segunda-feira, 23 de outubro de 2023

 Texto para Resumo - Maria Eduarda 10ºC

"Para que serve a lógica?"

"De notar que em lógica e filosofia a palavra “válido” é entendida num sentido especializado. Quase todos os cientistas e leigos usam esta palavra de maneira diferente. É um pouco como velocidade e aceleração, na física, ou massa e peso. A maior parte das pessoas, à exceção dos físicos, usam os dois pares de palavras como se quisessem dizer aproximadamente o mesmo. No seu sentido especializado, contudo, aqueles dois pares de palavras não querem dizer o mesmo — e a física nem sequer dá os primeiros passos a menos que distingamos cuidadosamente a velocidade da aceleração e a massa do peso. O mesmo acontece com o conceito de validade. No seu sentido especializado, em lógica e filosofia, a validade é uma característica do raciocínio dedutivo, e não é o mesmo que a verdade. Num dado raciocínio, as suas afirmações são verdadeiras ou falsas, mas não são válidas nem inválidas, porque a validade diz respeito ao raciocínio constituído por essas afirmações. Por outro lado, o próprio raciocínio não é verdadeiro nem falso, mas antes válido ou inválido, porque a verdade e a falsidade são características de afirmações, e não de raciocínios. É um pouco como ser numeroso. Os indianos são numerosos, porque há muitos, mas nenhum indiano individual é numeroso, porque essa é uma característica do conjunto dos indianos, e não dos indianos individuais. Simetricamente, o conjunto dos indianos não tem cérebro, que é uma coisa que todos os indianos certamente têm. Só porque todos os membros de um conjunto têm uma dada característica, isso não significa que o conjunto tenha também essa característica, nem vice-versa. De modo que quando as pessoas falam de raciocínios verdadeiros ou de afirmações válidas, isso significa que nada praticamente sabem de lógica. São como crianças perdidas na floresta, e nem têm disso consciência.

 A validade, pois, é o que temos num raciocínio quando as suas afirmações estão organizadas de tal maneira que não há condições de verdade nas quais a conclusão seja falsa, caso todas as premissas sejam verdadeiras. É esta característica do raciocínio dedutivo que nos permite descobrir o que não sabíamos, com base no que já sabemos. Assim, se uma pessoa souber que Úrsula não nasceu no Chile, e se souber também que se ela nasceu em Tiradentes, nasceu no Chile, essa pessoa, caso saiba raciocinar bem, consegue descobrir algo de novo acerca de Úrsula: que não nasceu em Tiradentes."


Murcho, Desidério. 2022. “Para que serve a lógica?” [em] Crítica na Rede: https://criticanarede.com/tes_conhecimentologica.html

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