras pessoas e que pode escapar impunemente para se coibir de fazer qualquer coisa que, normalmente, é considerada errada? Que razão pode ter para não matar, roubar, mentir ou magoar outras pessoas? Se conseguir aquilo que quer ao fazer essas coisas, por que razão não há-de fazê-las? E, se não há nenhuma razão para não as fazer, em que sentido será isso errado'?

É claro que a maioria das pessoas se preocupam em certa medida umas com as outras. Mas, se alguém não se preocupa, a maior parte de nós não conclui que a moral não se aplica a essa pessoa. A moral não deixa de se aplicar automaticamente a uma pessoa que mata alguém apenas para lhe roubar a carteira, sem se preocupar com a vítima. O facto de ela não se preocupar não torna a sua atitude correta: devia preocupar-se. Mas por que razão deveria ela preocupar-se?  Tem havido muitas tentativas para responder a esta questão. Um tipo de resposta consiste em tentar encontrar algo com que a pessoa já se preocupe para depois identificar a moral com isso.

Thomas Nagel, Que quer dizer tudo isto? 1987, 1995, Gradiva, p56,57


Trabalho para resumo Marta Silva 10A , Matilde Roque e Salomé Baptista e Pedro Castro, Rodrigo Lapa e Tiago Oliveira 10B

Estrutura: Biografia dos autores, definição dos conceitos e das teorias, resumo, conclusão e comentário

Texto 1 e 2 da página 124 do manual adoptado.
Para Marta Silva  e Pedro Castro

Texto de Nigel Warburton e Javier Sabale Páginas 126 e 127 do Manual adoptado
para Matilde Roque e Rodrigo Lapa

Textos de Stuart Mill Páginas 134 e 135 do Manual adoptado para Salomé Batista e Tiago Oliveira

REALIZAR O ENSAIO FILOSÓFICO




VER ENSAIOS DE FILOSOFIA AQUI e AQUI;

ENSAIO é uma Tentativa, Esboço, Preparação.

Como dizia Popper, é importante apaixonar-se por um problema, está tudo dito no nome paixão e problema. Trata-se de nunca deixar fugir o problema antes de consumar com ele qualquer coisa verdadeiramente importante.

Cada ensaio, é, portanto, uma tentativa e é belo, se for ousado.


Limite 3 páginas, Letra Times New Roman -12- Espaço entre linhas 1,5.

 ENVIAR PARA
ensaiofilosofia@gmail.com
até dia 31 Março 
Temas:

1. Há um destino ou temos liberdade?

2. Fazer downloads ilegais será ético?

3. A inteligência artificial substitui a mente humana?

4. Tudo é arte? Quais os limites da Arte?


Um ensaio é a expressão do pensamento de alguém num dado momento.
devemos saber do que quer falar para podemos seguir o seu pensamento
o que pensa sobre um tema ou problema
a sua tese principal e as suas teses secundárias, as consequências que retirou e que se podem retirar
se já encontrou objeções às suas teses

analisa essas objeções para ver se têm sentido
modifica a tese, incorpora as objeções ou pura e simplesmente apresenta argumentos contra elas e desse modo consolida a sua tese.

fundamental;
encontrar um problema e apaixonar-se por ele (a frase é de Popper)
procurar razões para sustentar o pensamento que se quer defender
não ser dogmático mas flexível, incorporar novas possibilidades de pensar e aceitá-las ou não, esse é o corpo da reflexão filosófica.

Texto para resumo,Margarida 10A e Pedro Jerónimo 10B


 
Natureza morta, Emilio Longoni, 

 Estrutura: Biografia dos autores, definição dos conceitos e das teorias, resumo, conclusão e comentário

 Problemas da Ética: Análise de algumas teorias sobre uma vida boa
 Alguns hedonistas chegam à sua perspetiva da forma que passo a explicar. Consideram uma perspetiva rival, como a que afirma que aquilo que é bom para uma pessoa é ter conhecimento, envolver-se em atividades racionais ou aperceber-se da verdadeira beleza. Estes hedonistas perguntam:
“Estes estados mentais seriam bons se não trouxessem nenhuma satisfação, e se a pessoa que os tem não tivesse o menor desejo de que prossigam?”. Como respondem pela negativa, concluem que o valor desses estados mentais tem de residir no facto de serem apreciados e de suscitarem o desejo de que prossigam. Este raciocínio pressupõe que o valor de um todo é apenas a soma do valor das suas partes. Se removermos a parte à qual o hedonista atende,
aquilo que sobra parece não ter nenhum valor, pelo que o hedonismo é verdadeiro.
Suponha-se antes, mais plausivelmente, que o valor de um todo pode não ser a mera soma do valor das suas partes. Nesse caso, poderemos afirmar que aquilo que é melhor para as pessoas é um composto. Não é apenas estarem em estados conscientes nos quais querem estar. Nem é apenas terem conhecimento, envolverem-se em atividades racionais, aperceberem-se da
verdadeira beleza ou algo do género. Aquilo que é bom para uma pessoa não é apenas aquilo que os hedonistas dizem ser bom, nem apenas aquilo que os defensores das Teorias da Lista Objetiva dizem ser bom. Podemos acreditar que, se tivéssemos uma dessas coisas sem a outra, teríamos algo com pouco ou nenhum valor. Podemos afirmar, por exemplo, que aquilo que é bom ou mau para uma pessoa é ter conhecimento, envolver-se em atividades racionais, experienciar amor mútuo e aperceber-se da beleza — ao mesmo tempo que se quer com intensidade precisamente essas coisas. De acordo com esta perspetiva, cada parte do desacordo viu apenas metade da verdade.
Cada parte apresentou como suficiente algo que era apenas necessário. O prazer obtido com certos objetos de vários géneros não tem nenhum valor. E não há nenhum valor no conhecimento, na atividade racional, no amor ou na perceção da beleza, se estas coisas estiverem inteiramente desprovidas de prazer. Aquilo que tem valor, ou que é bom para uma pessoa, consiste em ter ambas as coisas: estar envolvido nessas atividades e querer intensamente esse envolvimento.


Derek Parfit, Aquilo que Faz a Vida de uma Pessoa Correr pelo Melhor

segunda-feira, 9 de março de 2020

Texto para resumo Manuel 10A e Matilde Esteves 10B

 Newsha Tavakolian, Irão, recinto depois de uma votação


 Durante muito tempo os EUA foram conhecidos como um Melting Pot, querendo com isso dizer-se que havia lugar para todos viessem donde viessem, que todos eram bem recebidos e que a pouco e pouco as diferenças culturais se iriam esbatendo a favor da «nova realidade cultural». Muitos americanos ainda acarinham essa ideia mas para muitos outros ela é uma ilusão e até um insulto. (…) Hodiernamente, mesmo entre aqueles que pertencem à cultura dominante existe a consciência de que esta situação causa danos ao conceito de cultura americana. A questão é o que fazer para a resolver. Alguns defensores do multiculturalismo (teoria que advoga a necessidade de assegurar representação no espaço público – universidades, meios de comunicação, política – aos diversos grupos culturais) propõem que devemos começar por nos ouvir uns aos outros. A esta versão do multiculturalismo chamarei multiculturalismo inclusivo.


Mais tolerância e compreensão entre os vários grupos culturais é o que  parece pretender-se, maior igualdade de oportunidades e um trabalho conjunto que combata a ideia de que uma tradição cultural domina o país e aqueles que não a partilham deve ser marginalizados. Este trabalho deve começar nas escolas onde as crianças devem aprender o máximo possível sobre as heranças culturais do maior número possível de grupos étnicos e sociais. (…)Muitos dos proponentes do multiculturalismo adotam o relativismo moral. Contudo, para surpresa de alguns, o relativismo não garante necessariamente o multiculturalismo.

O relativismo ético afirma que não há um código moral universal –que cada cultura escolhe o que é correto para si e nenhuma outra cultura tem o direito de interferir. Esta ideia,  ainda que com várias limitações, pode funcionar quando as culturas estão separadas e isoladas porque nesse caso o código moral é definido como o código da população dominante. Porém, numa sociedade pluralista como a americana, é difícil funcionar porque a cultura dominante (a sociedade branca) é cada vez mais acusada de insensibilidade à diversidade cultural. Pode o relativismo moral funcionar num país em que nos deparamos frequentemente com valores opostos (Roubar é errado e Roubar é moralmente correto para os desfavorecidos) no mesmo bairro? Dado que o relativismo exige que rejeitemos a ideia de um padrão cultural dominante, alguns poderão optar por uma atitude de niilismo moral: nenhum valor é melhor do que outro dado que nenhum valor é objetivamente correcto. Tal niilismo pode conduzir à desagregação do todo social e, possivelmente, a uma maior coesão no interior de cada grupo cultural, acentuando-se o conflito entre eles. Podemos descrever este conflito como balkanização: os grupos culturais têm pouco ou nada em comum exceto o ódio pelo que outros grupos representam. Parece que o relativismo moral não é a resposta aos novos problemas do multiculturalismo.


 E se procurarmos a resposta no universalismo moderado? Se formos universalistas moderados o que podemos esperar? O acordo com os outros grupos acerca de certas questões, mas não em todas as questões. No caso do multiculturalismo podemos concordar com a promoção da igualdade, da tolerância e da coesão da nação. Se não chegarmos a um cordo nisto, o multiculturalismo (inclusivo) é uma causa perdida, assim como a ideia de Estados Unidos. Segundo o universalismo moderado – proposto entre outros por Rachels não podemos permitir uma diferença acentuada nos valores e princípios que regem a convivência social. Não podemos admitir que matar membros de uma família por uma questão de honra seja inaceitável num bairro e aceitável noutro. O problema da possibilidade de um núcleo de valores comuns no interior de uma sociedade multicultural é particularmente urgente e escaldante. Sem valores comuns muito simplesmente não há sociedade.


Nina Rosenstand, The Moral of the Story – An introduction to questions of ethics and human nature,(1993),