sábado, 14 de novembro de 2020

Texto para resumo Daniel 10ºB

 


"Se os argumentos dedutivos e por analogia são muito utilizados na filosofia, o mesmo já não acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como argumentos indutivos ou generalizações. Contudo, são os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opiniões das pessoas resulta de processos indutivos de raciocínio. É o que se verifica em afirmações comuns como “os alentejanos são preguiçosos”, “os alemães são racistas”, “todos os seres humanos morrem”, “o Sol vai nascer amanhã”, “as mulheres são mais sensíveis do que os homens”, etc. A forma dos argumentos indutivos é a seguinte:

Alguns A são B.
Logo, todos os A são B.

Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o número de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia lógica de que a conclusão seja verdadeira. Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusão falsa. Portanto, os argumentos indutivos, como já acontecia com os analógicos, não são válidos ou inválidos. Veja-se o seguinte exemplo:

Os cisnes observados até agora são brancos.
Logo, todos os cisnes são brancos.

Note-se que a premissa, ao referir todos “os cisnes observados até agora”, está a referir apenas alguns cisnes e não todos os que existem. Apesar disso, dificilmente diremos que não constitui uma boa razão para concluir que todos os cisnes são brancos. De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até então desconhecido (a Austrália) em que os cisnes são pretos. Bastava, aliás, que um só cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusão anterior. Mas será que alguém considera fraco o argumento seguinte?

Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.
Logo, todas as esmeraldas são verdes.

É claro que este é um bom argumento. Não é logicamente impossível que a conclusão seja falsa. Mas é improvável. Assim, uma indução é forte se, e só se, for improvável, mas não logicamente impossível, que a sua conclusão seja falsa. Caso contrário a indução é fraca. Tudo depende, como é óbvio, da força com que as premissas apoiam a conclusão. Os argumentos indutivos não são, de resto, invulgares nas ciências empíricas. Algumas das descobertas científicas são o resultado de generalizações fortemente apoiadas em observações e experiências realizadas. O que não significa que essas generalizações não tenham de ser constantemente testadas pelos próprios cientistas. Uma vez que sabem que não é logicamente impossível que as suas conclusões sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observações, os cientistas procuram testá-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas. No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso não significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar é fazer generalizações apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso"

Excerto de Aires de Almeida, Lógica Informal, disponível em https://criticanarede.com/filos_loginformal.html 

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