quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ALGUNS TÓPICOS SOBRE A ÉTICA DE KANT

1. A Ética é o reino dos fins, isto é o modo como o homem estabelece os valores que pretende atingir através da sua acção no mundo.

2. A Ética de Kant é uma ética deontológica, isto significa que estabelece deveres absolutos que não têm excepção e que têm necessariamente de ser cumpridos se queremos que as nossas acções sejam correctas moralmente. As acções correctas são aquelas que obedecem ao dever. Não é o resultado das acções que conta, também não contam as suas consequências, o que conta na acção são as intenções , os princípios que o sujeito segue.

3.a. Há acções que vão contra o dever e essas são proibidas moralmente. (matar inocentes) e em nenhuma circunstância permitidas.

b. Acções conforme ao dever, estão de acordo com o dever mas a sua intenção não é moral, isto é a intenção é satisfazer uma necessidade, um interesse ou uma inclinação.
c. Por fim as acções que se fazem apenas por obediência ao dever e respeito absoluto pela lei, essas são acções com conteúdo moral e o sujeito que as pratica é um sujeito moral.
4. A mesma acção pode ser praticada com diferentes intenções: posso ajudar um amigo por compaixão, para obter um benefício (por exemplo, para ficar bem visto) ou por sentir que tenho esse dever.

Para determinar o valor moral de uma acção é preciso saber a intenção com que foi praticada porque a razão é que determina o fim da acção e é o fim da acção que é moral, e porque só uma vontade livre de inclinações subjectivas pode assegurar  o valor moral da acção, o seu valor universal.
Segundo Kant, ajudar um amigo só tem valor moral se isso tiver sido feito em nome do dever.


5. A ética é um sistema de regras absolutas;

As regras morais devem ser respeitadas independentemente das consequências;

As regras (deveres) morais são leis que a razão estabelece para todos os seres racionais.

As obrigações morais são absolutas porque não estão sujeitas a excepções, mesmo se aplicá-las tem consequências negativas para o sujeito. Só assim garantimos a universalidade da lei moral.
A obrigação de não mentir não varia consoante as circunstâncias, devendo nuns casos ser respeitada e não o ser noutros. essa obrigação impõe-se como uma lei do ser racional.
As obrigações morais não são impostas por Deus nem resultam dos nossos sentimentos.

Kant pensava que só somos realmente livres se formos nós próprios a definir as leis a que o nosso comportamento deverá obedecer.



6.IMPERATIVOS HIPOTÉTICOS E CATEGÓRICOS

Uma obrigação (ou imperativo) é hipotética quando existe apenas em certas condições, mas não noutras.
Tenho a obrigação de estudar para os exames de acesso a Medicina apenas na condição de querer ser médico.
Esta obrigação apenas existe em função de o agente ter um certo desejo.
Se o agente abandonar o desejo relevante, a obrigação desaparece também.
Serão as nossas obrigações morais apenas hipotéticas?
Se a moral fosse seguir regras hipotéticas, só teríamos, por exemplo, a obrigação de ajudar os outros em certas condições, não em todas. Mas temos o dever de ajudar quem precisa em todas as circunstâncias, quaisquer que sejam os nossos desejos.
A obrigação de ajudar os outros não deixa de existir porque deixámos, por exemplo, de querer agradar. Continua a existir mesmo nesse caso.
Kant conclui que a obrigação de não mentir (como todas as outras obrigações morais), não são hipotéticas.
Mentir, roubar ou matar pessoas inocentes, não é permissível pois as máximas destas acções não são universalizáveis:
As Obrigações morais particulares como não mentir, não roubar ou não matar pessoas inocentes, têm em comum o facto de as suas máximas (A regra/norma que é proposta pela acção) serem universalizáveis.



Esta característica comum reflecte a nossa obrigação moral básica: agir segundo máximas que todos possam também seguir.



Esta obrigação moral é o fundamento de todas as nossas obrigações morais particulares.



Trata-se do IMPERATIVO CATEGÓRICO ou lei moral.



• OBJECÇÕES À MORAL KANTIANA



• Kant pensava que a exigência de praticar apenas acções cujas máximas pudessem ser universalizadas garantia que as regras morais eram absolutas.



• Elisabeth Anscombe, uma filósofa inglesa do século XX mostrou que Kant estar enganado neste ponto.



• O respeito pelo imperativo categórico não implica a obrigação de não mentir em todas as situações



• A ideia de que temos a obrigação de não mentir seja em que circunstância for não é fácil de defender.



• Kant acreditava que as regras morais serem absolutas é uma consequência de apenas serem permitidas as acções cujas máximas podem ser universalizadas.



• Isto levou-o a concluir que obrigações como respeitar a palavra dada ou não mentir, não dependem das circunstâncias, sejam quais forem as consequências.



• Um exemplo pode mostrar que Kant não tem razão.



• Durante a segunda guerra mundial, Helga esconde em sua casa uma amiga judia para evitar ser deportada para um campo de extermínio. Um dia, um oficial nazi bate à porta de Helga e pergunta onde está a sua amiga.



• Segundo Kant, Helga tinha o dever de dizer a verdade.



• A máxima “É permissível mentir” não pode ser universalizada: se todos mentissem ninguém acreditaria em nada e mentir deixava de ser eficaz.
• Mas a máxima “Mente na condição de isso permitir salvar a vida a um inocente” não tem este defeito.«, isto é, pode ser universal.

OUTRA OBJECÇÃO

Kant não responsabiliza o agente moral pelas consequências materiais da acção. Uma acção cuja intenção é boa, não pode ter directamente consequências nefastas. Mas esta acção de não mentir obedeceria ao dever mas teria consequências graves para a amiga de Helga. Logo, poderemos acusar esta teoria de formal ou ideal. Num mundo ideal "não mentir" seria sempre obrigatório mas no mundo real, "não mentir" pode ter consequências materiais graves, das quais o agente moral é também responsável. Os deveres morais não podem depender das circunstâncias porque se assim for há sempre justificação para não se cumprirem e a moral será uma quimera, uma mera ilusão. Mas o agente moral não é só responsável por si, também é responsável pelos outros e pela sua felicidade e bem estar. Esse princípio não é importante, porque consideraria Kant, não podemos legislar sobre a felicidade só sobre o que devemos fazer.

Exercícios:

1.O que distingue o imperativo categórico do hipotético?

2.O que são acções correctas moralmente?

3.Como distinguir uma acção com conteúdo moral de outra que não o tem?

4.Qual é a principal objecção à teoria Ética de Kant?

5. Qual seria a obrigação de Helga? Mas seria a sua obrigação o melhor?


Um comentário:

Unknown disse...

Textos bastante esclarecedores. Muito bom trabalho, ajudou-me bastante! Obrigado!!!