domingo, 23 de abril de 2023

Resumo Diana Teixeira 10I

 


Fotografia, Alex Webb

" As teorias éticas baseadas no dever sublinham que cada um de nós tem certos deveres – ações que devemos executar ou não – e que agir moralmente é equivalente a cumprir o nosso dever, sejam quais forem as consequências que daqui surgirem. É esta ideia – a de que algumas ações são absolutamente boas ou más independentemente dos resultados a que derem origem – que distingue as teorias éticas baseadas nos deveres ( também conhecidas por deontológicas ) das teorias éticas consequencialistas. [...] duas teorias baseadas no dever são a ética cristã e a ética kantiana ( do filósofo Immanuel Kant ).
[...]
O termo "consequencialismo" é usado para descrever teorias éticas que ajuízam da retidão ou não de uma ação, não através das intenções do autor da ação como as deontológicas, mas antes através das consequências das suas ações. Enquanto Kant afirmaria que dizer uma mentira é sempre errado, sejam quais forem as possíveis benefícios que daí possam resultar, um consequencialista julgaria o ato de mentir através dos seus resultados efetivos ou previstos. O utilitarismo é o tipo mais bem conhecido de teoria ética consequencialista. O seu mais famoso representante foi John Stuart Mill [...] ."

Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Texto para resumo Xavier 10A, Amim 10I

 

Será que os dilemas morais proporcionam uma maneira de escolher teorias morais rivais?

Os dilemas morais parecem oferecer uma maneira de testar duas das teorias morais mais importantes: o utilitarismo e o absolutismo moral. Quando falo de “absolutistas morais” refiro-me àqueles que defendem que há pelo menos uma regra moral simples e que não admite exceções, como “é sempre errado matar pessoas inocentes/quebrar promessas/dizer mentiras, etc”. Os utilitaristas rejeitam regras como estas, defendendo que podem haver circunstâncias em que infringir a regra é a única maneira de minimizar as más consequências, isto é, de evitar um mal maior. Numa forma de dilema muito discutida, um agente moral, A, encontra-se numa situação em que, se matar uma de vinte pessoas inocentes que estão prestes a ser executadas, fará com que as restantes dezanove sejam libertadas. Por outro lado, se A se recusar fazer isso, o seu captor matará todas as vintes pessoas. Chamarei a isto o dilema de Williams, pois Bernard Williams elabora-o e discute-o em Utilitarianism: For and Against (Cambridge University Press, 1973), p. 98.

Tanto os utilitaristas como os absolutistas morais parecem ficar satisfeitos quando discutem este dilema e defendem que o tratamento que lhes dão é mais convincente do que o dos seus oponentes. Para o utilitarista, a discussão proporciona uma oportunidade para mostrar que, mesmo em situações de dilema, o raciocínio moral permanece possível. Pode-se considerar as consequências: não é seguramente melhor que morra um em vez de vinte? Deste modo, defende o utilitarista, por muito difíceis que sejam as circunstâncias podemos chegar a uma resposta ponderada considerando os factos. Por outro lado, segundo o absolutista os dilemas ilustram a natureza simplista do utilitarismo. Certamente os agentes morais sérios agonizam perante uma situação tão trágica como a que o dilema de Williams envolve. No entanto, se acreditarmos no utilitarista, tudo o que estes precisam de fazer é contar cabeças. Não há qualquer razão para agonizar. O absolutista conclui que o utilitarismo não é uma teoria moral para agentes morais sérios, pois não pode acomodar valores morais cruciais, como a justiça e a integridade.

Assim, é fácil ver por que razão a discussão do dilema é atraente tanto para os absolutistas como para os utilitaristas. Ela permite que o absolutista nos faça perceber a complexidade da ética e conclua que é inútil procurar um princípio moral fundamental que permita resolver todos os dilemas morais. O utilitarista, pelo contrário, espera que a superioridade racional do utilitarismo se torne manifesta na discussão. Como pode a morte de vinte ser melhor do que a morte de um? Qual é o interesse de aderirmos a proibições absolutas se, ao fazermos isso, produzimos um resultado pior do que aquele que seria necessário? A “profundidade” do absolutismo não será, afinal, confusão e irracionalidade?

Gerry Wallace

Cogito.





quarta-feira, 19 de abril de 2023

Texto para resumo António 10I Pedro 10A

A defesa de Mill do princípio da maior felicidade

A prova de Mill do Princípio da Maior Felicidade consiste num argumento que parte da analogia entre visibilidade e desiderabilidade. Podemos reconstruí-lo da seguinte maneira:
  1. Ver uma coisa prova que ela é visível.
  2. Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.A seguir a esta conclusão afirma-se:
  3. A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.
  4. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade.Da conclusão afirmada em 4 resulta uma outra:
  5. Logo, cada pessoa deve realizar as acções que promovem a maior felicidade.
Que avaliação podemos fazer deste argumento? Desde logo, é provável que vejas o seguinte problema: 1 não é uma razão para aceitar 2; se podes ver uma coisa, isso significa que ela é visível; mas se podes desejar uma coisa, isso não significa que ela seja desejável, isto é, que deva ser desejada. Por que razão a analogia não resulta? Porque o conceito de visibilidade é um conceito descritivo enquanto o conceito de desiderabilidade é um conceito normativo.
Vejamos agora a premissa 3. Trata-se de uma premissa falsa ou pelo menos bastante duvidosa. Dizer que a felicidade é o fim último de cada pessoa significa que tudo o que as pessoas desejam é um meio para assegurar esse fim. Se desejares que as crianças sujeitas a maus-tratos recebam amor e protecção, Mill diz que queres isto como um meio para assegurar a tua felicidade. Mas a verdade é que o bem-estar dos outros tem uma importância que não depende da importância que dás à tua felicidade. Como ninguém pode negar que muitas pessoas têm preferências deste tipo, a premissa 3 é falsa. Por outro lado, pessoas deprimidas parecem por vezes não desejar a sua própria felicidade.

Faustino Vaz, 
Retirado DAQUI