terça-feira, 21 de abril de 2020

Textos para resumo: Gabriel 10B e Diogo 10A, Chloé e Daniela 10A


Quadro de Sorolla


TEXTO1 - GABRIEL E DIOGO 
"- Sim, quando Kant descreve a lei moral, descreve a consciência humana. Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemo-lo. - Por vezes, sou muito simpático para com os outros simplesmente porque é vantajoso para mim. Desse modo, posso ser popular. - Mas quando és simpática para com os outros apenas para seres popular, não estás a agir de acordo com a lei moral. Talvez não estejas a observar a lei moral. Talvez estejas a agir numa espécie de acordo superficial com a lei moral - e isso já é alguma coisa -, mas uma ação moral tem de ser o resultado de uma superação de ti mesma. Só quando fazes algo porque achas ser teu “dever” seguir a lei moral é que podes falar de uma ação moral. Por isso, a ética de Kant é frequentemente chamada “ética do dever”.
- Eu posso achar ser meu dever juntar dinheiro para a Cruz Vermelha ou a Caritas. - Sim, e o importante é tu fazeres uma coisa porque a achas correta. Mesmo quando o dinheiro que tu juntaste se extravia ou nunca alimente as pessoas que devia alimentar, tu cumpriste a lei moral. Agiste com a atitude correta e, segundo Kant, a atitude é decisiva para podermos dizer que uma coisa é moralmente correta. Não são as consequências de uma ação que são decisivas. Por isso, também dizemos que a “ética de Kant é uma ética da boa vontade”.
 - Porque é que era tão importante para ele saber quando é que agimos por respeito à lei moral? Não é mais importante que aquilo que fazemos ajude os outros? - Sim, Kant concordaria, mas só quando sabemos que agimos por respeito à lei moral é que agimos em “liberdade”.
- Só obedecendo a uma lei é que agimos em liberdade? Isso não é estranho?
- Segundo Kant, não. Talvez ainda te lembres que ele "postulou" o livre arbítrio do homem. Esse é um ponto importante, porque Kant achava que todas as coisas seguem a lei da causalidade. Como é que podemos ter livre arbítrio assim?
-Não me perguntes.
 - Aqui, Kant divide o homem em duas partes, e nisso faz lembrar Descartes, que afirmava que o homem era um ser duplo visto que tem corpo e razão. Enquanto seres sensíveis, estamos completamente sujeitos às leis imutáveis da causalidade, segundo Kant. Não decidimos o que sentimos; as sensações surgem necessariamente e influenciam-nos, quer queiramos quer não. Mas o homem não é apenas um ser sensível. Somos também seres racionais. - Explica-me isso! - Enquanto seres sensíveis, pertencemos à ordem da natureza. Por isso estamos sujeitos à lei da causalidade. Deste ponto de vista, não temos livre arbítrio. Mas enquanto seres racionais, participamos no mundo "em si" – ou seja, no mundo independente das nossas sensações. Só quando seguimos a nossa "razão prática" - que nos possibilita fazer uma escolha moral -, temos livre arbítrio. Se obedecermos à lei moral, somos nós que fazemos a lei pela qual nos orientamos.
-Sim, isso está certo. Eu digo - ou alguma coisa em mim diz - que eu não devo ser má para os outros. - Se decides não ser má - mesmo quando ages contra o teu próprio interesse - então estás a agir livremente. - Pelo menos, não somos livres e autónomos quando seguimos apenas os nossos instintos. - Podemos fazer-nos escravos de tudo. Sim, podemos inclusivamente ser escravos do nosso próprio egoísmo. Para nos elevarmos acima dos nossos instintos e vícios é necessário autonomia - e liberdade.
- E quanto aos animais? Eles seguem só os seus instintos e necessidades. Não têm essa liberdade de seguir uma lei moral? 

- Não, é justamente esta liberdade que nos torna seres humanos. - Estou a ver. “



Jostein Gaarder “ O Mundo de Sofia” p.296/297

TEXTO 2 - CHLOÉ

"Pode-se dizer que, pelo menos desde Kant, o discurso da filosofia moderna em matéria de ética gira em torno da questão da “fundamentação” da moral, ou, mais precisamente, do princípio universal da moralidade, da chamada “lei moral”. Enquanto que, para os antigos, a tarefa da ética consistia fundamentalmente na explicação do “bem”, e em particular, nomeadamente em Aristóteles, do “bem humano”, os modernos veem na fundamentação da “lei moral” a tarefa central, essencial e, para alguns autores, praticamente exclusiva da ética enquanto disciplina filosófica.
Convém começar por explicitar os níveis do questionamento moral que suscitaram a tarefa da fundamentação. Podemos distinguir três níveis deste questionamento. Num primeiro nível da reflexão moral, o nível mais primário e espontâneo, a questão moral mais ou menos implícita é, no fundo: Como me devo comportar na sociedade em que vivo? O que é o bem e o mal nesta sociedade? Com esta questão, o sujeito começa por procurar regras ou normas suscetíveis de orientar o seu agir no âmbito da interação social. Nas sociedades mais tradicionais e/ou pré-modernas, estas normas provêm da tradição cultural ou da religião (que é um núcleo central dessa tradição).
Num segundo nível de questionamento, que também já pode ser considerado um primeiro nível do questionamento da ética, enquanto reflexão filosófica sobre a moral, coloca-se a questão de saber se uma dada ação, e, portanto, a regra ou norma que ela atualiza (aquilo a que Kant chama “máxima”), seja qual for a sua proveniência (tradição, religião, doutrina filosófica, convenção social, etc.), é correta ou não, válida ou não, “verdadeira” ou “falsa” no plano normativo. A resposta a esta pergunta requer a formulação de um princípio universal que permita subsumir e, assim, justificar toda e qualquer norma de natureza moral. Na deontologia moral kantiana a primeira tarefa da ética é a formulação deste princípio, o qual servirá de teste de validade que pode  ser aplicado a toda e qualquer ação, ou, mais precisamente, a toda e qualquer “máxima” de ação. A verdadeira questão da fundamentação só surge, na sequência da formulação do princípio universal, a um terceiro nível de interrogação. Não se trata apenas de formular um princípio universal que possa servir de teste de verificação da “correção” ou verdade moral, mas de “fundamentar”  um tal princípio. O problema central que põe esta fundamentação é que o que está aqui em causa não é apenas a sustentação lógica de um “princípio”, mas, mais profundamente, a justificação de uma atitude, da atitude moral ou do “ponto de vista moral” enquanto tal. O que se trata de justificar é a moralidade. Esta questão de terceiro nível é, em última instância, a de saber “porque devo agir moralmente” ou “porque devo ser moral”."

O que é e para que serve a moral? José Manuel Santos



TEXTO 3 - DANIELA -Este texto está no manual na página 126 

" As teorias éticas baseadas no dever sublinham que cada um de nós tem certos deveres – ações que devemos executar ou não – e que agir moralmente é equivalente a cumprir o nosso dever, sejam quais forem as consequências que daqui surgirem. É esta ideia – a de que algumas ações são absolutamente boas ou más independentemente dos resultados a que derem origem – que distingue as teorias éticas baseadas nos deveres ( também conhecidas por deontológicas ) das teorias éticas consequencialistas. [...] duas teorias baseadas no dever são a ética cristã e a ética kantiana ( do filósofo Immanuel Kant ).
[...]
O termo "consequencialismo" é usado para descrever teorias éticas que ajuízam da retidão ou não de uma ação, não através das intenções do autor da ação como as deontológicas, mas antes através das consequências das suas ações. Enquanto Kant afirmaria que dizer uma mentira é sempre errado, sejam quais forem as possíveis benefícios que daí possam resultar, um consequencialista julgaria o ato de mentir através dos seus resultados efetivos ou previstos. O utilitarismo é o tipo mais bem conhecido de teoria ética consequencialista. O seu mais famoso representante foi John Stuart Mill [...] ."

Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia

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