Pedro: Pela minha parte, acho que ao dizer que o João é honesto estou a
transmitir um sentimento de agrado mas também estou a dizer uma verdade. Estou
a descrever o tipo de sentimento que tenho pelo João. Não é um sentimento
qualquer. É um sentimento favorável ao João. Julgo que sim. Ao dizer que o João
é honesto é como se estivesse a falar também de mim próprio, da minha
experiência interior (dos meus sentimentos). Estou a descrever o que sinto. Uma pessoa que diga “A eutanásia é
injusta” está apenas a dizer algo como “Não gosto que a eutanásia seja
aplicada”, ou seja, está apenas a descrever o que sente, que tem sentimentos
negativos acerca da eutanásia. E se estiver a ser sincera, isso é verdade. Mas
uma pessoa que diga “Permitir a eutanásia é uma questão de justiça” também
estaria a falar apenas dos seus sentimentos. Neste caso, estaria a dizer que
tem um sentimento positivo em relação à eutanásia. Como a primeira, se estiver
a ser sincera, é verdade o que diz.
Qual é a posição do Pedro
acerca dos valores? Justifique
A posição do Pedro é subjetivista acerca dos valores porque
defende que os nossos juízos morais como “O João é honesto” traduzem o
sentimento de agrado ou desagrado em relação às ações realizadas pelo João, é
verdadeiro em relação ao sentimento do sujeito que julga, mas ele está a
descrever um estado de espírito seu e não uma verdade universal acerca do João,
outros sujeitos podem ter um outro sentimento, logo, outro juízo moral acerca
das ações do João.
Joana: Não. Acredito
na existência de verdades morais como acredito que a Terra é redonda. Os
valores morais não podem depender, em caso algum, apenas do ponto de vista de
cada pessoa ou cultura. As pessoas, como eu, que acreditam em verdades morais objetivas acham que
certas práticas são tão odiosas e repugnantes que apenas os preconceitos de
certas sociedades permitem que as pessoas não reparem nisso. Mas, se formos
além do que a maioria das pessoas pensa, se usarmos a nossa própria razão e
sentido crítico, poderemos ver que essas práticas estão erradas. Não estão
erradas apenas para mim. Estão mesmo erradas.
A Joana concorda com o Pedro?
Justifique
Não, a Joana não concorda com o Pedro, ela considera que os
nossos juízos morais não dependem do que o sujeito sente, ela considera que há
ações moralmente corretas ou incorretas, se há divergência acerca do valor
moral das ações é porque alguns sujeitos não querem ver, estão inseridos numa
certa cultura que não os deixa julgar bem, têm preconceitos e por isso julgam
mal. As ações são boas ou más por si e
não dependem do que os sujeitos julga. Para a Joana um juízo moral é como um
juízo de facto, tem valor de verdade, como por exemplo “A terra é redonda”. Os
juízos morais dependem do conhecimento e não da opinião.
Fernando: Dá exemplos.
Joana: A excisão, por exemplo. A mutilação do
clítoris que certos povos africanos têm o hábito de fazer às raparigas. Eu
penso que é profundamente errado fazer isso, pensem essas pessoas o que
pensarem.
Fernando: Pelos nossos padrões culturais,
sem dúvida. Esse ato repugna profundamente a minha sensibilidade. Mas não acho
que apenas o preconceito impeça esses povos de verem o que a mim parece
razoável. A minha ideia do que é racional ou razoável nesta situação depende da
forma como a minha sensibilidade foi educada, depende dos costumes a que fui
assistindo e daquilo que a sociedade me diz que é correto ou incorreto. A razão
reflete o modo como os nossos valores e práticas culturais moldaram a nossa
forma de sentir.
Joana: Eu gostaria que a excisão deixasse se
existir. Todas essas práticas só criam sofrimento inútil.
Que
opinião tem o Fernando sobre os valores?
O Fernando defende que não há um padrão que permita julgar
de forma imparcial as acções morais, pois cada um está dentro de uma cultura e
julga segundo os valores da sua cultura. Os valores morais são, para o
Fernando, relativos à cultura de cada um e só são verdadeiros para essa
cultura, para outra podem ser falsos. Os juízos morais dependem da nossa
educação e esta é moldada pela cultura onde nos inserimos.
Como se
chama a essa perspectiva? Chama-se relativista cultural e moral.
Qual a
objeção que a Joana coloca?
A Joana coloca a objeção de não termos que concordar com
todas as práticas de outras culturas, porque há certas práticas como a excisão
que são moralmente condenáveis, seja qual for a cultura, a razão que ela dá é o
sofrimento inútil que certas práticas culturalmente aceites provocam sobre
certas pessoas.
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