quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Texto para resumo Dário Barros 10ºB


"Supõe que estás na fila de uma cantina e que, quando chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa cobertura de natas. O bolo tem bom aspeto, mas sabes que engorda. Ainda assim, tiras o bolo e comê-lo com prazer. No dia seguinte vês-te ao espelho, ou pesas-te, e pensas: ‘Quem me dera não ter comido o bolo de chocolate. Podia ter comido antes o pêssego’.

Havia pêssegos quando estavas na fila da cantina: e tiveste oportunidade de ter tirado antes um pêssego. Mas não é apenas isso que queres dizer. Queres dizer que podias ter tirado o pêssego em vez do bolo. Podias ter feito algo diferente daquilo que realmente fizeste. Antes de te teres decidido, estava em aberto se havias de tirar fruta ou bolo, e foi apenas a tua escolha que decidiu qual dos dois havias de comer.

Quando afirmas “podia ter comido antes o pêssego”, queres dizer que isso dependia apenas da tua escolha?” Mas isto ainda não parece suficiente: Não queres apenas dizer que, se tivesses escolhido o pêssego, teria sido isso que terias comido. Quando dizes “podia ter comido antes o pêssego”, também queres dizer que podias tê-lo escolhido – não há aqui 'ses' nenhuns.

Mas que quer isto dizer?

Não pode ser explicado fazendo notar outras ocasiões em que de facto escolheste comer fruta. O que estás a dizer é que podias ter escolhido um pêssego em vez de bolo de chocolate naquele momento, tal como as coisas realmente eram. Pensas que podias ter escolhido um pêssego mesmo que todas as restantes coisas fossem exactamente da mesma maneira até ao momento em que de facto escolheste bolo de chocolate.

Esta é uma ideia de “pode” ou “poderia” que aplicamos só às pessoas (e talvez a alguns animais). Quando dizemos “o carro podia ter chegado ao cimo da colina”, queremos dizer que o carro tinha potência suficiente para chegar ao cimo da colina se alguém o tivesse conduzido até lá.

Até ao momento em que escolhes nada determina irrevogavelmente qual será a tua escolha. Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida." (…)

Thomas Nagel, O que quer dizer tudo isto? – Uma iniciação à Filosofia, Gradiva, 1995, pág. 45-46.


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