segunda-feira, 26 de maio de 2008

Três Teoria sobre Arte.

Como imitar uma personagem que não existe? Não será imitação mas representação.
Que sentimento expressam estes quadros de Vasarely? Parece que nenhum.

Yves Kleist, Blue ,Que sentimento expressa este quadro? Que poderíamos dizer da sua Forma significante?



ESTÉTICA: PARA UMA TEORIA DA ARTE
1ª TEORIA:




Uma obra é arte se, e só se, é produzida pelo homem e imita algo.A característica própria desta teoria não reside no facto de defender que uma obra de arte tem de ser produzida pelo homem, o que é comum a outras teorias, mas na ideia de que para ser arte essa obra tem de imitar algo.
Vários foram os filósofos que se referiram à arte como imitação. Alguns desprezavam-na por isso mesmo, como acontecia com o conhecido filósofo grego Platão que, ao considerar que as obras de arte imitavam os objectos naturais, via essas obras como imagens imperfeitas dos seus originais.
O que agora nos interessa, mais do que saber quem defendeu esta teoria, é avaliar o seu poder explicativo. Vejamos então os principais pontos que parecem favoráveis a ela:
Vantagens
Adequa-se ao facto incontestável de muitas pinturas, esculturas e outras obras de arte.
Oferece um critério de classificação das obras de arte bastante rigoroso, o que nos permite distinguir com alguma facilidade uma obra de arte.
Oferece um critério de valoração das obras de arte .Uma obra de arte seria tão boa quanto mais se conseguisse aproximar do objecto imitado.
Um aspecto geral desta teoria mostra-nos que é uma teoria centrada nos objectos imitados. Ela exprime-se frequentemente através de frases como
«este filme é excelente, pois é um retrato fiel da sociedade americana nos anos 60», ou como
«este quadro é tão bom que mal conseguimos distinguir aquilo que o artista pintou do modelo utilizado».
Mas será uma boa teoria? Para isso temos de testar cada um dos aspectos atrás apresentados que são favoráveis à teoria, começando pelo primeiro.

Objecção 1: Como o que é afirmado no primeiro ponto é do domínio empírico, não precisamos de procurar muito para percebermos que, apesar de muitas obras de arte imitarem algo, são inúmeras aquelas que não o fazem.
Conscientes disso, os defensores mais recentes da teoria da arte como imitação, acabaram por substituir o conceito de imitação pelo conceito mais sofisticado de representação. Assim já poderíamos dizer que as quatro primeiras notas da 5.ª Sinfonia de Beethoven não imitam directamente a morte a bater à porta, mas representam a morte a bater à porta. Podemos perguntar: o que representam a pintura Composição (1946) de Jackson Pollock ou as Suites para Violoncelo Solo de Bach? Dificilmente diríamos que representam algo.

Objecção 2: Há obras que imitam algo sem que nos encontremos alguma vez em condições de saber se a imitação é boa ou má. Basta pensar em obras que imitam algo que já não existe ou não é do conhecimento de quem as aprecia. Como podemos saber se A Escola de Atenas, de Rafael, reproduz com perfeição as figuras de Platão e Aristóteles ou o ambiente da Academia? Pior, como sabemos que o Jardim das Delícias, de Bosch, imita bem aquelas figuras estranhas e inverosímeis, admitindo que algo está a ser imitado? Como podemos saber se O Nascimento de Vénus, de Botticelli, é uma boa imitação, se é que, mais uma vez, algo é imitado? E não será abusivo afirmar que qualquer pintura figurativa tecnicamente apurada é melhor do que o tosco Auto-Retrato com Chapéu de Palha, de Van Gogh, ou do que todas as obras impressionistas? Segundo este critério Picasso seria, com certeza, um artista menor e teríamos de reconhecer que a fotografia é a mais perfeita de todas as artes. Só que não é isso que acontece. Vemos, assim, que também em relação ao critério valorativo esta teoria está longe de dar resposta satisfatória a todas as objecções que se lhe colocam.

2ª TEORIA : Teoria da arte como expressão



Insatisfeitos com a teoria da arte como imitação (ou representação), muitos filósofos e artistas românticos do século XIX propuseram uma definição de arte que procurava libertar-se das limitações da teoria anterior, ao mesmo tempo que deslocava para o artista, ou criador, a chave da compreensão da arte. Trata-se da teoria da arte como expressão. Teoria que, ainda hoje, uma enorme quantidade de pessoas aceita sem questionar. Segundo a teoria da expressão

Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista.
Os sentimentos têm que ser autênticos e intencionais.
Vantagens
São muitos e eloquentes os testemunhos de artistas que reconhecem a importância de certas emoções sem as quais as suas obras não teriam certamente existido. Mais do que isso, se é verdade, como parece ser, que a arte provoca em nós determinadas emoções ou sentimentos, então é porque tais sentimentos e emoções existiram no seu criador e deram origem a tais obras.
Também nos oferece, como a teoria anterior, um critério que permite, com algum rigor, classificar objectos como obras de arte. Com a vantagem acrescida de classificar como arte todas as obras que não imitam nada, o que acontece frequentemente na literatura e sempre na música e na arte abstracta.
Mais uma vez oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.

Uma teoria como esta manifesta-se frequentemente em juízos como
«Este é um livro exemplar em que o autor nos transmite o seu desespero perante uma vida sem sentido» ou como
«O autor do filme filma magistralmente os seus próprios traumas e obsessões».
Mas também ela se irá revelar uma teoria insatisfatória. As razões são semelhantes às que apresentei contra a teoria da arte como imitação, pelo que tentarei aqui ser mais breve.




Objecção 1: Podemos dizer que os quadros de Yves Klein, Mondrian ou de Vasarely? Expressam as emoções do autor?O grande compositor do nosso século, Richard Strauss, autor de vários poemas sinfónicos, como o célebre Assim Falava Zaratustra, esclarecia que as suas obras eram fruto de um trabalho paciente e minucioso no sentido de as aperfeiçoar, eliminando desse modo os defeitos inerentes a qualquer produto emocional.

Objecção 2: Sobre o critério de valoração. Como podemos nós saber se uma determinada obra exprime correctamente as emoções do artista que a criou, quando o artista já morreu há séculos? Na tentativa de apurar até que ponto uma obra de arte é boa, muitos estudiosos defensores desta teoria lançaram-se na pesquisa biográfica do artista que a criou, pois só assim estariam em condições de compreender os sentimentos que lhe deram origem. Alguns deles, como o famoso pai da psicanálise, Sigmund Freud, até se aventuraram a sondar as profundezas da psicologia do artista, sem o que uma correcta avaliação da obra não seria possível. Freud foi ao ponto de o fazer com um artista morto há séculos .E como avaliar uma obra de arte colectiva ou a interpretação de uma obra musical? O que conta aqui são as emoções do artista criador ou as do artista intérprete (ou dos artistas intérpretes, como sucede com a interpretação da Segunda Sinfonia de Mahler, a qual chega a exigir perto de 250 intérpretes em palco)? Enfim, todas estas perguntas são demasiado embaraçosas para a teoria da expressão.


3ª TEORIA: Teoria da arte como forma significante




Esta teoria, defendida, entre outros, pelo filósofo Clive Bell, considera que não se deve começar por procurar aquilo que define uma obra de arte na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia. Isso não significa que não haja uma característica comum a todas as obras de arte, mas que podemos identificá-la apenas por intermédio de um tipo de emoção peculiar, a que chama emoção estética, que elas, e só elas, provocam em nós.
· Uma obra é arte se, e só se, provoca nas pessoas emoções estéticas.Se a teoria da imitação estava centrada nos objectos representados e a teoria da expressão no artista criador, a teoria formalista parte do sujeito sensível que aprecia obras de arte. Digo que parte do sujeito e não que está centrada nele, caso contrário não seria coerente considerar que esta teoria é formalista.
Mas se essa emoção peculiar chamada «emoção estética» é provocada pelas obras de arte, e só por elas, então tem de haver alguma propriedade também ela peculiar a todas as obras de arte, que seja capaz de provocar tal emoção nas pessoas. Mas essa característica existe mesmo? Clive Bell responde que sim e diz que é a forma significante.
Sensibilidade e inteligência é o que se exige ao crítico de Arte ou ao mero espectador, sem as quais a forma significante não é captada.
Frases como
«Este quadro é uma verdadeira obra-prima devido à excepcional harmonia das cores e ao equilíbrio da composição», ou como
«Aquele livro é excelente porque está muito bem escrito e apresenta uma história bem construída apoiada em personagens convincentes e bem caracterizadas»,exprimem habitualmente uma perspectiva formalista da arte.
Vantagem: pode incluir todo o tipo de obras de arte, inclusivamente obras que exemplifiquem formas de arte ainda por inventar. Desde que provoque emoções estéticas qualquer objecto é uma obra de arte, ficando assim ultrapassado o carácter restritivo das teorias anteriores.
Mas as suas dificuldades também são enormes.




Objecção 1: Em primeiro lugar, podemos mostrar que algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que essas obras podem ser arte para uns e não o ser para outros? Também não é grande ideia responder que quem não sente emoções estéticas em relação a determinadas obras não é uma pessoa sensível, como sugere Bell, o que parece uma inaceitável fuga às dificuldades.
Objecção 2:. Clive Bell refere, pensando apenas no caso da pintura, que a forma significante reside numa certa combinação de linhas e cores. Mas que combinação é essa e que cores são essas exactamente? E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.? A ideia que fica é que a forma significante não serve para identificar nada.
Objecção 3: Se a forma significante é a propriedade que provoca em nós emoções estéticas, depois de dizer que as emoções estéticas são provocadas pela forma significante é não só inútil mas decepcionante, já que se trata de uma falácia: a falácia da circularidade.
E agora?
Será que a Arte pode ser Definida?

RESUMO:1. CENTRADA NA OBRA - ARTE COMO IMITAÇÃO
2. CENTRADA NO ARTISTA - ARTE COMO EXPRESSÃO






3. CENTRADA NO ESPECTADOR -ARTE /FORMA SIGNIFICANTE

Correção da Prova de 9 Maio 2008


Professora Helena Serrão

1. Análise lógica do texto de David Hume:Tema: Os padrões de gosto
Problema: Será possível um padrão de gosto?
Tese: Apesar da diversidade de gosto não poder ser anulada, é possível um padrão de gosto.
Argumento: Há certos princípios gerais de aprovação ou de censura, cuja influência um olhar cuidadoso pode verificar em todas as operações do espírito. Há determinadas formas que devido a uma certa estrutura original da constituição interna do espírito estão destinadas a agradar e outras a desagradar.
Condições para um padrão de gosto: só um espírito são pode apreciar algo esteticamente, se estiver doente o seu juízo não tem credibilidade.
Podemos também notar que além da enfermidade física que afecta o a nossa sensibilidade (do sujeito). A proximidade temporal da obra e do autor pode também tornar o juízo de gosto parcial, sujeito a modas e a sentimentos de inveja. Também há factores exteriores como o clima, governo, religião e linguagem que afectam o juízo de gosto daí que avaliar a obra de Homero à distância de 2000 anos e num qualquer lugar da Europa, permite-nos compreender que o juízo de gosto poderá aproximar-se de uma certa imparcialidade uma certa unanimidade. Conceitos: padrão de gosto, autoridade, estrutura do espírito, sentimentos agradáveis, desagradáveis.

2. Que teoria sobre os juízos de gosto defende o autor?
A posição do autor é subjectivista visto que considera que uma obra é bela quando suscita sentimentos de prazer e agrado no sujeito e não apenas por qualidades objectivas, todavia há uma estrutura geral no espírito humano, uma estrutura sensível que é comum a todos os homens sãos. Daí que há certas formas que causam agrado, na generalidade dos homens e outras não. Poderemos assim, encontrar um padrão de gosto que consistiria em captar aquelas qualidades que o sujeito que avalia as obras devia ter. Para que o seu juízo pudesse aproximar-se de um padrão de gosto ele tinha que ter certas qualidades, assim como manter-se afastado de factores exteriores (preconceitos culturais) e interiores como conhecimento do autor. Afastados os elementos que podem influenciar o juízo de gosto poderíamos estabelecer certos princípios gerais a propósito do sujeito, Hume fala da ideia de um crítico excelente. As qualidades do crítico excelente seriam: delicadeza de gosto, prática de fazer juízos, larga experiência de vida, distanciação em relação a modas e preconceitos, bom senso e disposição certa.

3. Caracterize a experiência estética.
A experiência estética caracteriza-se por uma sensação de agrado ou desagrado em relação a um determinado objecto, sensação essa subjectiva. Implica uma atitude desinteressada em relação ao objecto, isto é, não tem com ele uma relação de utilidade, necessidade ou desejo, mas distanciada porque o objecto é olhado ou sentido como uma forma, isto é como objecto estético. Não pode ser descrita em conceitos porque se trata de uma sensação e é por isso singular e intransmissível.

4. Imagine a seguinte situação (ver prova) a partir dos princípios da moral deontológica de Kant e da moral consequencialista de Stuart-Mill. Enuncie esses princípios.
Segundo os princípios da moral deontológica de Kant, a acção correcta é aquela que traduz uma boa vontade, isto é, uma vontade afastada do interesse pessoal, uma vontade desinteressada , essa boa vontade não podia moldar-se pelas consequências materiais da acção mas apenas pelo cumprimento da lei. A lei moral ordena-nos que a máxima da nossa acção possa ser universalizável, ora mentir mesmo que seja para um bom fim, não pode ser universalizável. O arquitecto não devia mentir.
Quanto à moral consequencialista a acção correcta deve proporcionar o maior bem ao maior número de pessoas, entendendo-se como maior bem, para avaliar a acção teríamos de equacionar a qualidade do bem proporcionado, se é duradouro e a quantidade de pessoas que seriam afectadas pela acção. Assim, segundo estes princípios o facto do arquitecto não mentir, seria bom para a sua consciência mas, possivelmente teria como consequência a prisão do presidente da Câmara e o congelamento das verbas. Justificar-se-ia então mentir desde que as consequências fossem minorar o sofrimento e proporcionar o maior Bem ou felicidade ao maior número de pessoas, facto que seria possível através da mentira.

5. Poder-se-á dizer que o Utilitarismo é uma forma de Hedonismo?
Embora o Utilitarismo defenda o princípio do prazer sobre a dor (esta só se justifica se for útil isto é se puder proporcionar uma maior felicidade futura ao sujeito e aos outros) diferencia-se contudo do Hedonismo em dois aspectos:
1: Diferencia os prazeres espirituais dos corporais dizendo que os primeiros são superiores porque são mais fecundos e duradouros enquanto que para o Hedonismo todos os prazeres são equivalentes.
2. Por outro lado, diferencia a felicidade como maior número de experiências de prazer, tal como sugere o Hedonismo, da felicidade enquanto satisfação de preferências, isto é não é o número de experiências que constituem o critério de uma vida feliz mas a satisfação de prazeres criteriosamente escolhidos pelo sujeito segundo os seus valores e preferências.

6. Porque é que o Egoísmo Ético não é satisfatório?
O Egoísmo ético não é satisfatório por duas razões: primeiro porque é arbitrário, ao colocar o “eu” acima dos outros e defender como princípio ético que cada um deva fazer o que lhe é mais vantajoso, está a reivindicar um princípio que não tem um fundamento racional, pois porque será que o “eu” de cada um se deve sobrepor ao “eu” dos outros quando não há nenhuma razão para julgar alguém superior a outro. Permite também o Egoísmo Ético, justificar acções injustas desde que sejam para benefício daquele que as pratica, um mundo assim seria estranho pois só se justificaria defendê-lo se houvesse pessoas que retirassem prazer do seu sofrimento e outras que tirassem prazer do sofrimento dos outros.