segunda-feira, 15 de março de 2021

Três ideias sobre os valores morais. Correção do exercício.





Pedro: Pela minha parte, acho que ao dizer que o João é honesto estou a transmitir um sentimento de agrado mas também estou a dizer uma verdade. Estou a descrever o tipo de sentimento que tenho pelo João. Não é um sentimento qualquer. É um sentimento favorável ao João. Julgo que sim. Ao dizer que o João é honesto é como se estivesse a falar também de mim próprio, da minha experiência interior (dos meus sentimentos). Estou a descrever o que sinto. Uma pessoa que diga “A eutanásia é injusta” está apenas a dizer algo como “Não gosto que a eutanásia seja aplicada”, ou seja, está apenas a descrever o que sente, que tem sentimentos negativos acerca da eutanásia. E se estiver a ser sincera, isso é verdade. Mas uma pessoa que diga “Permitir a eutanásia é uma questão de justiça” também estaria a falar apenas dos seus sentimentos. Neste caso, estaria a dizer que tem um sentimento positivo em relação à eutanásia. Como a primeira, se estiver a ser sincera, é verdade o que diz.
Qual é a posição do Pedro acerca dos valores? Justifique

A posição do Pedro é subjetivista acerca dos valores porque defende que os nossos juízos morais como “O João é honesto” traduzem o sentimento de agrado ou desagrado em relação às ações realizadas pelo João, é verdadeiro em relação ao sentimento do sujeito que julga, mas ele está a descrever um estado de espírito seu e não uma verdade universal acerca do João, outros sujeitos podem ter um outro sentimento, logo, outro juízo moral acerca das ações do João.



Joana: Não. Acredito na existência de verdades morais como acredito que a Terra é redonda. Os valores morais não podem depender, em caso algum, apenas do ponto de vista de cada pessoa ou cultura. As pessoas, como eu, que acreditam em verdades morais objetivas acham que certas práticas são tão odiosas e repugnantes que apenas os preconceitos de certas sociedades permitem que as pessoas não reparem nisso. Mas, se formos além do que a maioria das pessoas pensa, se usarmos a nossa própria razão e sentido crítico, poderemos ver que essas práticas estão erradas. Não estão erradas apenas para mim. Estão mesmo erradas. 
A Joana concorda com o Pedro? Justifique
 Não, a Joana não concorda com o Pedro, ela considera que os nossos juízos morais não dependem do que o sujeito sente, ela considera que há ações moralmente corretas ou incorretas, se há divergência acerca do valor moral das ações é porque alguns sujeitos não querem ver, estão inseridos numa certa cultura que não os deixa julgar bem, têm preconceitos e por isso julgam mal.  As ações são boas ou más por si e não dependem do que os sujeitos julga. Para a Joana um juízo moral é como um juízo de facto, tem valor de verdade, como por exemplo “A terra é redonda”. Os juízos morais dependem do conhecimento e não da opinião.



Fernando: Dá exemplos.
Joana: A excisão, por exemplo. A mutilação do clítoris que certos povos africanos têm o hábito de fazer às raparigas. Eu penso que é profundamente errado fazer isso, pensem essas pessoas o que pensarem.
Fernando: Pelos nossos padrões culturais, sem dúvida. Esse ato repugna profundamente a minha sensibilidade. Mas não acho que apenas o preconceito impeça esses povos de verem o que a mim parece razoável. A minha ideia do que é racional ou razoável nesta situação depende da forma como a minha sensibilidade foi educada, depende dos costumes a que fui assistindo e daquilo que a sociedade me diz que é correto ou incorreto. A razão reflete o modo como os nossos valores e práticas culturais moldaram a nossa forma de sentir.
Joana: Eu gostaria que a excisão deixasse se existir. Todas essas práticas só criam sofrimento inútil.

Que opinião tem o Fernando sobre os valores?  
O Fernando defende que não há um padrão que permita julgar de forma imparcial as acções morais, pois cada um está dentro de uma cultura e julga segundo os valores da sua cultura. Os valores morais são, para o Fernando, relativos à cultura de cada um e só são verdadeiros para essa cultura, para outra podem ser falsos. Os juízos morais dependem da nossa educação e esta é moldada pela cultura onde nos inserimos.



Como se chama a essa perspectiva? Chama-se relativista cultural e moral.



Qual a objeção que a Joana coloca?

 A Joana coloca a objeção de não termos que concordar com todas as práticas de outras culturas, porque há certas práticas como a excisão que são moralmente condenáveis, seja qual for a cultura, a razão que ela dá é o sofrimento inútil que certas práticas culturalmente aceites provocam sobre certas pessoas.



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