sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Resumo Jadzia 10B

 


"Um rio serpenteia por vales íngremes e verdejantes e por desfiladeiros rochosos em direção ao mar. A Comissão Hidroeléctrica nacional encara a água que corre livremente como energia desperdiçada. A construção de uma barragem num dos desfiladeiros proporcionaria três anos de emprego a mil pessoas e emprego permanente a vinte ou trinta pessoas. A barragem acumularia água suficiente para assegurar que, economicamente, o país seria capaz de satisfazer as suas necessidades energéticas durante a década seguinte. Isso encorajaria o estabelecimento, no país, de indústrias que fazem um uso intensivo de energia, o que contribuiria ainda mais para o crescimento económico e para a criação de empregos.


O terreno acidentado do vale do rio só é acessível aos que estão em boa forma, mas ainda assim este é um local predilecto para quem gosta de passear no bosque. O próprio rio atrai os praticantes de desportos náuticos mais ousados. No coração dos vales abrigados, encontram-se manchas de uma espécie rara de pinheiro, constituídas por árvores com milhares de anos de idade. Os vales e os desfiladeiros são habitados por muitas aves e animais, incluindo uma espécie rara de rato-marsupial que só existe noutra região da Austrália. Podem também existir outras plantas e animais raros, mas isso ninguém sabe, já que os cientistas têm ainda que investigar a região exaustivamente.


Será que se deve construir a barragem?"

Peter Singer, Escritos sobre uma vida ética, 
D. Quixote, 2008, Lisboa, pp.103.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Texto para resumo Francisco 10B


TEXTOS FUNDAMENTAIS 1 - Valor intrínseco e valor instrumental

Ora, nós chamamos aquilo que merece ser buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que merece ser buscado com vista a outra coisa, e aquilo que nunca é desejável no interesse de outra coisa mais absoluto do que as coisas desejáveis tanto em si mesmas como no interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa.
Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e nunca com vistas em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a todas as virtudes nós de fato escolhemos por si mesmos (pois, ainda que nada resultasse daí, continuaríamos a escolher cada um deles); mas também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. A felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer coisa que não seja ela própria.”
(…)
Ora, na maioria dos homens os prazeres estão em conflito uns com os outros porque não são aprazíveis por natureza, mas os amantes do que é nobre se comprazem em coisas que têm aquela qualidade; tal é o caso dos atos virtuosos, que não apenas são aprazíveis a esses homens, mas em si mesmos e por sua própria natureza. Em consequência, a vida deles não necessita do prazer como uma espécie de encanto adventício, mas possui o prazer em si mesma. Pois que, além do que já dissemos, o homem que não se regozija com as ações nobres não é sequer bom; e ninguém chamaria de justo o que não se compraz em agir com justiça, nem liberal o que não experimenta prazer nas ações liberais; e do mesmo modo em todos os outros casos. Sendo assim, as ações virtuosas devem ser aprazíveis em si mesmas. Mas são, além disso, boas e nobres, e possuem no mais alto grau cada um destes atributos, porquanto o homem bom sabe aquilatá-los bem; sua capacidade de julgar é tal como a descrevemos. A felicidade é, pois, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não se acham separados como na inscrição de Delos:

 Das coisas a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; Mas a mais doce é alcançar o que amamos.
Com efeito, todos eles pertencem às mais excelentes atividades; e estas, ou então, uma delas — a melhor —, nós a identificamos com a felicidade. E no entanto, como dissemos, ela necessita igualmente dos bens exteriores; pois é impossível, ou pelo menos não é fácil, realizar atos nobres sem os devidos meios.

Aristóteles, Ética a Nicómaco,

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Resumo de texto Dário 10B

 


Quadro de  Pissaro

A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da "subjetividade" dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade. Quando um homem diz "As ostras são boas" e outro diz "Eu acho que são más" , reconhecemos que nada há para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências de valores são deste género, embora pensemos naturalmente que não o são quando estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que as das ostras. A razão principal para adotar esta perspetiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos provar a um daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens tem. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos de chegar à conclusão de que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objetiva.

 

Bertrand Russell, Ciência e Ética, 1935. Tradução de Paula Mateus