quarta-feira, 12 de janeiro de 2022








"Pondo de lado algumas utilizações puramente técnicas da palavra "ação" (por exemplo, ação como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra assenta na produção ou no causar um efeito. 

A palavra "ação" emprega-se, por vezes, para falar de animais não humanos (diz-se que a ação das cegonhas é benéfica para a agricultura) ou até, inclusivamente, de seres inanimados (diz-se que a gravidade é uma forma de ação à distância. No entanto, empregamos sobretudo a palavra "ação" para falar do que fazem os Homens. Aqui só nos interessa este tipo de ação, a ação humana . As nossas ações (algumas) são as coisas que fazemos. 

Na realidade, o verbo "fazer" abarca um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo "ação". O latim distingue o agere  do facere, que em francês, por exemplo, dão agir e faire (em português "agir" e "fazer"). O substantivo latino  derivado do agere, deu  lugar ao substantivo ação. 

Tudo o que fazemos faz parte da nossa conduta, mas nem tudo o que fazemos constitui uma ação.

Enquanto dormimos, fazemos muitas coisas: respiramos, transpiramos, sonhamos, damos voltas e andamos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas fazemos inconscientemente. Fazemo-las, mas não nos damos conta disso, não temos consciência de que as fazemos, por isso não lhes vamos chamar ações. 

Reservamos o termo "ação" para aquelas coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos.

 Uma ação é uma interferência consciente e voluntária de uma pessoa (o agente) no decurso normal dos acontecimentos, os quais sem a sua interferência teriam seguido um caminho diferente. Uma ação consta, assim, de um evento que acontece graças à interferência de um agente que tenha a intenção de interferir de modo a que tal evento aconteça".

 


J.Mosterin, Racionalidade e Ação Humana, seleção de parágrafos, Alianza Universidad. Madrid.1987 (Clayton Silva)



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