quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Temas, problemas e conceitos para o teste de filosofia:

1. Problema: O que é a Filosofia?
1.1. A origem etimológica.
1.2. A relação entre Filosofia, Ciência e Teologia.
1.3. A abordagem histórica: Como começou a Filosofia - Os Filósofos da Natureza e Sócrates e Platão. Os problemas que colocam e as respostas que dão.
1.4. As disciplinas da Filosofia.
1.5. Caracterização da Filosofia: Pensar autónomo, radical, histórico e universal.

2. O discurso filosófico.
2.1. Conceitos/termos; Juízos ou proposições; Raciocínios ou argumentos.
2.2. Análise lógica dos textos: Tema, problema, Tese, Argumento e conceitos principais.
2.3. Os princípios lógicos.
2.4. O trabalho filosófico: problematizar, interpretar e argumentar.

3. Exemplo: A Alegoria da caverna -interpretação e problematização.
A Apologia de Sócrates: Temas e Argumentação.

4. Conceitos: Saber definir todos os conceitos mencionados.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O pensamento filosófico é consequente

Assim no caso já conhecido de Platão:

O problema: o que é real? Esta caneta é real?
Argumento: Não, não pode ser, porque esta caneta é agora, mas deixa de ser, a ideia de caneta permanece. ( PRÍNCIPIO) é real o que não muda, o que não deixa de ser, logo (TESE FIM)a ideia é real e o objecto sensível não.

Para compreender a dimensão discursiva do trabalho filosófico:

O discurso filosófico apresenta problemas, teoria e argumentos. As teorias tentam analisar os problemas e propõem hipóteses para a sua resolução.
As teses que propõem são hipóteses para consideração e discussão porque são sustentadas por argumentos que podem ser refutados.
Formas de argumentação:
1. Colocar claramente a tese – proposição defendida.
2. Demonstrar a sua pertinência com razões, factos, exemplos.
3. O argumento válido não pode ter premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Formas de refutação:
1. Tentando demonstrar uma contradição entre a tese e o argumento.
2. Utilizando contra-exemplos onde não se verifica o que se propõe.
3. Retirando consequências absurdas de determinada tese.

ARGUMENTAÇÃO DE SÓCRATES CONTRA MELETO QUE O ACUSAVA DE CORROMPER OS JOVENS E NÃO ACREDITAR NOS DEUSES:

“Sócrates- Considerai, pois, comigo, ó cidadãos, de que modo me parece que ele diz isso. Responde-nos tu, Meleto, e vós, como pedi a princípio, não façais rumor contra mim, se conduzo o raciocínio desse modo. Existem entre os homens, Meleto, os que acreditam que há coisas humanas, e que não há homens? Que responda ele, ó juízes, sem resmungar ora uma coisa ora outra. Há os que acreditam que não há cavalos, e há coisas que tenham relação com os cavalos? Ou acreditam que não há flautistas, mas há coisas relativas à flauta ? Não há? Óptimo homem, se não queres responder, digo-o eu, aqui, a ti e aos outros presentes. Mas, ao menos, responde a isto: Há quem acredite que há coisas demoníacas, e demónios não?
Meleto- Não há.
-Oh! como estou contente que tenhas respondido de má vontade,
constrangido por outros! Tu dizes. pois, que eu creio e ensino coisas demoníacas, sejam novas, sejam velhas; portanto, segundo o teu raciocínio, eu creio que há coisas demoníacas e o juraste na tua acusação. Ora, se creio que há coisas demoníacas, é absolutamente necessário que eu creia também na existência dos demónios. Não é assim? Assim é: estou certo de que o admites, porque não respondes. E não tenho em apreço os demónios como deuses ou filho de deuses? Sim, ou não?
- Sim, é certo.
- Se, pois, creio na existência dos demónios, como dizes, se os demónios são uma espécie de deuses, isso seria propor que não acredito nos deuses, e depois, que, ao contrário, creio nos deuses, porque ao menos creio na existência dos demónios. Se, por outra parte, os demónios são filhos bastardos dos deuses com as ninfas, ou outras mulheres, das quais somente se dizem nascidos, quem jamais poderia ter a certeza de que são filhos dos deuses se não existem deuses? Seria de facto do mesmo modo absurdo que alguém acreditasse nas mulas, filhas de cavalos e das jumentas, e acreditasse não existirem cavalos e jumentas. Mas, Meleto, tua acusação foi feita para me pôr à prova, ou também por não saber a verdadeira culpa que me pudesses atribuir: por que, pois, te arriscas a persuadir um homem, mesmo de mente restrita, de que pode a mesma pessoa acreditar na existência das coisas demoníacas e divinas, e, de outro lado, essa pessoa não admitir demónios, nem deuses, nem heróis? Isso não é possível. 27 cd

Compõe-se de CONCEITOS/TERMOS, JUÍZOS/PROPOSIÇÕES E RACIOCÍOCINIOS/ARGUMENTOS



CONCEITOS OU TERMOS: São ideias, referem os elementos de uma classe e significam o que há de comum a todos os elementos dessa classe. O termo é o signo linguístico que expressa o conceito.
Exemplo:Cadeira, guarda-chuva, Jogador do belenenses.

JUÍZO OU PROPOSIÇÃO: exprime um pensamento, uma opinião, uma crença. É uma frase declarativa com valor de verdade, isto é. pode ser verdadeira ou falsa.
Exemplo: O regime político português é uma democracia.

RACIOCÌNIO OU ARGUMENTO: É uma forma de pensar que retira de conhecimentos dados, outros conhecimentos novos e assim faz progredir o conhecimento. Conjunto de proposições organizadas (premissas)de modo a apoiar e justificar uma determinada conclusão.

Disciplinas centrais da Filosofia:

Metafísica: (Meta –prefixo que designa para além de e Physis significa natureza)

Que tipos de coisa existem?
Será tudo criação da nossa mente? Existirá realmente a coragem e a brancura?
Existem os Universais? Existe uma realidade diferente da realidade que percepcionamos? Existirá alguma coisa fora das nossas mentes? Terá o mundo um criador? Haverá um princípio? Uma razão para as leis do Universo? Haverá uma determinação prévia para tudo quanto existe ou há acaso? Haverá liberdade e livre- arbítrio?

Exemplo de um texto:


Isto explica também, creio eu, porque é que não podemos abandonar a nossa convicção de liberdade. Achamos fácil abandonar a convicção de que a Terra é plana logo que compreendemos a prova para a teoria heliocêntrica do sistema solar. Mas não podemos de modo semelhante abandonar a convicção de liberdade, porque esta convicção está inserida em toda a acção intencional normal e consciente. E usamos esta convicção para identificarmos e explicarmos as acções. Efectivamente não podemos agir de outra maneira senão com base na suposição da liberdade.

John Searle, Mente, Cérebro e Ciência (Lisboa, Ed.70, 1984).




ÉTICA – (Ética e Moral têm o mesmo significado. ETHOS , termo grego que significa Costumes, Carácter . Moral tem a sua origem etimológica no termo latino Mores, que também significa Costumes.)

METAÉTICA: Qual é a natureza dos juízos morais e qual a metodologia que lhes está subjacente? O que significa “BEM”? Porque razão devemos ser morais?

ÉTICA: Quais os princípios segundo os quais devemos viver?
O que faz uma acção ser boa ou má? As acções são boas por si ou em função das coisas que pretendem atingir? É defensável ser egoísta?
.
“A falta de respeito na nossa sociedade tem uma causa simples: o respeito já não é ensinado. As crianças são encorajadas a pensar que estão em pé de igualdade com os seus pais, professores ou outras autoridades. Não são ensinadas a dirigir-se aos adultos correctamente ou a ter deferência pela sua opinião. A insolência raramente é punida e não é claramente conferido à insolência o estigma que ela merece. O parque infantil sem respeito conduz à comunidade adulta sem respeito. Isso vê-se especialmente na [televisão], onde os noticiários, os debates ou entrevistas são conduzidas sem deferência pelo conhecimento, cultura ou estatuto social das pessoas que neles intervêm. O objectivo de entrevistar uma figura pública não é o de obter instrução, mas o de a apanhar em falso; o propósito de discutir qualquer questão difícil não é o de resolvê-la, mas o de gerar uma interlocução acesa. Notas pessoais ou argumentos ad hominem são perfeitamente permissíveis e os títulos que conduzem normalmente ao respeito, como o conhecimento, competência e cargos importantes, são deliberadamente rebaixados a fim de os tornar risíveis.”
Roger Scruton,


Para alguns ser bom significará ser resignado e paciente, mas outros chamarão boa à pessoa empreendedora, original, que não se encolhe quando chega a hora de dizer o que pensa ainda que isso possa ferir alguém. Em países como a África do Sul, por exemplo, alguns considerarão bom o negro que não causa problemas e se conforma com o apartheid, ao passo que outros só chamarão bons aos apaniguados de Nelson Mandela. E sabes porque é que não é simples dizer quando é que um ser humano é "bom" e quando é que não o é? Porque não sabemos para que servem os seres humanos.
Fernando Savater, Ética para um jovem


Epistemologia – Teoria do Conhecimento (Episteme, termo grego que significa ciência, conhecimento + Logos, termo grego que significa verdade, discurso, razão)
Questões: Será que conhecemos alguma coisa? Como poderemos ter a certeza que o nosso conhecimento é verdadeiro? Será possível o conhecimento? O que é conhecer algo?

Poderá o conhecimento de que Deus existe fornecer a ponte necessária entre a experiência e a realidade -entre os nossos estados mentais subjectivos e o mundo exterior? Talvez. Mas só se soubermos que Deus existe. Muitas pessoas pensam que sabem que Deus existe. Mas podem estar enganadas -mesmo que Deus exista de facto. (...) a sua crença verdadeira pode não estar baseada em provas adequadas, mas antes em considerações irrelevantes. Para que uma crença seja conhecimento, tem não apenas de ser verdadeira mas também de satisfazer uma condição complementar. Um candidato plausível a tal condição é o facto de a crença ter de estar baseada em provas adequadas.

Daniel Kolak e Raymond Martin, Sabedoria sem respostas

(…) a indagação autêntica pressupõe que a verdade conta; que é verdade que há uma verdade naquilo que estamos a investigar, mesmo se acontece não conseguirmos encontrá-la. Talvez a próxima geração o consiga, ou duas, três ou dez mais adiante; ou apenas alguém mais apto do que nós. Porém, se a nossa indagação é uma indagação genuína e não apenas a um jogo arbitrário inconsequente é porque pensamos que há algo para encontrar. Gostamos de jogos, mas gostamos também da indagação genuína. É por isso que a verdade conta.
Ophelia Benson, Jeremy Stangroom, Why Truth Matters







“Os males do mundo devem-se tanto a deficiências morais quanto à falta de inteligência. Mas a humanidade não descobriu até agora qualquer método para erradicar as deficiências morais (…). A Inteligência, pelo contrário, é facilmente aperfeiçoada através de métodos que todos os educadores competentes conhecem. Logo, até que se descubra um método para ensinar a virtude, o progresso terá de ser alcançado através do aperfeiçoamento da Inteligência, e não da moral.”

Bertrand Russell


LÓGICA – A Lógica estuda a argumentação. Clarifica os termos e as expressões que utilizamos com sentidos ambíguos.

Texto de Lewis Carroll:

- Por quem passaste na estrada? – Continuou o Rei, estendendo a mão para o Mensageiro para lhe dar mais algum feno.
- Por ninguém – disse o Mensageiro.
- Exactamente – disse o Rei. – Esta rapariga também o viu. Portanto é certo que Ninguém anda mais devagar do que tu.
- Faço o meu melhor – disse o Mensageiro num tom mal-humorado. - Tenho a certeza de que ninguém anda muito mais depressa do que eu!
- Ele não o pode fazer – disse o Rei -, senão teria chegado cá primeiro.

Princípios lógicos:

IDENTIDADE: Cada coisa é o que é.
NÃO CONTRADIÇÃO: Cada coisa é o que é. Não pode ser o que é e não ser simultaneamente.
TERCEIRO EXCLUÌDO: Uma coisa ou é ou não é, não há terceira hipótese.

ESTÉTICA: TEM origem no termo grego Eisthesis, sensação.

O que é a Beleza? Qual o valor de um juízo de gosto? Os Juízos de Gosto são Subjectivos ou Objectivos? Qual o valor da Arte? Como avaliar o que é Arte e o que não é Arte? Poderá a Arte ser imoral?

“Quer suscite contemplação, quer induza o desejo, a beleza humana é vista em termos pessoais. Ela reside especialmente naqueles traços – a face, os olhos, os lábios, as mãos – que atraem o nosso olhar no curso das relações pessoais, através das quais nos relacionamos entre nós, eu a eu. Apesar das modas no que toca à beleza humana, e apesar de o corpo ser embelezado de diferentes maneiras em diferentes culturas, os olhos, a boca e as mãos têm um poder de atracção universal, pois é por estes traços que a alma do outro brilha para nós e se deixa conhecer.

Roger Scruton, Beauty

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pensamento Consequente, isto é, logicaamente estruturado.

O pensamento filosófico é consequente

Problemas, teorias e argumentos.
As teorias tentam analisar e propõem hipóteses para a resolução dos problemas.
As teses que propõem são hipóteses para consideração e discussão e dão argumentos para fortalecer estas hipóteses.

Assim no caso já conhecido de Platão:
O problema: o que é real? Esta caneta é real?
Argumento: Não, não pode ser, porque esta caneta é agora, mas deixa de ser, a ideia de caneta permanece. Logo (TESE PRÍNCIPIO) é real o que não muda, o que não deixa de ser, logo (TESE FIM)a ideia e real e o objecto sensível não.

Para compreender as partes discursivas do texto é necessário saber que:

Compõe-se de CONCEITOS, JUÍZOS E RACIOCÍOCINIOS


CONCEITOS OU TERMOS: São ideias, referem os elementos de uma classe e significam o que há de comum a todos os elementos dessa classe. O termo é o signo linguístico que expressa o conceito.
Exemplo:Cadeira, guarda-chuva, Jogador do belenenses.

JUÍZO OU PROPOSIÇÃO: exprime um pensamento, uma opinião, uma crença. É uma frase declarativa com valor de verdade, isto é pode ser verdadeira ou falsa.
Exemplo: O regime político português é uma democracia.

RACIOCÌNIO OU ARGUMENTO: É uma forma de pensar
que retira de conhecimentos dados, outros conhecimentos novos e assim faz progredir o conhecimento. Conjunto de proposições organizadas (premissas)de modo a apoiar e justificar uma determinada conclusão.
  1. As três partes da Alegoria da Caverna:


    1º Discrição do mundo da caverna – o mundo sensível
    Os prisioneiros representam a condição humana presa a ilusões e preconceitos. Agrilhoados ao corpo e às suas paixões.

  2. 2º Um dos prisioneiros consegue fugir e habitua-se progressivamente à luz e vê os objectos concretos. Começa por ver reflexos mas depois por etapas pode ver tudo, incluindo a origem da luz que é o próprio SOL (BEM). O Bem é a Verdade , Beleza e Proporção de todas as coisas.

    3ª Parte: O Homem depois de se ter libertado, volta à caverna para libertar os outros, mas os outros não acreditam, presos ao hábito e incapazes de pensarem para além dele, matarão o libertador.



    2. Problemas colocados pela Alegoria da Caverna:



    O que é a realidade? Qual a verdadeira realidade? Como podemos compreendê-la? Em que consiste o verdadeiro conhecimento? Como ultrapassar as diversas opiniões?


    Rexto complementar. Hipótese de resposta:

  3. Mas porque faço estas distinções? Para ver se com um princípio único e idêntico, que está em nós, apreendemos por meio dos olhos o branco e o preto, e por meio dos outros órgãos dos sentidos, outras qualidades, e, se , interrogado puderes atribuir estas percepções ao corpo…Se pensares algo sobre ambos ( o ouvido e a vista não o pensarás certamente por meio de algum dos dois órgãos, e nem mesmo sentirás por meio de um deles o que pertence a ambos…

    Ora, todas estas coisas em torno destes dois objectos, por meio de que as pensas? … Queres dizer o ser e o não-ser, a semelhança e a diferença, o idêntico e o diverso…parece-me que não há para estas coisas nenhum órgão especial como para aquelas, mas a própria alma, por si mesma, parece-me que contempla o que é comum a todas as coisas.”

    Platão, Teeteto