segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Texto para análise/resumo Rebeca 10B

 
 
A máquina de salsichas da razão

Aquilo que é maravilhoso num argumento sólido é o seu poder de preservar a verdade. Tomemos, por exemplo, o argumento seguinte:
   1. Francisco é um homem.    2. Todos os homens vivem na terra.    Conclusão: Francisco vive na terra.

Este argumento forma-se de duas afirmações, ou premissas, e de uma conclusão. Num argumento dedutivo, como este, as premissas implicam supostamente a conclusão. O argumento, se válido, fornece-nos uma garantia lógica: se as premissas são verdadeiras, a conclusão também o é. Neste caso, o argumento é válido. As premissas implicam realmente a conclusão.
É claro que se introduzirmos num argumento dedutivamente válido uma ou mais falsidades, não há qualquer garantia quanto ao que obteremos. A conclusão pode, ainda assim, ser verdadeira. Mas pode ser falsa. (Suponhamos, por exemplo, que a primeira premissa do nosso argumento é falsa: o Francisco não é um homem – é um extra-terrestre que vive no planeta Plutão; então a nossa conclusão é falsa.)
Portanto, um argumento dedutivo válido preserva a verdade. Se introduzirmos premissas verdadeiras, temos a garantia lógica de que sai uma conclusão verdadeira. Se estivermos interessados em ter convicções que sejam realmente verdadeiras, trata-se de um belo resultado.
Para aqueles que gostam de analogias, podemos dizer que as formas válidas de argumentos dedutivos funcionam um pouco como as máquinas de salsichas. A única diferença é que em vez de introduzirmos carne de salsicha e de saírem do outro lado salsichas, é-nos dada a garantia de que se introduzirmos premissas verdadeiras, sairão conclusões verdadeiras.



A máquina de salsichas indutiva

A argumentação dedutiva não é a única forma de argumentação sólida. Há também os raciocínios indutivos. Eis um exemplo de um argumento indutivo:


 
 1. A maçã um tem sementes.
2.          2. A maçã dois tem sementes.       3. A maçã três tem sementes.
    [...]   1000. A maçã mil tem sementes.   Conclusão: Todas as maçãs têm sementes.

Este argumento tem mil premissas (embora eu não me tenha dado ao trabalho de listar mais do que quatro). Num argumento indutivo, as premissas apoiam supostamente a conclusão. Aqui, a palavra-chave é apoiam. É claro que estes argumentos não são (e não pretendem ser) dedutivamente válidos. As premissas não implicam dedutivamente a conclusão. Não há garantia lógica de que a maçã seguinte não terá sementes, apesar das muitas maçãs que examinámos até agora. Apesar disso, supomos que o facto de todas as maçãs que examinámos até agora terem sementes torna extremamente razoável que concluamos que todas têm. As premissas, supomos, tornam a verdade da conclusão bastante provável. Se isto é correcto, os argumentos indutivos sólidos também têm a qualidade de preservar a verdade à maneira da máquina das salsichas. Introduzam-se premissas verdadeiras num argumento indutivo sólido e sai provavelmente uma conclusão verdadeira do outro lado.
Uma vez mais, se é a verdade que buscamos, trata-se de um belo resultado.

Stephen Law, The War for Children’s Minds (Londres & Nova Iorque, 2006). Trad. Carlos Marques.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Texto para resumo Marquinha 10B

 


A Argumentação é um instrumento sem o qual não podemos compreender melhor o mundo nem intervir nele de modo a alcançar os nossos objetivos; não podemos sequer determinar com rigor quais serão os melhores objetivos a ter em mente. Os seres humanos estão sós perante o universo; têm de resolver os seus problemas, enfrentar dificuldades, traçar planos de ação, fazer escolhas. Para fazer todas estas coisas precisamos de argumentos. Será que a Terra está imóvel no centro do universo? Que argumentos há a favor dessa ideia? E que argumentos há contra ela? Será que Bin Laden é o responsável pelo atentado de 11 de Setembro? Que argumentos há a favor dessa ideia? E que argumentos há contra? (…) O que é a consciência? Será que alguma vez houve vida em Marte? Queremos respostas a todas estas perguntas e a muitas mais. Mas as respostas não nascem das árvores nem dos livros estrangeiros; temos de ser nós a procurar descobri-las. Para descobri-las temos de usar argumentos. 


E quando argumentamos podemos enganar-nos; podemos argumentar bem ou mal. É por isso que a lógica é importante. A lógica permite-nos fazer o seguinte:

1) Distinguir os argumentos corretos dos incorretos;

2) Compreender por que razão uns são corretos e outros não; e

3) Aprender a argumentar corretamente.


Os seres humanos erram. E não erram apenas no que respeita à informação de que dispõem. Erram também ao pensar sobre a informação de que dispõem, ao retirar consequências dessa informação, ao usar essa informação na argumentação. Muitos argumentos incorretos não são enganadores: são obviamente incorretos. Mas alguns argumentos incorretos parecem corretos. Por exemplo, muitas pessoas sem formação lógica aceitariam o seguinte argumento:


Tem de haver uma causa para todas as coisas porque todas as coisas têm uma causa.


Contudo este argumento é incorreto. A lógica ajuda-nos a perceber por que razão este argumento é incorreto, apesar de parecer correto. Chama-se “válido” a um argumento correto e “inválido” a um argumento incorreto.

 


Desidério Murcho, O lugar da Lógica na Filosofia, Plátano, 2003, pp. 9, 10



terça-feira, 7 de outubro de 2025

Texto para resumo e análise Maria Rodrigues 10B




COMO USAM OS FILÓSOFOS AS CELULAZINHAS CINZENTAS
 
Raciocinar em filosofia é semelhante a raciocinar em outras áreas. Frequentemente raciocinamos acerca de questões como 'Quem cometeu o crime?', 'Que carro comprar?',  'Há um número primo maior do que todos?' ou 'Como curar o cancro?' Ao abordar estes temas, clarificamos as questões e colhemos informação de fundo. Consideramos o que outros disseram sobre o assunto. Consideramos perspectivas alternativas e as objecções a estas. Fazemos distinções e pesamos os prós e contras. O clímax do processo atinge-se quando tomamos posição e tentamos justificá-la. Explicamos que a resposta tem de ser tal e tal e apontamos para outros factos que justificam a nossa resposta. Isto é raciocínio lógico, no qual vamos de premissas para uma conclusão.
Raciocinar logicamente é concluir algo a partir de algo diferente. Por exemplo, concluir que foi o mordomo que cometeu o homicídio a partir das crenças (1) ou foi o mordomo ou a criada e (2) a criada não pode ter sido. Se colocamos o racicínio em palavras temos um argumento - uma série de proposições consistindo em premissas e uma conclusão:

Ou foi o mordomo ou a criada.
A criada não foi.
Logo, foi o mordomo.

[…] Este argumento é válido, o que significa que a conclusão se segue logicamente das premissas. Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão tem de ser verdadeira. Portanto, se podemos ter confiança nas premissas, podemos estar confiantes de que foi mordomo que cometeu o crime.
Dizer que um raciocínio é válido é dizer que a conclusão se segue das premissas e não que as premissas são verdadeiras. Para provar algo precisamos, além da validade do argumento, de premissas verdadeiras. Provamos a nossa conclusão se ela se segue logicamente de premissas claramente verdadeiras.  
A filosofia envolve muito raciocínio lógico. A forma mais comum de raciocínio lógico em filosofia consiste em atacar-se uma tese P argumentando que ela conduz ao absurdo Q:

Se P é verdadeiro, então Q também o será.
Q é falso.
Logo, P é falso.

Ao examinarmos uma tese, consideramos as suas implicações e vamos à procura das falhas. Se encontramos implicações claramente falsas, então mostrámos que a tese é falsa; se encontramos implicações altamente duvidosas, então a tese é duvidosa.
Na formação das nossas perspectivas filosóficas são igualmente importantes o raciocínio e o empenho pessoal. O raciocínio só por si não resolve todas as disputas. Uma vez considerados os argumentos de um lado e de outro, temos de tomar uma decisão. Se nos decidimos por uma perspectiva que levanta fortes objecções, temos de estar à altura de lhes responder.

 
Harry Gensler, Ethics - A Contemporary Introduction. (London & New York, 1998, p. 3). Tradução de Carlos Marques.
Tenha em conta as regras para a realização do resumo

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Texto para resumo Francisco 10B

 


Os textos filosóficos têm conclusões, razões, críticas e respostas. Primeiro, discirna o que o autor espera defender (Tese). Embora a conclusão seja geralmente declarada bem no início, pode ser que esteja no final da primeira secção, bem como pode não ser declarada com clareza até a secção final do ensaio. Segundo, descubra por que o autor acha que está certo. Tipicamente, o argumento inicial deve aparecer no início no ensaio, mas pode ser que não seja mobilizado por completo até o final. Ao longo do texto, é provável que o autor considere objeções às asserções que faz. É importante notar a mudança na voz que procede a explicação de uma objeção. Por exemplo, um leitor pode ver “críticos dessa ideia podem argumentar…” Essas mudanças, frequentemente breves, e às vezes apenas implícitas, para a voz do crítico são cruciais para localizar o argumento. Em quase todos os casos, uma objeção será seguida por um retorno à voz do autor: “Como resposta...”. Marcar onde os movimentos do argumento, da crítica e da resposta ocorrem, torna muito mais fácil reunir todo o argumento. (…)

À sua vontade, pense nas razões adicionais que poderia haver para pensar que o autor está correto ou incorreto. Pondere se: nossa experiência de vida fornece alguma revelação sobre os méritos dos argumentos? Caso o autor esteja correto, quais são as consequências? Para a verdade? Para as suas crenças? Para como você deve viver? Discuta com amigos sobre os argumentos, especialmente com aqueles que provavelmente discordarão de você. Elabore críticas adicionais e veja se consegue imaginar respostas em nome do autor.

David W. Concepción, Ler como um filósofo

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Texto para resumo Eunice 10B


                
 A melhor maneira de nos iniciarmos na filosofia é colocar perguntas filosóficas:Como se formou o mundo? Haverá uma vontade ou um sentido por detrás daquilo que acontece? Haverá vida depois da morte? Como podemos encontrar resposta para estas perguntas? E, acima de tudo, como deveríamos viver?
                Estas perguntas foram colocadas desde sempre pelos homens. Não conhecemos nenhuma cultura que não tenha perguntado quem são os homens e de onde vem o mundo.
                As perguntas filosóficas que podemos colocar não são muitas mais. Já colocámos algumas das mais importantes. A história oferece-nos muitas respostas diferentes para cada uma destas perguntas.
                Por isso, é mais fácil formular perguntas filosóficas do que encontrar a sua resposta.
                Mesmo hoje, cada um deve encontrar as suas respostas para estas perguntas. Não podemos saber se Deus existe ou se há vida depois da morte, consultando a enciclopédia. A enciclopédia não nos diz como devemos viver. Mas ler o que outros homens pensaram pode no entanto ser uma ajuda, se quisermos formar a nossa própria concepção da vida e do mundo.
                A busca da verdade pelos filósofos pode ser talvez comparada a um romance policial. Alguns pensam que Andersen é o assassino, outros pensam que é Nielsen ou Jepsen. Talvez o verdadeiro mistério deste crime possa ser um dia esclarecido subitamente pela polícia. Podemos também pensar que a polícia nunca conseguirá resolver o enigma. Mas este tem, no entanto, uma solução.
                Mesmo quando é difícil responder a uma pergunta, é possível imaginar que a pergunta possa ter uma — e apenas uma — resposta correcta. Ou há uma forma de vida após a morte ou não.
                Muitos enigmas antigos foram entretanto resolvidos pela ciência. Outrora, o aspecto da face oculta da Lua era um grande mistério. Não se podia descobrir a resposta através da discussão, e assim era deixada à imaginação de cada um. Mas hoje em dia sabemos exactamente qual é o aspecto da face oculta da Lua. Já não podemos acreditar que haja um homem a viver na lua, ou que ela seja um queijo.
 
Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia