Faustino Vaz
Retirado DAQUI
um blog com materiais para as aulas
No livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Kant aplica esta ideia a quatro exemplos. O primeiro descreve um homem cansado da vida que tenciona suicidar-se. O homem considera a máxima de pôr termo à vida se continuar a viver produziria mais dor que prazer. Kant diz que é
duvidoso se este princípio de amor-próprio possa tornar-se uma lei universal da natureza. Imediatamente se vê uma contradição num sistema natural cuja lei fosse destruir a vida, dada a convicção de que a especial função de tal sistema é promover o aperfeiçoamento da vida. Neste caso, tal sistema natural não poderia existir. Logo, esta máxima não pode tornar-se lei universal da natureza e assim contradiz o princípio supremo de todo o dever.
Kant sugere que é impossível existir um mundo no qual todos os seres vivos decidem cometer suicídio quando as suas vidas prometem mais dor que prazer. Dado que não pode existir um mundo desses, é errado o indivíduo do exemplo de Kant cometer suicídio. O acto é errado porque não pode ser universalizado.
O segundo exemplo diz respeito a cumprir promessas. Precisas de dinheiro e ponderas se o pedes emprestado. A questão é se seria permissível prometeres pagar o empréstimo mesmo que não tenhas a intenção de o fazer. Kant argumenta que a moralidade exige que cumpras a promessa (e por isso que não peças dinheiro emprestado com falsas intenções):
Dado que a universalidade da lei segundo a qual uma pessoa em dificuldade pode prometer o que lhe convier com a intenção de não cumprir a promessa tornaria impossíveis a própria promessa e o fim que ela persegue; nenhuma pessoa acreditaria no que lhe foi prometido e tais vãs intenções apenas a fariam rir.
O que Kant está a dizer é que cumprir promessas não poderia estabelecer-se como prática se todos os que fizeram promessas tinham a intenção de não as cumprir. O que quer dizer que tal prática pode existir apenas porque as pessoas habitualmente são dignas de confiança. Mais uma vez, a razão de sermos obrigados a cumprir as nossas promessas é que seria impossível um mundo no qual todos fizessem promessas com a intenção de as quebrar. A universalizabilidade é a prova de fogo.
Elliot Sober,
A teoria moral de Kant
Conteúdos/Competências:
1 – O problema
da natureza dos valores morais:
1.1. Distinção
juízo de facto/juízo de valor.
1.2.
Exemplificação de juízos de facto e juízos de valor.
1.3.
Identificação de juízos de facto e juízos de valor.
1.4. Formulação
do problema da natureza dos juízos morais.
1.5. Explicação
das teses das principais teorias sobre os juízos morais; Subjetivismo,
relativismo e objetivismo.
1.6.
Explicitação dos principais argumentos de cada uma destas teorias.
1.7.
Apresentação das principais críticas/objeções a estas teorias.
1.8. Avaliação
dos argumentos e objeções destas teorias e tomada de posição fundamentada.
1.9.
Enunciação dos problemas da ética prática, normativa e metaética.
2. O problema do fundamento da ação moral:
2.1. A teoria deontológica de Kant:
2.2. Distinguir ações por dever, conforme ao dever e contra o dever
2.3. Explicar o critério deontológico da ação moral; agir tendo como
intenção o cumprimento do dever pelo dever.
2.4. Justificar porque é que não são as consequências, mas sim a intenção
que contam para a avaliação da ação moral.
2.5. Esclarecer o conceito de “boa vontade”.
2.6. Relacionar o imperativo categórico com a lei moral.
2.7. Apresentar o imperativo categórico nas suas duas formulações.
2.8. Distinguir o imperativo categórico e o imperativo hipotético.
2.9. Aplicar a formulação das máximas universalizáveis a várias situações.
2.10. Relacionar a heteronomia e a autonomia da vontade.
2.11. Avaliar a teoria deontológica a partir das suas críticas.
Estrutura
da prova:
Primeira
parte- Avalia a competência de conceptualização.
Grupo 1:
10 questões de escolha múltipla (10x15=150 Pontos)
Grupo 2: Duas questões de definição de conceitos (2x25 Pontos= 50 Pontos)
Total –
200 Pontos
5
Questões. (5x40=200 Pontos)
ARGUMENTAÇÃO
–
Resposta
estruturada e desenvolvimento do conteúdo. Exige conhecimento do tema e
justificação das respostas dadas. Exposição de razões.
Interpretação/Análise
dos argumentos e das teses de um de texto.
PROBLEMATIZAÇÃO
-
Saber
formular questões/problemas. Colocar objeções a uma teoria. Avaliar
criticamente uma teoria.
Competências
gerais:
1.
Dominar com rigor os conhecimentos exigidos para responder às questões.
2. Utilizar os conceitos filosóficos.
3. Expor de forma clara e objetiva o pensamento.
4. Saber analisar logicamente um texto.
5.
Selecionar no texto o que é necessário para responder.
6. Aplicar os conhecimentos adquiridos a novas situações.
7. Avaliar as várias teorias contrapondo argumentos.
8. Justificar com razões fortes as suas posições.
9. Escrever com correção.
“- Kant tinha
desde o princípio a forte impressão de que a diferença entre o justo e o
injusto tinha de ser mais do que uma questão de sentimentos. Nesse aspeto ele
estava de acordo com os racionalistas, que tinham explicado que era inerente à
razão humana distinguir o justo do injusto. Todos os homens sabem o que é justo
e o que não é, e nós sabemo-lo não apenas porque o aprendemos, mas também
porque é inerente à nossa razão. Kant achava que todos os homens tinham
uma “razão prática” que nos diz sempre o que é justo e
o que é injusto no domínio da moral.
- Então é
inata?
- A
capacidade de distinguir o justo do injusto é tão inata como
todos os outros atributos da razão. Todos os homens veem os fenómenos como
determinados causalmente – e também têm acesso à mesma lei moral universal.
Esta lei moral tem a mesma validade absoluta que as leis físicas da natureza.
Isso é tão fundamental para a nossa vida moral como é fundamental para a nossa
vida racional que tudo tenha uma causa, ou que sete mais cinco sejam doze.
- E o que é
que diz essa lei moral?
- Uma vez que
precede qualquer experiência, é "formal". Significa
que não está relacionada com possibilidades morais de escolha determinadas. É
válida para todos os homens em todas as sociedades e em todos os tempos. Logo,
não diz que tens de fazer isto ou aquilo nesta ou naquela situação. Diz como te
deves comportar em todas as situações.
- Mas que
sentido tem uma lei moral, se não nos diz como nos devemos comportar numa
situação determinada?
-Kant formula
a lei moral como imperativo categórico. Por isto, ele
entende que a lei moral é "categórica", quer dizer, é válida em todas
as situações. Além disso, é um "imperativo" e consequentemente uma
"ordem" e absolutamente inevitável.
- Hm...
- Aliás, Kant
formula o seu imperativo categórico de diversas formas.
Primeiro, diz: “devíamos agir sempre de tal forma que pudéssemos
desejar simultaneamente que a regra segundo a qual agimos fosse uma lei
universal”.
- Quando faço
alguma coisa, tenho de ter a certeza de que desejo que todos façam o mesmo na
mesma situação.
- Exato. Só
nessa altura ages de acordo com a tua lei moral interior. Kant também formulou
o imperativo categórico da seguinte forma: devemos tratar os outros
homens sempre como um fim em si e não como um meio para alguma outra coisa.
-Não podemos,
portanto, "explorar" os outros para obtermos benefícios.
-Não,
porque todos os homens são um fim em si. Mas isso não é válido apenas para os
outros, mas também para nós mesmos. Também não nos devemos explorar como meio
para alcançar algo.
- Isso faz-me
lembrar a "regra dourada": não faças aos outros o que não queres que
te façam a ti. -Sim, e isso é uma norma formal que abrange basicamente todas as
possibilidades éticas de escolha. (…)
Jostein
Gaarder, “ O Mundo de Sofia” p.296/297