segunda-feira, 3 de maio de 2021

Critérios de correção teste Abril 2021

 




1.  «Os austríacos gostam de valsa; já a maior parte dos brasileiros gosta de samba. Em relação ao desporto,  os canadianos, por exemplo, preferem o hóquei no gelo, ao passo que muitos portugueses apreciam o hóquei em patins. A verdade é que cada povo tem tendência a apreciar mais o que faz parte da sua cultura. Contudo, o hóquei em patins é mais bonito do que o hóquei no gelo.»

 No texto anterior é expresso, de forma inequívoca, um único juízo de valor. Identifique-o e justifique a  identificação feita. Explicite o que distingue as afirmações de facto das de valor. Exemplifique um juízo de facto e um juízo de valor estético.

Resposta:

Juízo de valor presente no texto: “ O hóquei em patins é mais bonito que o hóquei no gelo”

Explicação: Um juízo de valor faz uma apreciação de determinado objeto, ação ou sujeito. Não tem valor de verdade pois exprime uma opinião subjetiva de acordo com gostos e valores do sujeito que o faz e também porque não há uma verdade sobre um juízo de valor (exceto para os objetivistas dos valores. Este juízo é normativo uma vez que nos diz algo que o sujeito gostaria que fosse norma para todos. O juízo de facto, pelo contrário, descreve uma realidade e tem valor de verdade, pode ser verdadeiro ou falso consoante está ou não de acordo com essa realidade que descreve. Exemplos: Juízo de valor estético” Rembrant é um pintor tecnicamente perfeito”, exemplo de juízo de facto “Rembrant é um pintor do século XVIII”.

2.  Leia o texto seguinte.

Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há, além disso, muitas almas de disposição tão compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse pessoal, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta e podem alegrar-se com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo porém que, neste caso, uma ação destetipo,  ainda que seja conforme ao dever, ainda que seja amável, não tem qualquer verdadeiro valor moral […].  

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 28 (adaptado)

 

Por que razão Kant afirma que o tipo de ação descrito no texto anterior não tem valor moral? Justifique a sua resposta com o critério proposto por Kant para uma ação moral, distinguindo ações conforme ao dever e por dever

 

2. Resposta:

Ações por dever são aquelas que obedecem ao imperativo categórico, a sua finalidade única é cumprir a lei que a razão a si mesma impõe, isto é o dever, logo são isentas de interesse ou da necessidade do agente. Essas são ações com valor moral. Ações conforme ao dever seguem a norma social, são ações legais mas não são morais porque a vontade do agente é movida por um qualquer interesse ou sentimento como retirar um proveito ou pelo medo das consequências. Ações contra o dever, não seguem a lei moral nem a norma social, não seguem qualquer norma e são comandadas por um interesse ou sentimento momentâneo do agente. A ação descrita no texto pode ser avaliada de acordo com as intenções do agente, este quer dar prazer e alegria nos que estão à sua volta, assim a intenção do agente e a sua vontade estão condicionadas por inclinações e sentimentos embora sem intenções egoístas a intenção do agente não é subordinada ao dever, e a sua vontade não é uma boa vontade, isto é uma vontade incondicionada, que não quer mais nada senão obedecer ao dever e à lei moral, isto é ao imperativo categórico. A ação resulta de um imperativo hipotético, isto é, tem como intenção alcançar um fim exterior à ação, de que esta é apenas um meio, ora a ação moral é um fim em sim, não um meio para alcançar um outro fim exterior a ela.

 

3. A investigação ética/moral distribui-se por várias áreas. Explique esta afirmação definindo as várias áreas de investigação ética e dando exemplos dos problemas que cada uma das áreas trata.

 

Resposta:

A ética e a moral tratam ambas de estabelecer os princípios de uma ação correta, bem como do modo como devemos agir socialmente, perante os outros, nós próprios e as instituições. Dividem-se em três áreas de investigação, reflexão e discussão:

1. Ética prática,  investiga os problemas éticos que a sociedade enfrenta num dado momento histórico, como por exemplo: Terá legitimidade ética e moral a legalização da Eutanásia?
2. A Ética Normativa,  investiga as condições e princípios que têm de ocorrer para considerar boa uma ação, ou qual a utilidade e finalidade da ética, ou ainda as condições para que uma ação seja correta do ponto de vista ético. Estabelece as normas (regras/condições) da ação correta.Exemplo: Ética deontológica e a Ética Utilitarista
3. A Metaética que investiga a natureza e a origem dos valores e juízos éticos/morais Exemplo: O relativismo, objetivismo e subjetivismo dos juízos éticos/morais.

 

4. É um facto que há diferenças culturais e que há pessoas com opiniões muito diferentes em relação a valores. Será que este facto mostra que não há valores objetivos, que nada tem valor intrínseco?

Na sua resposta, deve: ‒ identificar inequivocamente a perspetiva que defende; ‒ argumentar a favor da perspetiva que defende ; colocar objeções às teorias contrárias.

Resposta:

Diz-se que algo tem valor intrínseco quando tem valor por si, independentemente das opiniões. Diz-se das coisas, ações ou pessoas que valem como um fim e não podem ser um meio, ou seja, um instrumento para alcançar outras coisas além delas. Diz-se que algo tem valor extrínseco quando esse valor é exterior, não reside na própria coisa, ação ou pessoa mas em algo exterior ou uma circunstância exterior que essa ação, pessoa ou coisa nos permite alcançar. Assim uma enxada tem valor extrínseco, porque só tem valor na medida e que temos que lavrar um campo, e não tem valor se estivermos no nosso apartamento. A pessoa, pelo contrário tem valor em qualquer circunstância e não pode ser um meio para atingir um fim.

A posição que defende que os valores são subjetivos defende que estes dependem do sujeito que aprecia, logo não há valores intrínsecos, nada tem valor intrínseco, sendo o valor o resultado de uma apreciação subjetiva, isto é dada por alguém num certo momento histórico e num certo contexto. Os subjetivistas defendem que há sempre um sujeito que confere valor, daí que o valor das coisas, ações ou pessoas depende das preferências, circunstâncias e gostos de alguém particular. Tem a seu favor o facto de não haver acordo de opiniões acerca do que é correto fazer-se em cada situação particular, ou na apreciação de qualquer obra. Argumento da diversidade de opiniões. Enfrenta a objeção de, quanto aos valores morais, poder-se justificar moralmente certas ações indesejáveis.

AS TEORIAS OBJECTIVISTAS postulam que quando atribuímos valor a uma obra, ação ou pessoa, esse valor faz parte da natureza da obra, ação ou pessoa, o avaliador não lhe dá o valor, apenas reconhece o seu valor, isto é, reconhece as suas qualidades. As qualidades são objetivas e intrínsecas ao valor e ao objeto. Argumentos a favor: A concordância em relação a certas práticas culturais e princípios, como a carta universal dos direitos humanos.
O relativista defende que os valores e a sua aplicação dependem das culturas, assim não há juízos morais neutros ou imparciais, nenhuma cultura é superior a outra de modo a poder julgar pois cada juízo revela a forma de pensar de uma cultura específica. Cada cultura tem o seu padrão de valores, reconhece a sua hierarquia e aplica os valores de forma diferente, tendo a sua própria conceção do que é belo, feio, correto ou incorreto.

O facto de nos confrontarmos com a história de diferentes culturas com diferentes costumes e práticas, leva-nos à conclusão de que a diversidade de culturas tem diferentes conceções do que é certo e errado. Poderemos então pensar que os valores são dependentes das convenções culturais e que não há valores de melhor e pior, isto é não há valores morais objetivos, independentes das diferentes culturas. Esta posição, embora promova a tolerância e o respeito pela diversidade, não inclui nem explica o progresso moral. Há certas práticas que foram consideradas cruéis e desumanas e, por isso, foram abandonadas. Nem tudo o que é aceite por uma cultura é bom, essa posição não implica o desrespeito pela diversidade mas apenas condena certas práticas - um argumento contra os relativistas morais é a possibilidade de as culturas evoluírem e de, haver mesmo no seio das sociedades, pessoas que não concordam e que lutam por melhores condições.

O aluno teria que explicitar uma destas teorias e defendê-la com argumentos.

Grupo 3

Imagine a seguinte situação de um dilema moral:

Imagina uma cidade onde ocorre um crime que deixa a cidade revoltada e a exigir vingança. O polícia encarregue da investigação não tem qualquer pista, e encontra-se sem auxiliares, a população enfurecida vai fazer o linchamento público de um idiota com problemas mentais que já esteve preso por agressão e que todos pensam que é o culpado. Que deve fazer o polícia? Deixar que executem alguém que não se sabe se é inocente ou culpado ou impedir a sua execução e sofrer uma revolta popular que ameaça matar mais pessoas e põe em risco a sua vida?

Linchamento: Quando a população julga e mata alguém sem que essa pessoa vá a tribunal.

1. Avalie criticamente a situação segundo os princípios da ética deontológica de Kant e da ética utilitarista de Stuart Mill. Com qual das perspetivas concorda? Porquê? Fundamente a sua tese com argumentos.

 

Comparação das perspetivas de Kant e de Stuart Mill relativamente ao critério de avaliação das ações morais:

Para Kant, as ações são más ou boas em si mesmas, independentemente das suas consequências práticas ou materiais. Só a vontade é boa, pois só ela pode ser controlada pelo agente, as consequências não estão no domínio do agente, logo não contam para determinar o valor moral da ação. A avaliação é feita "a priori", isto é, independente da experiência. Para Stuart Mill não há ações boas ou más em si mesmas, e a intenção com que são praticadas é irrelevante. As consequências são o único critério relevante para apreciar o valor moral das ações. Porque a ação moral visa assegurar um bem maior para todos os que estão ao seu alcance e não apenas para o agente. Daí que toda a avaliação moral seja "a posteriori".

 Comparação de Kant e de Stuart Mill relativamente ao princípio supremo da moralidade

Para Kant o imperativo categórico é o princípio supremo da moralidade. Este determina que devemos agir somente de acordo com máximas universalizáveis

Para Stuart Mill a moralidade deve fundamentar-se no princípio de utilidade que afirma que são boas as ações que tendem a promover de forma estritamente imparcial a felicidade do maior número possível de indivíduos.

Aplicando estas normas para avaliar a situação presente no texto, diríamos que linchar o “idiota” poderia ser uma ação correta do ponto de vista da moral utilitarista porque possibilitaria acalmar a população e impedir um tumulto que poderia trazer mais mortes, mais sofrimento, seria um mal menor.

Por outro lado, matar alguém que não se sabe se é inocente ou culpado é utilizar uma pessoa como meio para atingir um fim o que para Kant iria contra a segunda formulação do imperativo categórico, formulação da humanidade: “"Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente como meio.

 

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