Quadro de Pissaro
A teoria que estou a
defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da
"subjetividade" dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que,
se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não
um desacordo quanto a qualquer género de verdade. Quando um homem diz "As ostras
são boas" e outro diz "Eu acho que são más" , reconhecemos que
nada há para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências
de valores são deste género, embora pensemos naturalmente que não o são quando
estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que as das
ostras. A razão principal para adotar esta perspetiva é a completa
impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo
tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este respeito, poderíamos
defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos provar a um
daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe
provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens
tem. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e
aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se
pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de
valores, temos de chegar à conclusão de que a divergência é apenas de gostos e
não se dá ao nível de qualquer verdade objetiva.
Bertrand Russell, Ciência e Ética, 1935. Tradução
de Paula Mateus
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