terça-feira, 1 de outubro de 2019

O discurso filosófico versus o discurso poético


FICHA 1 - O Discurso poético e o discurso filosófico.

Novembro. Só! Meu Deus, que insuportável mundo!
         Ninguém, viv'alma... O que farão os mais?
Senhor! a Vida não é um rápido segundo:
Que longas horas estas horas! Que profundo
         Spleen o d’estas noites imortais!

Faz tanto frio. (Só de a ver me gela, a cama...)
Que frio! Olá, Joseph! bota mais carvão!
E quando todo se extinguir na áurea chama,
Eu botarei (para que serve? já não ama...)
Às cinzas brancas, meu vermelho coração!

Lá fora o vento como um gato bufa e mia...
         Ó pescadores, vai tão bravo o mar!
Cautela... Orçai! Largai a escota! Ave Maria!
Cheia de Graça... Horror! Mortos! E a água tão fria!...
         Que triste ver defuntos a boiar!

Spleen! Que hei-de eu fazer? Dormir, não tenho sono,
Leva-me a carne a Dor, desgasta-me o perfil.
Nada há pior que este sonâmbulo abandono!
Ó meus Castelos-em-Espanha! Ó meu outono
D’alma! Ó meu cair-das-folhas, em abril!

A Vida! Horror! Ó vós que estais no último alento!
         Que felizes, sois prestes a partir!
Ó Morte, quero entrar no teu Recolhimento!...
Oiço bater. Quem é? Ninguém: um rato... o vento...
         Coitado! é o Georges, tísico, a tossir...

Mês de novembro! Mês dos tísicos! Suando
Quantos, a esta hora, não se estorcem a morrer!
Vê-se os padres as mãos, contentes, esfregando...
Mês em que a cera dá mais e a botica, e quando
Os carpinteiros têm mais obra p’ra fazer...

Oiço um apito. O trem que se vai... Engatar-te
         Quem me dera o wagon dos sonhos meus!
Lá passa, ao longe. Adeus! Quisera acompanhar-te...
– Boa viagem! Feliz de quem vai, de quem parte!
         Coitado de quem fica... Adeus! adeus!

Viajar? Ilusão. Todo o planeta é zero.
Por toda a parte é vil o homem e bom o céu.
– Américas! Japão! Índias! Calvário!... Quero
Mas é ir, à Ilha, orar sobre a cova do Antero
E a Águeda beber água do Botaréu...

Vi a Ilha loira, o Mar! Pisei terras de Espanha,
         Países raros, Neves, Areais;
Cantando, ao luar, errei nas ruas da Alemanha,
Armei na França minha tenda de campanha...
         E tédio, tédio, tédio e nada mais!

Que hei-de eu fazer? Calai essas canções imundas,
Cervejarias do Quartier! Rezai, rezai!
Paisagem, onde estás? Ó luar, águas profundas!
Ó choupos, à tardinha, altivos, mas corcundas,
Tal como aspirações irrealizáveis, ai!

Não me tortura mais a Dor. Sou feliz. Creio
         Em Deus, n’uma outra vida, além do Ar.
Meus livros dei-os, meu Filósofo queimei-o:
Agora, trago uma medalha sobre o seio
         Com a qual falo, às noites, ao deitar.

Espiritos! em vão, debalde por vós clamo:
Por que me abandonais? Ó almas, vinde a mim!
Às vezes, vindes consolar-me e não vos chamo,
E, hoje, não… Por quê? Traço o paralelogramo,
Extingo o lume, apago a luz: nem mesmo assim!

Ó almas do Outro-mundo! a minha alma anseia
         Pelo luar da lua de Canaã:
Quero passar o além que para além se alteia,
A nação de que a Terra é uma pequena aldeia
         E um lugarejo a Estrela da Manhã!

(E a chuva cai...) Meu Deus! Que insuportável mundo!
Viv’alma! (O vento geme...) O que farão os mais?
Senhor! A Vida não é um rápido segundo:
Que longas horas estas horas! Que profundo
Spleen mortal o d’estas noites imortais!

António Nobre, Ao canto do lume.1892

O discurso filosófico:
 
“Os males do mundo devem-se tanto a defeitos morais quanto à falta de inteligência. Mas a humanidade não descobriu até agora qualquer método para erradicar defeitos morais [...] A inteligência, pelo contrário, aperfeiçoa-se facilmente por meio de métodos que todos os educadores competentes conhecem. Logo, até se descobrir um método para ensinar a virtude, o progresso terá de ser alcançado por meio do aperfeiçoamento da inteligência e não da moral.”
Bertrand Russell

ANÁLISE LÓGICA - TEMA:__________________________________________________________________________________
PROBLEMA:____________________________________________________________________________________________
TESE:___________________________________________________________________________________________________
ARGUMENTO (RAZÕES):____________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________
CONCEITOS: ____________________; _________________;__________________________;____________


O problema é a questão que está presente no texto e que este visa responder ou reflectir sobre.

A Tese é a resposta encontrada pelo autor ao problema, é a ideia que o autor defende. Podem ser apresentadas várias teses. Também se podem apresentar contra-teses ou objecções como se esta reflexão fosse um diálogo do autor consigo próprio. A tese é uma frase declarativa ou proposição. Pode também ser entendida como a conclusão do argumento que se expõe.

A argumentação é o conjunto de razões que servem para justificar a tese proposta, explica o porquê da tese que se defende.

Os conceitos são as palavras que referem  classes de objetos, o conceito é aquilo que distingue essa classe de todas as outras.

ESTRUTURA O DISCURSO:

PROPOSIÇÕES: Frases declarativas com valor de verdade.

ARGUMENTOS: Conjunto de proposições que justificam uma determinada conclusão ou tese.

CONCEITOS: Palavra ou palavras que referem uma classe de objectos. Expressam uma Ideia isolada.
















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