quinta-feira, 13 de março de 2025

Texto para resumo Laura10A e Margarida Brás 10E

 




Paulo Gonçalves, um dos portugueses que participou no rali Dakar 2016, esteve em grande destaque na sétima etapa, depois de ter parado mais de dez minutos para ajudar Matthias Walkner — um piloto rival — que sofrera um acidente e partiu o fémur. Esta ação poderia ter custado a Paulo Gonçalves a liderança da classificação geral, mas ele não hesitou em parar para ajudar. Mais tarde, escreveria no Facebook:

Fiz aquilo que me competia. […] Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos. (…)

 

 

Será que podemos dizer que é verdadeiro que Paulo Gonçalves fez uma boa ação?

Um subjetivista diria que isso depende de cada sujeito, pois os juízos de valor são meras expressões das preferências das pessoas. Se uma pessoa aprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta pessoa, o juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é verdadeiro. Se outra pessoa desaprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta outra pessoa, o juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é falso. E nenhuma tem mais razão do que a outra, pois cada uma delas está apenas a manifestar a sua preferência. Protágoras (490–420 a.C.), que defendeu que o homem é a medida de todas as coisas, Sartre, ao afirmar que “[s]e admito que tal ato é bom, a mim compete a escolha de dizer que tal ato é bom e não mau” (Sartre, 1978, p. 223) e J. L. Mackie (1917–1981), que argumentou que os juízos de valor não podem ser objetivamente verdadeiros, porque não há factos que os tornem verdadeiros, podem ser considerados defensores do subjetivismo dos valores.

Um relativista diria que isso depende de cada sociedade, pois os juízos de valor são meras expressões das preferências sociais. Se uma sociedade aprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta sociedade, o juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é verdadeiro. Se outra sociedade reprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta outra sociedade, o juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é falso. E nenhuma sociedade tem mais razão do que a outra, pois cada uma delas está apenas a manifestar a sua preferência. Heródoto (cerca de 490–424 a.C.), que declarou que o “costume é o rei de todos nós” (citado por Rachels, 2009, p. 237), Benedict (1887–1948), que afirmou que a “moralidade varia em todas as sociedades, e é apenas um termo cómodo para os hábitos que uma sociedade aprova” (citada por Rachels, 2004, p. 33), e a Associação Antropológica Americana (citada por Almeida & Murcho, 2014, p. 40), que defendeu que os “padrões de valor são relativos à cultura de que derivam”, são alguns representantes do relativismo. O filósofo Gilbert Harman (n. 1938) é, atualmente, o principal defensor do relativismo ético.

Um objetivista diria que a verdade do juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação” não depende das pessoas nem das sociedades, pois há maneiras objetivas de determinar se o juízo é verdadeiro, tal como acontece com os juízos de facto. O objetivista não defende que todos os juízos de valor são objetivos, defende que alguns o são. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, corresponde a uma perspetiva objetivista sobre os valores. Os filósofos James Rachels (1941–2003) e Thomas Nagel (n. 1937) são dois dos defensores do objetivismo.

 

António Padrão, Valores, juízos de valor e teorias in Crítica na Rede

 

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