sábado, 28 de novembro de 2020

Texto para resumo Diogo Almeida 10ºB

 



“Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedras? Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter a couraça de quitina que protege outros insetos, o formigueiro serve-lhes de carapaça coletiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa de uma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir, as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afetada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas-soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto as ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada… mas fecham-na deixando de fora as pobres e heroicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas-soldado pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes? Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme fora das muralhas da sua cidade Aquiles, o enfurecido campeão dos Aqueus, embora sabendo que Aquiles é mais forte do que ele e que vai provavelmente matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém dúvida: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heroico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anónimas? Por que nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos? Qual a diferença entre um e outro caso? Muito simplesmente, a diferença assenta no facto de as térmitas-soldado lutarem e morrerem porque têm de o fazer, sem que possam evitá-lo (como a aranha come a mosca). Heitor, pelo seu lado, sai para enfrentar Aquiles porque quer. As térmitas-soldado não podem desertar, nem se revoltar, nem fazer cera para que outras vão em seu lugar: estão programadas necessariamente pela natureza para cumprir a sua heroica missão. O caso de Heitor é distinto. Poderia dizer que está doente ou que não tem vontade de se bater com alguém mais forte do que ele. Talvez os seus concidadãos lhe chamassem cobarde e o considerassem insensível ou talvez lhe perguntassem que outro plano via ele para deter Aquiles, mas é indubitável que Heitor tem a possibilidade de se recusar a ser herói. Por muita pressão que os restantes exercessem sobre ele, ele teria sempre maneira de escapar daquilo que se supõe que deve fazer: não está programado para ser herói, nem o está seja que homem for. Daí que o seu gesto tenha mérito e que Homero nos conte a sua história com uma emoção épica. Ao contrário das térmitas, dizemos que Heitor é livre, e por isso admiramos a sua coragem”.

Fernando Savater, Ética para um Jovem, Editorial Presença, 7ª ed., 2000, pp. 24, 25.




quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Texto para resumo Dário Barros 10ºB


"Supõe que estás na fila de uma cantina e que, quando chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa cobertura de natas. O bolo tem bom aspeto, mas sabes que engorda. Ainda assim, tiras o bolo e comê-lo com prazer. No dia seguinte vês-te ao espelho, ou pesas-te, e pensas: ‘Quem me dera não ter comido o bolo de chocolate. Podia ter comido antes o pêssego’.

Havia pêssegos quando estavas na fila da cantina: e tiveste oportunidade de ter tirado antes um pêssego. Mas não é apenas isso que queres dizer. Queres dizer que podias ter tirado o pêssego em vez do bolo. Podias ter feito algo diferente daquilo que realmente fizeste. Antes de te teres decidido, estava em aberto se havias de tirar fruta ou bolo, e foi apenas a tua escolha que decidiu qual dos dois havias de comer.

Quando afirmas “podia ter comido antes o pêssego”, queres dizer que isso dependia apenas da tua escolha?” Mas isto ainda não parece suficiente: Não queres apenas dizer que, se tivesses escolhido o pêssego, teria sido isso que terias comido. Quando dizes “podia ter comido antes o pêssego”, também queres dizer que podias tê-lo escolhido – não há aqui 'ses' nenhuns.

Mas que quer isto dizer?

Não pode ser explicado fazendo notar outras ocasiões em que de facto escolheste comer fruta. O que estás a dizer é que podias ter escolhido um pêssego em vez de bolo de chocolate naquele momento, tal como as coisas realmente eram. Pensas que podias ter escolhido um pêssego mesmo que todas as restantes coisas fossem exactamente da mesma maneira até ao momento em que de facto escolheste bolo de chocolate.

Esta é uma ideia de “pode” ou “poderia” que aplicamos só às pessoas (e talvez a alguns animais). Quando dizemos “o carro podia ter chegado ao cimo da colina”, queremos dizer que o carro tinha potência suficiente para chegar ao cimo da colina se alguém o tivesse conduzido até lá.

Até ao momento em que escolhes nada determina irrevogavelmente qual será a tua escolha. Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida." (…)

Thomas Nagel, O que quer dizer tudo isto? – Uma iniciação à Filosofia, Gradiva, 1995, pág. 45-46.


sábado, 21 de novembro de 2020

Texto para resumo Dinis 10B

 


"Resta-me falar dos argumentos de autoridade. Este tipo de argumento é principalmente utilizado quando queremos apresentar resultados que não são do domínio geral e que dependem de alguma forma de competência técnica ou de conhecimento especial. Nesses casos, nada melhor do que invocar o que os especialistas na matéria em causa afirmam. A sua forma costuma ser:

X afirma que P.
Logo, P.

Estes argumentos nem sempre são maus. Mas são frequentemente utilizados de forma abusiva. Eis um exemplo de um bom argumento de autoridade:

Carl Sagan diz que há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
Logo, há mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra.

Por que razão é este um bom argumento de autoridade? Porque obedece aos dois critérios seguintes:

  1. A autoridade invocada é reconhecida como tal pelos seus pares;
  2. os especialistas não divergem entre si.

São estes mesmos critérios que tornam falaciosos os argumentos de autoridade em filosofia. Como se sabe, seja qual for o assunto, os filósofos discordam entre si. Por isso, ainda que o critério 1 fosse satisfeito, o critério 2 nunca o seria. Utilizar argumentos de autoridade em filosofia é incorrer numa falácia: a falácia do apelo à autoridade. Contudo, quando, por exemplo, os filósofos enfrentam determinados problemas cuja discussão depende de informação científica disponível, não só podem mas devem apoiar-se naquilo que os especialistas nessa matéria dizem. Mas sempre com o cuidado de referir claramente quando e onde é que o especialista afirmou tal coisa.

Gostaria ainda de referir uma outra falácia que de alguma forma está relacionada com a autoridade de quem argumenta. Só que, neste caso, para a desvalorizar. Essa falácia é conhecida como ad hominem. Em vez de se discutir o argumento, critica-se a pessoa que o produz. Assim se procura combater as ideias atingindo as pessoas que as defendem. Atacar as pessoas em vez das suas ideias é uma falácia, infelizmente muito frequente. Na verdade, mesmo as piores pessoas do mundo podem utilizar bons argumentos. E os argumentos não são bons ou maus consoante as pessoas que os produzem."

Excerto de Aires Almeida, Lógica Informal, disponível em

https://criticanarede.com/filos_loginformal.html

 

domingo, 15 de novembro de 2020

Resumos Lógica Informal

A lógica informal estuda os argumentos não dedutivos - aqueles argumentos que, no caso de serem
válidos/fortes e terem as premissas verdadeiras garantem apenas que a conclusão é provavelmente 
verdadeira (aliás, é por isto que muitos autores preferem caracterizá-los como fortes ou fracos
em vez de válidos e inválidos).

A validade/força destes argumentos não depende da sua forma mas sim de outros critérios.


Tipos de argumentos não dedutivos: por indução (generalização e previsão), por analogia e de  

autoridade.


Indução - generalização e previsão


Num argumento por generalização partimos de casos particulares para retirar uma conclusão geral:

 Todos os A observados até agora são B. Logo, todos os A são B. 


Exemplo: Todos os corvos observados até agora são pretos. Logo, todos os corvos são pretos. 


Numa previsão partimos também de casos particulares para concluir sobre um caso futuro: 

Todos os A observados até agora são B. Logo, o próximo A que vou observar será B. 


Exemplo: Todos os corvos observados até agora são pretos. Logo, o próximo corvo que vir será preto. 


Para que estes argumentos sejam válidos/fortes é necessário ter em conta três critérios:


  1. O número de casos observados tem de ser relevante e não podem existir contraexemplos 

    depois de ativamente procurados.


Caso contrário incorremos numa falácia da generalização precipitada/apressada

Exemplo: Concluir que os alemães são antipáticos depois de se conhecer apenas três alemães 

antipáticos. 


  1. Os casos observados têm de representar adequadamente o universo em causa.


Caso contrário incorremos numa falácia da amostra não representativa. Exemplo: concluo que 

todos os alunos da escola secundária Luís Freitas Branco são bons alunos depois de conhecer 

apenas os alunos de quadro de honra.


Os alunos do quadro de honra não representam adequadamente todos os alunos da escola.


  1. Não pode haver informação de fundo que ponha em causa a validade do argumento.


Exemplo: Uma pessoa que conclui que o Sol irá brilhar para sempre porque até agora sempre 

brilhou não está a considerar o conhecimento científico de fundo de que todas as estrelas nascem 

e morrem.


Argumento por analogia


Estes argumentos baseiam-se na semelhança (ou analogia) entre coisas diferentes. 

Se duas coisas são semelhantes em vários aspetos relevantes então serão também semelhantes 

noutro aspeto ainda não considerado:


Os A têm as proriedades u, v, x, y. 

Os B, tal como os A, têm as propriedades u, v, x, y. 

Os A têm ainda a propriedade z. 

Logo, os B têm também a propriedade z.


Resumindo:


Os A são z. Os B são como os A. 

Logo, os B são z.


Exemplo: O João tem febre, dores de cabeça, dificuldade em respirar e tosse seca. A Ana também. 

O João tem Covid. Logo, a Ana tem também Covid.


Há três critérios a ter em conta para avaliar um argumento por analogia:


  1. As semelhanças têm de ser relevantes em relação à conclusão.


Caso contrário incorremos numa falácia da falsa analogia.


Exemplo: O João gosta de massa, salada, bolachas e batatas. A Ana também. O João tem Covid. 

Logo, a Ana tem Covid. (Gostar de massa, salada, etc., não é relevante para saber se uma pessoa 

tem ou não Covid).


  1. É preciso que o número de semelhanças relevantes com respeito à conclusão seja suficiente.


Caso contrário incorremos, novamente, numa falácia da falsa analogia. Exemplo: O João tal como 

a Ana tem tosse seca. O João tem Covid. Logo, a Ana tem Covid. (Não basta comparar um sintoma, 

deste modo é mais provável que a conclusão seja falsa, a tosse seca pode ser causada por muitas 

outras coisas).


  1. É preciso que não existam diferenças relevantes com respeito à conclusão.


Caso contrário incorremos, novamente, numa falácia da falsa analogia. Exemplo: O João tem febre, 

dores de cabeça, dificuldade em respirar e tosse seca. A Ana também. O João tem Covid. Logo, a 

Ana tem também Covid. (Mas imaginemos que estamos a ignorar que a Ana fez o teste e deu negativo 

- essa é uma informação relevante que devíamos ter tido em conta).


Argumentos de autoridade


Os argumentos de autoridade são usados principalmente para defender uma conclusão que não 

estamos habilitados a provar. Nesses casos invocamos uma autoridade com 

competências/conhecimentos sobre o assunto em causa. Esta autoridade pode ser um cientista, 

académico, uma testemunha. Muito do nosso conhecimento advém por esta via - através de 

especialistas/testemunhas - e tem esta forma: Uma autoridade/especialista/testemunha afirmou 

que P. Logo, P.


Exemplo: A Direção Geral da Saúde diz (nos seus comunicados oficiais) que devemos usar máscara 

de modo a evitar propagar o coronavírus. Logo, devemos utilizar uma máscara para evitar propagar 

o coronavírus. 


Tal como nas outras formas argumentativas existem critérios que temos de ter em conta quando 

avaliamos um argumento de autoridade:


  1. Deve-se indicar o nome da autoridade e a fonte em que defende tal ideia.


É necessário referir os nomes das autoridades que estamos a invocar e os locais onde vem expressa 

a ideia que dizemos que elas defendem.


Caso contrário podemos incorrer numa falácia do apelo à autoridade. Exemplo: há cientistas que 

dizem que existe matéria negra. Logo, existe matéria negra. (Que cientistas? Onde dizem isso?)


  1. A autoridade invocada tem de ser uma autoridade na área.


Não posso invocar uma autoridade que não tenha qualquer competência para avaliar o assunto em 

causa. 


Exemplo: A Cristina Ferreira disse, no seu programa, que devemos usar máscara para não propagar 

o coronavírus. Logo, devemos realmente usar máscara. (Mas que credenciais tem a Cristina Ferreira 

para aconselhar tal coisa? É médica? Biólogia? Imunologista?)


Mais uma vez incorremos numa falácia do apelo à autoridade.


  1. Deve haver consenso entre as autoridades da área.


Não pode haver grandes divergências de opinião entre especialistas da mesma área. Imaginemos, por 

exemplo, que não havia um consenso científico sobre o facto da terra ser redonda e alguém invocava 

um ou outro cientista para defender a conclusão de que a terra é redonda, ignorando todos os outros 

que disputam justificadamente essa conclusão.


Estariamos novamente perante uma falácia do apelo à autoridade.


  1. A autoridade invocada deve ser imparcial.


Por exemplo, um cientista pago por uma empresa de tabaco publica um estudo a defender que fumar 

não provoca cancro. Alguém que cite este estudo de modo a defender que fumar não provoca cancro 

incorre numa falácia de apelo à autoridade. Isto porque o cientista que escreveu tal estudo está num 

claro conflito de interesses (não é imparcial), visto que é pago pela empresa de tabaco. 


Outras falácias informais


Ad Populum (apelo à popularidade, à opinião popular)


Esta falácia consiste em apelar à popularidade de uma certa opinião de modo a concluir que essa 

opinião é verdadeira: A maioria da pessoas pensa que X é verdadeiro (ou falso). Logo, X é verdadeiro 

(ou falso).


Exemplo: A maioria das pessoas acredita que Deus existe. Logo, Deus existe.


O problema reside no facto de que não basta haver muita gente a acreditar numa coisa para que ela 

seja verdadeira. Em tempos a maioria das pessoas acreditava que o Sol girava à volta da Terra, por 

exemplo.


Ad Hominem (ataque pessoal)


Esta falácia consiste em atacar o carácter da pessoa com quem se está a discutir em vez dos seus 

argumentos: Pessoa X acredita em Y. Pessoa X não é credível (por alguma razão). Logo, Y é falso.


Exemplo: O Zé acredita que a Terra é redonda. Mas o Zé é má pessoa. Logo, é falso que a Terra é 

redonda.


Neste caso o facto de o Zé ser má pessoa não tem qualquer relação com o facto de a Terra ser ou 

não redonda.


Contudo, por vezes é legítimo atacar a credibilidade de alguém. Por exemplo, se um candidato a 

gestor de uma empresa já desviou fundos de empresas em que trabalhou no passado, é legítimo 

apontar esse facto, visto que é relevante para o caso em questão.


Petição de Princípio/Falácia da circularidade


Esta falácia acontece quando se assume a verdade da conclusão nas premissas de que se parte. 


Exemplo: Tudo o que a Bíblia diz é verdade porque foi escrita por inspiração divina. A Bíblia diz que 

Deus existe. Logo, Deus existe.


Quando dizemos que a Bíblia é escrita por inspiração divina estamos já a assumir que Deus existe.


Falso Dilema


Esta falácia acontece quando se apresentam apenas duas opções, negando uma delas, de modo a 

dizer que a outra tem de ser verdadeira. O que faz disto falacioso é o facto de a situação em causa 

não ter apenas duas opções de escolha possíveis.


Exemplo: Ou estás comigo ou estás contra mim. Não estás comigo. Logo, estás contra mim. 


O problema é que eu posso não estar com a pessoa e simultaneamente não estar contra ela. Posso 

discordar com alguém sem estar contra a pessoa e tudo aquilo que defende.


Derrapagem (Bola de Neve)


A falácia da derrapagem assenta numa forma argumentativa válida. P então Q; Q então R; R então S; 

Logo, P então S.


O problema está no conteúdo das várias condicionais. Cada uma delas tem alguma probabilidade de 

ser falsa, essa probabilidade vai-se acumulando de modo que a conclusão se torna muito pouco 

provável de se seguir das premissas.


Exemplo: Se não tiveres vinte no próximo teste não tens vinte no final do período. Se não tiveres vinte 

no final do período não terás vinte no final do ano. Se não tiveres vinte no final do ano não vais arranjar 

emprego e vais morrer à fome. Logo, não podes ter menos de vinte no próximo teste senão morres à 

fome.


O argumento é falacioso. Cada condicional isolada poderá ter alguma probabilidade de ser verdade. 

Mas todas elas juntas levam a uma conclusão muito provavelmente falsa. 

A falácia reside no facto de se rejeitar algo com base nas consequências que se pensa que isso vai 

trazer - mas o modo como se determinam essas consequências baseia-se numa longa cadeia de 

implicações pouco provável de se verificar.


Boneco de Palha (Espantalho)


Esta falácia ocorre sempre que caricaturamos ou distorcemos a opinião do nosso adversário de modo 

a torná-la mais fácil de derrubar ou fazê-la parecer falsa.


Exemplo: Eu defendo que não devemos comer carne de animais que sejam criados em condições 

cruéis. Alguém diz: “Então queres que as pessoas só comam alface!”


Apelo à Ignorância


A falácia do apelo à ignorância é cometida quando dizemos, nas premissas, que não sabemos se uma 

proposição é verdadeira, e daí concluímos que ela é falsa ou vice-versa: Não se sabe se X é verdade. 

Logo, X é falso. (ou vice-versa)


Exemplo: Ninguém provou que não há vida depois da morte. Logo, há vida depois da morte. Ninguém 

provou que aquele medicamento funciona. Logo, ele não funciona.


Falsa Relação Causal


Também chamada post hoc, nesta falácia assume-se que por algo vir depois de outra coisa/evento, 

esse algo é causado por aquilo que vem antes. Dizemos que X causa Y só porque Y aparece depois 

de X.


Exemplo: Sempre que acordo, o Sol está a brilhar. Logo, o Sol brilha porque eu acordo.

sábado, 14 de novembro de 2020

Texto para resumo Daniel 10ºB

 


"Se os argumentos dedutivos e por analogia são muito utilizados na filosofia, o mesmo já não acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como argumentos indutivos ou generalizações. Contudo, são os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opiniões das pessoas resulta de processos indutivos de raciocínio. É o que se verifica em afirmações comuns como “os alentejanos são preguiçosos”, “os alemães são racistas”, “todos os seres humanos morrem”, “o Sol vai nascer amanhã”, “as mulheres são mais sensíveis do que os homens”, etc. A forma dos argumentos indutivos é a seguinte:

Alguns A são B.
Logo, todos os A são B.

Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o número de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia lógica de que a conclusão seja verdadeira. Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusão falsa. Portanto, os argumentos indutivos, como já acontecia com os analógicos, não são válidos ou inválidos. Veja-se o seguinte exemplo:

Os cisnes observados até agora são brancos.
Logo, todos os cisnes são brancos.

Note-se que a premissa, ao referir todos “os cisnes observados até agora”, está a referir apenas alguns cisnes e não todos os que existem. Apesar disso, dificilmente diremos que não constitui uma boa razão para concluir que todos os cisnes são brancos. De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até então desconhecido (a Austrália) em que os cisnes são pretos. Bastava, aliás, que um só cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusão anterior. Mas será que alguém considera fraco o argumento seguinte?

Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.

É claro que este é um bom argumento. Não é logicamente impossível que a conclusão seja falsa. Mas é improvável. Assim, uma indução é forte se, e só se, for improvável, mas não logicamente impossível, que a sua conclusão seja falsa. Caso contrário a indução é fraca. Tudo depende, como é óbvio, da força com que as premissas apoiam a conclusão. Os argumentos indutivos não são, de resto, invulgares nas ciências empíricas. Algumas das descobertas científicas são o resultado de generalizações fortemente apoiadas em observações e experiências realizadas. O que não significa que essas generalizações não tenham de ser constantemente testadas pelos próprios cientistas. Uma vez que sabem que não é logicamente impossível que as suas conclusões sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observações, os cientistas procuram testá-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas. No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso não significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar é fazer generalizações apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso"

Excerto de Aires de Almeida, Lógica Informal, disponível em https://criticanarede.com/filos_loginformal.html 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Texto para resumo Carla 10ºB

 

"Os argumentos de que tenho falado até aqui são também conhecidos como argumentos dedutivos. O melhor que se pode dizer dos argumentos dedutivos é que se trata daquele tipo de argumentos cuja forma garante a verdade da conclusão, no caso de as premissas serem também verdadeiras. A sua forma lógica é, portanto, decisiva. O mesmo não se pode dizer de outros tipos de argumentos, residindo aí a diferença entre lógica formal e lógica informal. Para além dos argumentos dedutivos temos então os argumentos:

  • Por analogia
  • Indutivos (generalizações a partir de exemplos)
  • Sobre causas
  • De autoridade

Juntamente com os argumentos dedutivos, os argumentos por analogia são os mais utilizados pelos filósofos. Os argumentos por analogia costumam apresentar a seguinte forma:

Os x têm as propriedades A, B, C, D.
Os y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm também a propriedade E.

Podemos resumir e dizer:

Os x, como os y, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm a propriedade E.

Resumindo ainda mais:

Os x são E.
Os y são como os x.
Logo, os y são E.

Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes coisas são semelhantes em determinados aspectos, também o serão noutros. Veja-se o exemplo seguinte:

Os soldados de um batalhão têm de obedecer às decisões de um comandante para atingir os seus objectivos.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm de obedecer às decisões de um comandante (treinador) para atingir os seus objectivos.

O termo “como” na segunda premissa está destacado. Esse termo indica que estamos a estabelecer uma comparação entre situações análogas, característica dos argumentos por analogia. Mas será que apenas pela forma do argumento ficamos a saber se é aceitável ou não? Para tornar clara a resposta a esta pergunta, compare-se o argumento anterior com o seguinte:

Os soldados de um batalhão andam armados quando treinam.
Uma equipa de futebol é como um batalhão.
Logo, os jogadores de futebol andam armados quando treinam.

A primeira coisa que se torna evidente é que, ainda que o primeiro argumento possa ser aceitável, este último não o é com toda a certeza. Acontece, porém, que ambos exibem exactamente a mesma forma. Concluímos, assim, que a mera inspecção da sua forma não nos permite classificar os argumentos por analogia como bons ou maus. Portanto, a qualidade destes argumentos não depende da sua forma lógica. Encontramos com a mesma forma bons e maus argumentos por analogia. Por isso é que tais argumentos não fazem parte da lógica formal"

Excerto de Aires Almeida, Lógica Informal, in https://criticanarede.com/filos_loginformal.html

Correção do teste Grupo II e III

 Grupo II

Versão A

1. a 2. c 3. a 4. c

Versão B

1. c 2. b 3. d 4. a

Grupo III

Versão A

1. Coloca as seguintes proposições na sua forma canónica, indica o seu tipo, e de seguida escreve a sua negação

a. Muita gente gosta de Matemática. 

b. Não há quem não goste de sardinhas.

 

1.1. a. Algumas pessoas gostam de Matemática. b. Todas as pessoas gostam de sardinhas

1.2. a. Tipo I. b.Tipo A. 

1.3. a. Nenhuma pessoa gosta de Matemática b. Algumas pessoas não gostam de sardinhas.

Versão B

 1. Coloca as seguintes proposições na sua forma canónica, indica o seu tipo, e de seguida escreve a sua negação

a. Nem todos gostam de Matemática. 

b. Nem uma pessoa não gosta de Filosofia. 


1.1. a.Algumas pessoas não gostam de Matemática. b. Todas as pessoas gostam de Filosofia.

1.2. a.Tipo O. b. Tipo A.

1.3. a.Todas as pessoas gostam de Matemática.b.Algumas pessoas não gostam de Filosofia. 

 

Versão A 

 

2. Traduz as seguintes proposições para linguagem formal indicando os respectivos dicionários.

 

a. O Zé gosta de chocolate mas também de brócolos.

Dicionário: P: O Zé gosta de chocolate. Q: O Zé gosta de brócolos. Formalização: P ∧ Q  

b. Se os sentidos nos enganam, então o conhecimento não pode ter origem nos sentidos.

Dicionário: P: Os sentidos enganam-nos. Q: O conhecimento pode ter origem nos sentidos. Formalização: P ⟶ ~Q

c. Se gosto de praia então gosto de Sol e areia. 

 Dicionário: P: gosto de praia. Q: gosto de Sol. R: Gosto de areia. Formalização: P⟶ (Q∧R)

Versão B

a. O António quer dormir assim como sonhar. 

Dicionário: P: O António quer dormir. Q: O António quer sonhar. Formalização: P  ∧ Q 

b. Se não somos livres então somos determinados.  

Dicionário: P: Somos livres. Q: somos determinados. Formalização: ~P ⟶ Q

c. Se quero faltar às aulas então fico em casa e vejo Netflix.

 Dicionário: P: quero faltar às aulas. Q: fico em casa. R Vejo Netflix. Formalização: P ⟶ (Q∧R)

 

Versão A 



3. Utilizando o dicionário dado, traduz para linguagem natural as seguintes proposições:


a. Dicionário: P: A Joana come a papa.

              Q: A Joana chora.


P ⋀ Q

A Joana come a papa e chora.


b. Dicionário: P: O Manuel está atento

              Q: O cão leva a bola do Manuel.


        P → (~Q)

Se o Manuel está atento então o cão não lhe leva a bola.

 

Versão B 


a. Dicionário: P: A Joana come a papa.

              Q: A Joana chora.


P V Q

A Joana come a papa ou chora.


b. Dicionário: P: O Manuel está atento

              Q: O cão leva a bola do Manuel.


        (~P) → Q


Se o Manuel não está atento o cão leva-lhe a bola.

 

Versão A 



4. Elabora a tabela de verdade das seguintes proposições:


a. P ⊻ Q

P  Q  P ⊻ Q

V  V       F

V  F       V

F  V       V

F  F       F


b. ~P  ↔ ~Q 


P  Q      ~P  ↔ ~Q

V   V      F    V    F

V   F      F    F    V

F   V      V    F    F

F   F      V    V    V

                    ↑

Versão B

 

a. P V Q


P  Q  P V Q

V  V       V

V  F       V

F  V       V

F  F       F


b. ~P  → ~Q 


P  Q      ~P  → ~Q

V   V      F    V    F

V   F      F    V    V

F   V      V    F    F

F   F      V    V    V

                    ↑

 

Versão A

 

5. Utiliza um inspetor de circunstância para avaliar a validade das seguintes formas argumentativas:


a. P → Q; ~P; ∴ Q


P  Q     P → Q;      ~P;       ∴ Q

V  V         V           F          V

V  F         F           F          F

F  V         V           V          V

F  F         V           V          F


Resposta: A forma argumentativa é inválida porque há uma possibilidade de as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.



b. P  →  Q; Q; ∴ P 


P  Q    P → Q;  Q;  ∴  P

V  V         V        V       V

V  F         F        F       V

F  V         V        V       F

F  F         V        F       F


Resposta: A forma argumentativa é inválida pois é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.

 

Versão B

 

a. P → Q;  P; ∴ Q


P  Q     P → Q;      P;       ∴ Q

V  V         V           V          V

V  F         F           V          F

F  V         V           F          V

F  F         V           F          F


Resposta: O argumento é válido porque não há possibilidade de as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.


b. P  →  Q; ~Q; ∴ P 


P  Q    P → Q; ~ Q;  ∴  P

V  V         V        F       V

V  F         F        V       V

F  V         V        F       F

F  F         V        V       F



Resposta: O argumento é inválido pois é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa

 

Versão A

6. Identifica a forma de inferência válida ou a falácia presente nos seguintes argumentos:

a. Se estudo para o teste então tenho boa nota. Estudo para o teste. Logo, tenho boa nota. Modus Ponens

b. Se vou à praia então apanho um escaldão. Apanhei um escaldão. Logo, fui à praia. Falácia da afirmação da consequente.


Versão B

 

a. Se estudo para o teste então tenho boa nota. Tenho boa nota. Logo, estudei para o teste. Falácia da afirmação da consequente

b. Se vou à praia então apanho um escaldão. Vou à praia. Logo, apanho um escaldão. Modus ponens.