em vez de válidos e inválidos).A validade/força destes argumentos não depende da sua forma mas sim de outros critérios.
Tipos de argumentos não dedutivos: por indução (generalização e previsão), por analogia e de
autoridade.
Indução - generalização e previsão
Num argumento por generalização partimos de casos particulares para retirar uma conclusão geral:
Todos os A observados até agora são B. Logo, todos os A são B.
Exemplo: Todos os corvos observados até agora são pretos. Logo, todos os corvos são pretos.
Numa previsão partimos também de casos particulares para concluir sobre um caso futuro:
Todos os A observados até agora são B. Logo, o próximo A que vou observar será B.
Exemplo: Todos os corvos observados até agora são pretos. Logo, o próximo corvo que vir será preto.
Para que estes argumentos sejam válidos/fortes é necessário ter em conta três critérios:
O número de casos observados tem de ser relevante e não podem existir contraexemplos
depois de ativamente procurados.
Caso contrário incorremos numa falácia da generalização precipitada/apressada.
Exemplo: Concluir que os alemães são antipáticos depois de se conhecer apenas três alemães
antipáticos.
Os casos observados têm de representar adequadamente o universo em causa.
Caso contrário incorremos numa falácia da amostra não representativa. Exemplo: concluo que
todos os alunos da escola secundária Luís Freitas Branco são bons alunos depois de conhecer
apenas os alunos de quadro de honra.
Os alunos do quadro de honra não representam adequadamente todos os alunos da escola.
Não pode haver informação de fundo que ponha em causa a validade do argumento.
Exemplo: Uma pessoa que conclui que o Sol irá brilhar para sempre porque até agora sempre
brilhou não está a considerar o conhecimento científico de fundo de que todas as estrelas nascem
e morrem.
Argumento por analogia
Estes argumentos baseiam-se na semelhança (ou analogia) entre coisas diferentes.
Se duas coisas são semelhantes em vários aspetos relevantes então serão também semelhantes
noutro aspeto ainda não considerado:
Os A têm as proriedades u, v, x, y.
Os B, tal como os A, têm as propriedades u, v, x, y.
Os A têm ainda a propriedade z.
Logo, os B têm também a propriedade z.
Resumindo:
Os A são z. Os B são como os A.
Logo, os B são z.
Exemplo: O João tem febre, dores de cabeça, dificuldade em respirar e tosse seca. A Ana também.
O João tem Covid. Logo, a Ana tem também Covid.
Há três critérios a ter em conta para avaliar um argumento por analogia:
As semelhanças têm de ser relevantes em relação à conclusão.
Caso contrário incorremos numa falácia da falsa analogia.
Exemplo: O João gosta de massa, salada, bolachas e batatas. A Ana também. O João tem Covid.
Logo, a Ana tem Covid. (Gostar de massa, salada, etc., não é relevante para saber se uma pessoa
tem ou não Covid).
É preciso que o número de semelhanças relevantes com respeito à conclusão seja suficiente.
Caso contrário incorremos, novamente, numa falácia da falsa analogia. Exemplo: O João tal como
a Ana tem tosse seca. O João tem Covid. Logo, a Ana tem Covid. (Não basta comparar um sintoma,
deste modo é mais provável que a conclusão seja falsa, a tosse seca pode ser causada por muitas
outras coisas).
É preciso que não existam diferenças relevantes com respeito à conclusão.
Caso contrário incorremos, novamente, numa falácia da falsa analogia. Exemplo: O João tem febre,
dores de cabeça, dificuldade em respirar e tosse seca. A Ana também. O João tem Covid. Logo, a
Ana tem também Covid. (Mas imaginemos que estamos a ignorar que a Ana fez o teste e deu negativo
- essa é uma informação relevante que devíamos ter tido em conta).
Argumentos de autoridade
Os argumentos de autoridade são usados principalmente para defender uma conclusão que não
estamos habilitados a provar. Nesses casos invocamos uma autoridade com
competências/conhecimentos sobre o assunto em causa. Esta autoridade pode ser um cientista,
académico, uma testemunha. Muito do nosso conhecimento advém por esta via - através de
especialistas/testemunhas - e tem esta forma: Uma autoridade/especialista/testemunha afirmou
que P. Logo, P.
Exemplo: A Direção Geral da Saúde diz (nos seus comunicados oficiais) que devemos usar máscara
de modo a evitar propagar o coronavírus. Logo, devemos utilizar uma máscara para evitar propagar
o coronavírus.
Tal como nas outras formas argumentativas existem critérios que temos de ter em conta quando
avaliamos um argumento de autoridade:
Deve-se indicar o nome da autoridade e a fonte em que defende tal ideia.
É necessário referir os nomes das autoridades que estamos a invocar e os locais onde vem expressa
a ideia que dizemos que elas defendem.
Caso contrário podemos incorrer numa falácia do apelo à autoridade. Exemplo: há cientistas que
dizem que existe matéria negra. Logo, existe matéria negra. (Que cientistas? Onde dizem isso?)
A autoridade invocada tem de ser uma autoridade na área.
Não posso invocar uma autoridade que não tenha qualquer competência para avaliar o assunto em
causa.
Exemplo: A Cristina Ferreira disse, no seu programa, que devemos usar máscara para não propagar
o coronavírus. Logo, devemos realmente usar máscara. (Mas que credenciais tem a Cristina Ferreira
para aconselhar tal coisa? É médica? Biólogia? Imunologista?)
Mais uma vez incorremos numa falácia do apelo à autoridade.
Deve haver consenso entre as autoridades da área.
Não pode haver grandes divergências de opinião entre especialistas da mesma área. Imaginemos, por
exemplo, que não havia um consenso científico sobre o facto da terra ser redonda e alguém invocava
um ou outro cientista para defender a conclusão de que a terra é redonda, ignorando todos os outros
que disputam justificadamente essa conclusão.
Estariamos novamente perante uma falácia do apelo à autoridade.
A autoridade invocada deve ser imparcial.
Por exemplo, um cientista pago por uma empresa de tabaco publica um estudo a defender que fumar
não provoca cancro. Alguém que cite este estudo de modo a defender que fumar não provoca cancro
incorre numa falácia de apelo à autoridade. Isto porque o cientista que escreveu tal estudo está num
claro conflito de interesses (não é imparcial), visto que é pago pela empresa de tabaco.
Outras falácias informais
Ad Populum (apelo à popularidade, à opinião popular)
Esta falácia consiste em apelar à popularidade de uma certa opinião de modo a concluir que essa
opinião é verdadeira: A maioria da pessoas pensa que X é verdadeiro (ou falso). Logo, X é verdadeiro
(ou falso).
Exemplo: A maioria das pessoas acredita que Deus existe. Logo, Deus existe.
O problema reside no facto de que não basta haver muita gente a acreditar numa coisa para que ela
seja verdadeira. Em tempos a maioria das pessoas acreditava que o Sol girava à volta da Terra, por
exemplo.
Ad Hominem (ataque pessoal)
Esta falácia consiste em atacar o carácter da pessoa com quem se está a discutir em vez dos seus
argumentos: Pessoa X acredita em Y. Pessoa X não é credível (por alguma razão). Logo, Y é falso.
Exemplo: O Zé acredita que a Terra é redonda. Mas o Zé é má pessoa. Logo, é falso que a Terra é
redonda.
Neste caso o facto de o Zé ser má pessoa não tem qualquer relação com o facto de a Terra ser ou
não redonda.
Contudo, por vezes é legítimo atacar a credibilidade de alguém. Por exemplo, se um candidato a
gestor de uma empresa já desviou fundos de empresas em que trabalhou no passado, é legítimo
apontar esse facto, visto que é relevante para o caso em questão.
Petição de Princípio/Falácia da circularidade
Esta falácia acontece quando se assume a verdade da conclusão nas premissas de que se parte.
Exemplo: Tudo o que a Bíblia diz é verdade porque foi escrita por inspiração divina. A Bíblia diz que
Deus existe. Logo, Deus existe.
Quando dizemos que a Bíblia é escrita por inspiração divina estamos já a assumir que Deus existe.
Falso Dilema
Esta falácia acontece quando se apresentam apenas duas opções, negando uma delas, de modo a
dizer que a outra tem de ser verdadeira. O que faz disto falacioso é o facto de a situação em causa
não ter apenas duas opções de escolha possíveis.
Exemplo: Ou estás comigo ou estás contra mim. Não estás comigo. Logo, estás contra mim.
O problema é que eu posso não estar com a pessoa e simultaneamente não estar contra ela. Posso
discordar com alguém sem estar contra a pessoa e tudo aquilo que defende.
Derrapagem (Bola de Neve)
A falácia da derrapagem assenta numa forma argumentativa válida. P então Q; Q então R; R então S;
Logo, P então S.
O problema está no conteúdo das várias condicionais. Cada uma delas tem alguma probabilidade de
ser falsa, essa probabilidade vai-se acumulando de modo que a conclusão se torna muito pouco
provável de se seguir das premissas.
Exemplo: Se não tiveres vinte no próximo teste não tens vinte no final do período. Se não tiveres vinte
no final do período não terás vinte no final do ano. Se não tiveres vinte no final do ano não vais arranjar
emprego e vais morrer à fome. Logo, não podes ter menos de vinte no próximo teste senão morres à
fome.
O argumento é falacioso. Cada condicional isolada poderá ter alguma probabilidade de ser verdade.
Mas todas elas juntas levam a uma conclusão muito provavelmente falsa.
A falácia reside no facto de se rejeitar algo com base nas consequências que se pensa que isso vai
trazer - mas o modo como se determinam essas consequências baseia-se numa longa cadeia de
implicações pouco provável de se verificar.
Boneco de Palha (Espantalho)
Esta falácia ocorre sempre que caricaturamos ou distorcemos a opinião do nosso adversário de modo
a torná-la mais fácil de derrubar ou fazê-la parecer falsa.
Exemplo: Eu defendo que não devemos comer carne de animais que sejam criados em condições
cruéis. Alguém diz: “Então queres que as pessoas só comam alface!”
Apelo à Ignorância
A falácia do apelo à ignorância é cometida quando dizemos, nas premissas, que não sabemos se uma
proposição é verdadeira, e daí concluímos que ela é falsa ou vice-versa: Não se sabe se X é verdade.
Logo, X é falso. (ou vice-versa)
Exemplo: Ninguém provou que não há vida depois da morte. Logo, há vida depois da morte. Ninguém
provou que aquele medicamento funciona. Logo, ele não funciona.
Falsa Relação Causal
Também chamada post hoc, nesta falácia assume-se que por algo vir depois de outra coisa/evento,
esse algo é causado por aquilo que vem antes. Dizemos que X causa Y só porque Y aparece depois
de X.
Exemplo: Sempre que acordo, o Sol está a brilhar. Logo, o Sol brilha porque eu acordo.