Paulo Gonçalves, um dos portugueses que participou no rali Dakar 2016, esteve em grande destaque na sétima etapa, depois de ter parado mais de dez minutos para ajudar Matthias Walkner — um piloto rival — que sofrera um acidente e partiu o fémur. Esta ação poderia ter custado a Paulo Gonçalves a liderança da classificação geral, mas ele não hesitou em parar para ajudar. Mais tarde, escreveria no Facebook:
Fiz aquilo que me competia. […] Não sou um herói, sou um ser
humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória,
sem ela não vencemos. (…)
Será que podemos dizer que é verdadeiro que Paulo Gonçalves fez
uma boa ação?
Um subjetivista diria que isso depende de cada sujeito, pois os
juízos de valor são meras expressões das preferências das pessoas. Se uma
pessoa aprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta pessoa, o juízo
“Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é verdadeiro. Se outra pessoa desaprovar a
ação de Paulo Gonçalves, então, para esta outra pessoa, o juízo “Paulo
Gonçalves fez uma boa ação” é falso. E nenhuma tem mais razão do que a outra,
pois cada uma delas está apenas a manifestar a sua preferência. Protágoras
(490–420 a.C.), que defendeu que o homem é a medida de todas as coisas, Sartre,
ao afirmar que “[s]e admito que tal ato é bom, a mim compete a escolha de dizer
que tal ato é bom e não mau” (Sartre, 1978, p. 223) e J. L. Mackie (1917–1981), que argumentou que os
juízos de valor não podem ser objetivamente verdadeiros, porque não há factos
que os tornem verdadeiros, podem ser considerados defensores do subjetivismo
dos valores.
Um relativista diria que isso depende de cada sociedade, pois os
juízos de valor são meras expressões das preferências sociais. Se uma sociedade
aprovar a ação de Paulo Gonçalves, então, para esta sociedade, o juízo “Paulo
Gonçalves fez uma boa ação” é verdadeiro. Se outra sociedade reprovar a ação de
Paulo Gonçalves, então, para esta outra sociedade, o juízo “Paulo Gonçalves fez
uma boa ação” é falso. E nenhuma sociedade tem mais razão do que a outra, pois
cada uma delas está apenas a manifestar a sua preferência. Heródoto (cerca de
490–424 a.C.), que declarou que o “costume é o rei de todos nós” (citado por
Rachels, 2009, p. 237), Benedict (1887–1948), que afirmou que a “moralidade
varia em todas as sociedades, e é apenas um termo cómodo para os hábitos que
uma sociedade aprova” (citada por Rachels, 2004, p. 33), e a Associação
Antropológica Americana (citada por Almeida & Murcho, 2014, p. 40), que
defendeu que os “padrões de valor são relativos à cultura de que derivam”, são
alguns representantes do relativismo. O filósofo Gilbert Harman (n. 1938) é,
atualmente, o principal defensor do relativismo ético.
Um objetivista diria que a verdade do juízo “Paulo Gonçalves fez
uma boa ação” não depende das pessoas nem das sociedades, pois há maneiras
objetivas de determinar se o juízo é verdadeiro, tal como acontece com os
juízos de facto. O objetivista não defende que todos os juízos de valor são
objetivos, defende que alguns o são. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948,
corresponde a uma perspetiva objetivista sobre os valores. Os filósofos James
Rachels (1941–2003) e Thomas Nagel (n. 1937) são dois dos defensores do
objetivismo.
António Padrão, Valores, juízos de valor e teorias in Crítica na Rede
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