sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Ficha 5. Liberdade ou necessidade?


Leia este texto acerca da forma como este personagem parece não tomar qualquer decisão, a sua ação é apenas uma reação,sem alternativa. O seu comportamento parece ser totalmente causado e pode ser explicado por acontecimentos anteriores.

“Tomei um banho e vesti-me. Encontrei umas garrafas vazias e arranjei umas moedas por elas no armazém. Encontrei um bar na Avenida, entrei e pedi um copo. Havia um grande número de bêbados por ali, brincando com a jukebox, falando aos gritos e rindo. De quando em quando, um copo novo aparecia na minha frente. Alguém estava a pagar. Eu bebia. Comecei a falar com as pessoas. [...] Acordei muito mais tarde num reservado ao fundo do bar. Levantei-me e olhei em redor. Todos se tinham ido embora. O relógio marcava 3h15. Tentei a porta, estava trancada. Cruzei o balcão do bar e peguei numa garrafa de cerveja, abri-a, voltei a sentar-me. Depois voltei lá e tirei.. umas batatas [...] Bebi até às cinco da manhã. Depois arrumei o bar, lancei o lixo fora, fui até a porta, tentei sair. Ao chegar à rua, vi que uma viatura da polícia se aproximava. Guiavam devagar na cola dos meus passos. Depois de um quarteirão, estacionaram um pouco mais à frente de onde eu estava. Um dos policias pôs a cabeça para fora da janela. – Ei, parceiro! O foco das suas lanternas estava apontado ao meu rosto. – O que estás a fazer? – A ir pra casa. – Moras aqui perto? – Sim. – Onde? – Avenida Longwood, 2122. [...] – Entra. Obedeci. – Diz-nos onde. Levaram-me a casa. – Agora, toca à campainha. [...] – Estás completamente bêbado! – gritou meu pai. – Sim. [...] – Bêbado! O meu filho é um bêbado. O meu filho é um bêbado maldito, um desgraçado! Os cabelos na cabeça do meu pai erguiam-se em tufos desordenados. As suas sobrancelhas estavam eriçadas, a sua cara inchada e turva pelo sono. – Você age como se eu tivesse matado alguém. – É praticamente a mesma coisa! – Oooh, ... Subitamente vomitei no tapete persa que representava a Árvore da Vida. A minha mãe gritou. O meu pai avançou na minha direção.– Sabes o que fazemos com um cão que suja tapete? – Agarrou-me pela nuca. Empurrou-me para baixo, forçando-me a dobrar a coluna. Queria pôr-me de joelhos. – Vou-te ensinar. – Não... O meu rosto estava quase a roçar aquilo. – Vou-te mostrar como fazemos com os cães! Ergui-me do chão com o soco pronto. Um golpe perfeito. Ele retrocedeu a toda a distância da porta até ao sofá, onde caiu sentado. [...] [...] Fui para o meu quarto pensando que o melhor era arranjar um emprego.”

( Factótun, Charles Bukowski, L&PM Pocket, p. 21-24).
Exercício:
Grupo I
1.     O que fez com que Henry Chinaski (nome do personagem) tomasse a decisão de arranjar um emprego?
2.     Poderíamos dizer que foi definitivo para que Henry tomasse a decisão?
3.      De acordo com o seguinte argumento abaixo, responda se acha possível que toda ação humana seja causada e, ainda assim, que sejamos livres. Justifique sua resposta.
a. Todo o acontecimento tem uma causa.
b. As ações humanas são acontecimentos.
c. Portanto, todas as ações humanas são causadas.
d. As ações humanas só são livres quando não são causadas.
e. Portanto, as ações humanas não são livres.

Grupo II

Liberdade e Necessidade A. J. Ayer “[…] Do fato de o meu comportamento poder ser explicado, no sentido em que pode ser subsumido sob uma lei da natureza, não se segue que estou a agir sob coação. Se isto for correto, dizer que eu poderia ter agido de outra maneira é dizer, primeiro, que eu teria agido de outra maneira se assim o tivesse escolhido; segundo, que a minha ação foi voluntária no sentido em que as ações, digamos, de um cleptomaníaco não o são; e, em terceiro lugar, que ninguém me obrigou a escolher o que escolhi. E estas três condições podem muito bem ser respeitadas. E quando o são pode-se dizer que agi livremente. Mas isto não significa que agir como agi foi uma questão de acaso ou, por outras palavras, que a minha ação não poderia ser explicada. E que as minhas ações possam ser explicadas é tudo o que é exigido pelo postulado do determinismo.”
(Liberdade e Necessidade, A. J. Ayer, 
Exercício:
1.     A decisão de Henry de arranjar um emprego pode ser explicada?
2.     Se sim, você acha que isso é suficiente para dizer que sua escolha foi determinada? Justifique.
3.     Levando em consideração as condições explicitadas por Ayer, poderíamos dizer que a escolha de Henry é livre? Por quê?


Compatibilismo