quarta-feira, 23 de março de 2022

Texto para resumo Marta 10E


 Foto de Annie Leibovitz


“- Kant tinha desde o princípio a forte impressão de que a diferença entre o justo e o injusto tinha de ser mais do que uma questão de sentimentos. Nesse aspeto ele estava de acordo com os racionalistas, que tinham explicado que era inerente à razão humana distinguir o justo do injusto. Todos os homens sabem o que é justo e o que não é, e nós sabemo-lo não apenas porque o aprendemos, mas também porque é inerente à nossa razão. Kant achava que todos os homens tinham uma “razão prática” que nos diz sempre o que é justo e o que é injusto no domínio da moral.

- Então é inata?

 - A capacidade de distinguir o justo do injusto é tão inata como todos os outros atributos da razão. Todos os homens veem os fenómenos como determinados causalmente – e também têm acesso à mesma lei moral universal. Esta lei moral tem a mesma validade absoluta que as leis físicas da natureza. Isso é tão fundamental para a nossa vida moral como é fundamental para a nossa vida racional que tudo tenha uma causa, ou que sete mais cinco sejam doze.

- E o que é que diz essa lei moral?

- Uma vez que precede qualquer experiência, é "formal". Significa que não está relacionada com possibilidades morais de escolha determinadas. É válida para todos os homens em todas as sociedades e em todos os tempos. Logo, não diz que tens de fazer isto ou aquilo nesta ou naquela situação. Diz como te deves comportar em todas as situações.

- Mas que sentido tem uma lei moral, se não nos diz como nos devemos comportar numa situação determinada?

-Kant formula a lei moral como imperativo categórico. Por isto, ele entende que a lei moral é "categórica", quer dizer, é válida em todas as situações. Além disso, é um "imperativo" e consequentemente uma "ordem" e absolutamente inevitável.

- Hm...

- Aliás, Kant formula o seu imperativo categórico de diversas formas. Primeiro, diz: “devíamos agir sempre de tal forma que pudéssemos desejar simultaneamente que a regra segundo a qual agimos fosse uma lei universal”.

- Quando faço alguma coisa, tenho de ter a certeza de que desejo que todos façam o mesmo na mesma situação.

- Exato. Só nessa altura ages de acordo com a tua lei moral interior. Kant também formulou o imperativo categórico da seguinte forma: devemos tratar os outros homens sempre como um fim em si e não como um meio para alguma outra coisa.

-Não podemos, portanto, "explorar" os outros para obtermos benefícios.

 -Não, porque todos os homens são um fim em si. Mas isso não é válido apenas para os outros, mas também para nós mesmos. Também não nos devemos explorar como meio para alcançar algo.

- Isso faz-me lembrar a "regra dourada": não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. -Sim, e isso é uma norma formal que abrange basicamente todas as possibilidades éticas de escolha. (…)

- Para Kant, a lei moral era tão absoluta e universalmente válida como, por exemplo, a lei da causalidade. Também não pode ser provada pela razão, mas é incontornável. Nenhum homem a contestaria.

 - Começo a ter a sensação de que estamos realmente a falar da consciência, porque todos os homens têm uma consciência.

-Sim, quando Kant descreve a lei moral, descreve a consciência humana. Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemo-lo. - Por vezes, sou muito simpático para com os outros simplesmente porque é vantajoso para mim. Desse modo, posso ser popular. - Mas quando és simpática para com os outros apenas para seres popular, não estás a agir de acordo com a lei moral. Talvez não estejas a observar a lei moral. Talvez estejas a agir numa espécie de acordo superficial com a lei moral - e isso já é alguma coisa -, mas uma ação moral tem de ser o resultado de uma superação de ti mesma. Só quando fazes algo porque achas ser teu “dever” seguir a lei moral é que podes falar de uma ação moral. Por isso, a ética de Kant é frequentemente chamada “ética do dever”.

- Eu posso achar ser meu dever juntar dinheiro para a Cruz Vermelha ou a Caritas. - Sim, e o importante é tu fazeres uma coisa porque a achas correta. Mesmo quando o dinheiro que tu juntaste se extravia ou nunca alimente as pessoas que devia alimentar, tu cumpriste a lei moral. Agiste com a atitude correta e, segundo Kant, a atitude é decisiva para podermos dizer que uma coisa é moralmente correta. Não são as consequências de uma ação que são decisivas. Por isso, também dizemos que a “ética de Kant é uma ética da boa vontade”.

Jostein Gaarder, “ O Mundo de Sofia” p.296/297

sexta-feira, 11 de março de 2022

Matriz para o teste de dia 25 de Março de 2022

 





Estrutura:

10 Perguntas de escolha múltipla – Avalia a competência de Concetualização – 10x20= 200 Pontos -20 Valores

3 Perguntas de desenvolvimento – Avalia a competência de Argumentação – 2x70 +60 = 200 Pontos -20 valores

3 perguntas de desenvolvimento e análise lógica de texto – Avalia a competência de problematização – 2x70+60= 200 Pontos – 20 valores

 

Páginas do manual para estudar: da página 148 à 190

Os valores:

1.      Analisar logicamente textos.

         Saber caracterizar os valores.

2.       Taxinomia dos valores: saber identificar os valores úteis, vitais, estéticos, éticos, cognitivos e religiosos.

3.       Compreender os conceitos de Multiculturalismo, Etnocentrismo, Relativismo cultural

4.       Definir facto e valor.

5.       Distinguir Juízos de facto e juízos de valor.

6.       Formular juízos de facto e juízos de valor.

7.       Identificar os juízos de valor morais.

8.       Caracterizar as três áreas da Ética: Metaética/Ética Normativa e Ética Prática

9.       Compreender as três teorias sobre a natureza/origem dos juízos de valor morais.

10.   Identificar as tesses do subjetivismo, do objetivismo e do relativismo moral.

11.   Explicar os argumentos de cada uma das teorias.

12.   Expor as objeções a cada uma das teorias.

13.   Analisar um texto identificando as suas teses e argumentos.

14.   Ser capaz de tomar uma posição justificada acerca desta discussão.

d

A ética normativa: A ética deontológica de Immanuel Kant

15.   Formular os problemas da ética normativa.

C     Compreender o que trata a ética e a moral.

16.   Compreender o conceito de deontologia.

17.   Relacionar a ética de Kant com os conceitos de respeito pelo dever e dignidade.

18.   Referir que o critério de moralidade da ação é a boa vontade.

19.   Esclarecer o conceito de boa vontade.

20.   Relacionar boa vontade e vontade autónoma.

21.   Distinguir ações por dever, contra o dever e em conformidade com o dever.

22.   Dizer qual o significado de uma ação por dever.

23.   Caracterizar o imperativo categórico e hipotético.

24.   Formular as leis do imperativo categórico.

 

 

quarta-feira, 9 de março de 2022

Texto para resumo Mariana 10E



Quando o exército nazi invadiu a Polónia em Setembro de 1939, iniciando, com isso, a Segunda Guerra Mundial, foi uma ação intolerante de primeira ordem. Mase se ela se conformasse aos ideais nazis? Um relativista cultural, parece, não poderia criticar os nazis por serem intolerantes, se tudo o que eles estão a fazer é seguir o seu próprio código moral. Entendido com propriedade, o relativismo cultural sustenta que as normas de uma cultura reinam supremas dentro dos limites da cultura. Assim, uma vez que os soldados alemães entraram na sociedade polaca, eles tornaram-se sujeitos às normas da sociedade polaca – normas que, obviamente, excluíam a carnificina de polacos inocentes. Como afirma o velho ditado, “em Roma, como os romanos”. Relativistas culturais concordariam com esta posição.
O ARGUMENTO DA DIFERENÇA CULTURAL
Os relativistas culturais frequentemente empregam uma certa forma de argumento. Eles começam com fatos sobre as culturas e terminam extraindo uma conclusão sobre a moralidade. Assim,  convidam-nos a aceitar este raciocínio:
1. Os gregos acreditavam que era errado comer os mortos, ao passo que os galatianos acreditavam que era correto comer os mortos.
2. Portanto, comer os mortos não é nem objetivamente certo nem objetivamente errado. É meramente uma questão de opinião que varia de uma cultura para outra.
Ou:1. Os esquimós não viam nada de errado com o infanticídio, ao passo que os americanos acreditam que ele é imoral.2. Portanto, o infanticídio não é nem objetivamente certo nem objetivamente errado. É meramente uma questão de opinião que varia de uma cultura para outra. Claramente, esses argumentos são variações de uma ideia fundamental. Eles são exemplos de um argumento mais geral que diz:1. Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.2. Portanto, não há verdade objetiva na moralidade. Certo e errado são somente questões de opinião, e opiniões variam de uma cultura para outra. Podemos chamar isso de argumento da diferença cultural. Para muitas pessoas ele é persuasivo. Mas é ele um bom argumento – é sólido? Não,  não é. Para um argumento ser sólido, as suas premissas têm de ser verdadeiras e a conclusão tem que se seguir logicamente delas. Aqui, o problema é que a conclusão não se segue das premissas – isto é, mesmo que a premissa seja verdadeira, a conclusão ainda assim pode ser falsa. A premissa concerne àquilo em que as pessoas acreditam – em algumas sociedades as pessoas acreditam numa coisa; em outras sociedades as pessoas acreditam noutra outra coisa. A conclusão, portanto, concerne ao que é realmente o caso. Esse tipo de conclusão não se segue logicamente daquele tipo de premissa. Na terminologia filosófica, isso significa que o argumento é inválido. Considere novamente o exemplo dos gregos e dos galatianos.  Os gregos acreditavam que era errado comer os mortos; os galatianos acreditavam que era certo. Do mero fato de que eles discordavam, segue-se que não há verdade objetiva em relação àquela matéria? Não, não se segue; poderia ser que a prática fosse objetivamente certa (ou errada) e que um deles estivesse simplesmente enganado. Para tornar o ponto claro, considere uma questão diferente. Em algumas sociedades, as pessoas acreditam que a terra é plana. Em outras sociedades, como na nossa, as pessoas acreditam que a terra é esférica. Do mero fato de as pessoas discordarem, segue-se que não há “verdade objetiva” na geografia? Claro que não; nós nunca tiraríamos tal conclusão, isso porque entendemos que os membros de uma sociedade podem simplesmente estar errados. Não há razão para pensar que, se o mundo é redondo, todo mundo tenha que conhecer isso. Similarmente, não há razão para pensar que, se há verdade moral, todo mundo tenha que conhecê-la. O argumento da diferença cultural tenta derivar uma conclusão substantiva sobre um assunto a partir do mero fato de que as pessoas discordam. Mas isso é impossível.

James Rachels, Elementos de filosofia moral