quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Matriz do Teste de Avaliação de 12 de janeiro de 2021

Tempo - 90 min. 

1. Estrutura e Cotações 

Grupo I ( 64 Pontos) - Escolha Múltipla
Grupo II ( 24 Pontos) - Rede Concetual da Ação
Grupo III (60 Pontos) - Lógica Formal e Lógica Informal
Grupo IV ( 52 Pontos) - Determinismo e Liberdade na Ação Humana

2. Competências gerais 

a. Apresenta a definição rigorosa dos conceitos lecionados. 
b. Identifica com rigor os problemas em discussão. 
c. Enuncia claramente as teses em discussão. 
d. Apresenta claramente argumentos a favor ou contra determinado ponto de vista. 
e. Aplica com sucesso as regras de raciocínio lógico. 

3. Conteúdos e competências específicas 

Lógica Formal 

a. Identificar as formas de inferência válidas e as falácias formais: Modus Ponens, falácia da afirmação do consequente, Modus Tollens, falácia da negação do antecedente, contraposição, silogismo disjuntivo, Leis de De Morgan (negação da conjunção e negação da disjunção), silogismo hipotético e dupla negação. 
b. Aplicar as tabelas de verdade para verificar se os argumentos são válidos ou não. 


Lógica Informal 

a. Identificar os diferentes tipos de argumentos não dedutivos: argumentos indutivos (generalização e previsão), argumentos por analogia e argumentos de autoridade. 
b. Aplicar as regras de validade dos diferentes argumentos de forma a verificar se os diferentes argumentos são válidos/fortes ou inválidos/ fracos. 
c. Identificar as respetivas falácias dos argumentos não dedutivos: falácia da generalização apressada, falácia da amostra não representativa, falácia da falsa analogia e a falácia do apelo à autoridade. 
d. Identificar as restantes falácias informais: Ad Populum (apelo à popularidade, à opinião popular), Ad Hominem (ataque pessoal), Petição de Princípio, Falso Dilema, Derrapagem, Falsa Relação Causal, Boneco de Palha e Apelo à Ignorância. 


A Rede Concetual da Ação 

a. Distinguir os acontecimentos da natureza e as atividades humanas (acontecimentos que estão ligados à manutenção da componente biológica do ser humano). Identificar as atividades humanos como atos reflexos e atos acidentais. 
b. Perceber que nem tudo o que o ser humano faz pode ser considerado como ações humanas: apenas aquilo que fazemos de forma consciente e voluntária pode ser considerado uma ação humana, pois parte da vontade e podemos atribuir uma responsabilidade ao agente da ação. 
c. Estabelecer uma rede concetual da ação: agente, consciência, intenção, motivo, finalidade, deliberação e decisão. 
d. Distinguir um ato voluntário de um ato involuntário. 
e. Perceber que existem diferentes tipos de atos que geram controvérsia e sobre os quais não é possível estabelecer uma diferença rígida entre o voluntário e o involuntário. 
f. Conseguir identificar e descrever atos mistos: atos forçados, atos equivocados, atos inevitáveis e atos impulsivos. 


Determinismo e Liberdade na Ação Humana 

a. Distinguir os diferentes tipos de condicionantes da ação humana: condicionantes físico-biológicas e histórico-culturais. 
b. Esclarecer os conceitos de determinismo e de livre-arbítrio. 
c. Reconhecer as diferentes teorias que admitem o determinismo e as teorias que admitem o livre-arbítrio: Determinismo radical, determinismo moderado, libertismo e indeterminismo. 
d. Distinguir as teorias compatibilistas (há compatibilidade entre determinismo e livre-arbítrio) das teorias incompatibilistas (não há compatibilidade entre determinismo e livre-arbítrio). 
e. Distinguir os diferentes argumentos de cada uma das teorias sobre o livre-arbítrio e determinismo e quais as objeções que podemos fazer a cada uma delas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Correção exercícios de lógica informal

 

 1. Identifica as falácias informais.

1.1. Podemos aceitar que existem extraterrestres, porque até agora não se provou que não existem. (Apelo à ignorância)

1.2. Permitir a todos os indivíduos uma liberdade ilimitada é sempre vantajoso para o Estado pois é altamente propício aos interesses do Estado que cada indivíduo desfrute de liberdade ilimitada. (Petição de princípio)

1.3. A tua tese é falsa porque passaste os últimos cinco anos no manicómio. (Ad Hominem)

1.4. Fui despedido no dia em que tinha meias brancas. Logo, o motivo que levou a que fosse despedido foi o facto de estar a usar meias brancas. (Falsa relação causal)

1.5. Ou vens comigo ou vais com eles. Se não vens comigo então é porque vais com eles. (Falsa dicotomia/falso dilema)

2. Identifica os seguintes argumentos informais. Diz se são válidos ou não (caso não sejam, identifica a falácia). Justifica a tua resposta.

2.1. Desde que o ser humano é consciente que se tem observado que o Sol nasce todos os dias. Logo, amanhã o Sol irá nascer. (Argumento indutivo, é uma previsão válida. Porque o número de casos observados é relevante para a conclusão que se quer retirar.)

2.2. O Stephen Hawking, no livro Breve História do Tempo, diz que existem buracos negros. Logo, existem buracos negros. (Apelo à autoridade. Válido, porque é referida a fonte; essa fonte - Stephen Hawking, um físico - é uma autoridade na área; tanto quanto sabemos não há conflito de interesses - Stephen Hawking é imparcial - e há um consenso na comunidade científica.)

2.3. O António assim como o Zé, tem 17 anos, pesa 80 kg, tem 1,80m, e é geralmente saudável. O Zé pode tomar aspirina. Logo, o António também. (Analogia. Válida, porque as semelhanças comparadas são relevantes para a conclusão - a estatura física, idade, historial de saúde, são importantes para saber se certo medicamento será eficaz ou não. Para além disso o número de semelhanças é suficiente e tanto quanto sabemos não estamos a ignorar uma diferença fundamental.)

2.4. O António Costa diz que o melhor pastel de nata é o pastel de Belém. Logo, o melhor pastel de nata é o pastel de Belém. (Falácia do apelo à autoridade. António Costa não é nenhum especialista em pastelaria e, além disso, pode não ser imparcial visto ser primeiro ministro de Portugal e portanto ter interesse em publicitar o pastel de Belém.)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Texto para resumo Márcio 10ºB


                                                                                              Compartment C Car, 1938 by Edward Hopper

“O Libertismo é a perspetiva de que pelo menos algumas das nossas ações são livres porque não estão causalmente determinadas. Segundo esta teoria, as escolhas humanas não estão constrangidas da mesma forma que outros acontecimentos do mundo. Uma bola de bilhar, quando é atingida por outra bola de bilhar, tem de se mover numa certa direção a uma certa velocidade. Não tem escolha. As leis causais determinam rigorosamente o que irá acontecer. Contudo, uma decisão humana não é assim. Neste preciso momento, o leitor pode decidir continuar a ler ou parar de ler. Pode fazer qualquer uma destas coisas e nada o faz escolher uma delas [ou seja, nada o obriga a escolher uma delas]. (…)Esta forma de pensar foi defendida por diversos filósofos e propuseram-se vários argumentos a seu favor.O argumento da experiência. Podemos começar com a ideia de que sabemos que somos livres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente de ser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pense novamente no que está a fazer neste momento: ler uma página que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar de ler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora, enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos. Nada o impede de seguir numa direção nem o força a fazê-lo. A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer, é a melhor prova que podemos ter. (…)O argumento da responsabilidade. O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas ações. Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reações estejam justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre-arbítrio.Outros sentimentos humanos importantes também pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas ações se devem sempre a fatores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vergonha são infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, mais uma vez, parece inescapável que nos concebamos como livres.”

James Rachels, Problemas da Filosofia, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pp.183-184 e 189-190.

Exercícios de Lógica Informal

 1. Identifica as falácias informais.

1.1. Podemos aceitar que existem extraterrestres, porque até agora não se provou que não existem.

1.2. Permitir a todos os indivíduos uma liberdade ilimitada é sempre vantajoso para o Estado pois é altamente propício aos interesses do Estado que cada indivíduo desfrute de liberdade ilimitada.

1.3. A tua tese é falsa porque passaste os últimos cinco anos no manicómio.

1.4. Fui despedido no dia em que tinha meias brancas. Logo, o motivo que levou a que fosse despedido foi o facto de estar a usar meias brancas.

1.5. Ou vens comigo ou vais com eles. Se não vens comigo então é porque vais com eles.

2. Identifica os seguintes argumentos informais. Diz se são válidos ou não (caso não sejam, identifica a falácia). Justifica a tua resposta.

2.1. Desde que o ser humano é consciente que se tem observado que o Sol nasce todos os dias. Logo, amanhã o Sol irá nascer.

2.2. O Stephen Hawking, no livro Breve História do Tempo, diz que existem buracos negros. Logo, existem buracos negros.

2.3. O António assim como o Zé, tem 17 anos, pesa 80 kg, tem 1,80m, e é geralmente saudável. O Zé pode tomar aspirina. Logo, o António também.

2.4. O António Costa diz que o melhor pastel de nata é o pastel de Belém. Logo, o melhor pastel de nata é o pastel de Belém.

sábado, 12 de dezembro de 2020

O problema do livre-arbítrio

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Determinismo e liberdade na ação humana.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Texto para resumo Jean 10ºB



Por que negam os deterministas radicais a liberdade?

O problema acerca da existência de liberdade humana pode ter a seguinte formulação preliminar. Os desejos e crenças de uma pessoa (o seu comportamento, portanto) é causado por coisas que estão fora do seu controle. Não escolheu livremente os seus genes ou a sequência de circunstâncias em que cresceu. Se não os escolheu livremente, porquê afirmar que o seu comportamento provém de uma escolha livre da sua parte? Como tornar essa pessoa responsável por acções causadas por acontecimentos sobre os quais não detém qualquer controle? Essa pessoa não parece mais livre do que um computador; sucede que um computador age como age porque foi programado para o fazer. Outra maneira de encarar o problema consiste em notar uma característica presente no quadro causal acima indicado. Suponha-se que o nosso comportamento é o produto das nossas crenças e desejos tal como o comportamento do computador resulta de um programa. Há uma característica da situação em que o computador se encontra que parece caracterizar a situação em que nos encontramos. Conforme o programa, o computador pode comportar-se de maneira diferente. Suponha-se que alguém programou um computador para somar dois números. Isto significa que se os dados de partida forem 7 e 5, o resultado só pode ser 12. O computador não pode agir de outra maneira. Será que, a este respeito, somos como os computadores? Dados os desejos e crenças que actualmente temos, não será inevitável que façamos precisamente o que fazemos? As nossas crenças e desejos deixam em aberto o que fazemos tanto quanto um programa de computador deixa em aberto o que o computador é capaz de fazer. Este facto acerca do computador — e acerca de nós próprios caso sejamos como o computador — parece implicar que não somos livres. A razão é que se uma acção foi praticada livremente, seria possível ao agente agir de modo diverso. Se é livremente que levo aos lábios uma chávena de chá, deveria ter sido possível não o fazer. Mas, dadas as minhas crenças e desejos, não podia ter deixado de levar aos lábios a chávena de chá. As nossas acções são as consequências inevitáveis das mentes que possuímos, como o comportamento do computador é a consequência do seu programa. Acabei de referir duas características da relação causal que parece ligar, por um lado, as nossas crenças e desejos, e por outro lado, as nossas acções. Cada uma sugere um argumento particular em defesa da tese de que as acções humanas não são livres. Chamarei ao primeiro “Argumento da Causalidade à Distância”; este argumento depende da ideia de o nosso comportamento ser causado por factores que estão para lá do nosso controle (os nossos genes, o meio ambiente da nossa infância, por exemplo). Chamarei ao segundo “Argumento da Inevitabilidade”; este argumento baseia-se na ideia de que não podemos comportar-nos de maneira diferente daquela que os nossos desejos e crenças exigem que nos comportemos. Convém notar que qualquer destes argumentos pretende sustentar uma conclusão perfeitamente geral; ambos concluem que nenhuma acção humana é praticada livremente. É claro que isto vai muito além da modesta ideia de que certas acções não são livres. Apresentados claramente, os argumentos são os seguintes:

Argumento da Causalidade à Distância

Se um agente pratica livremente uma acção, o agente é responsável pela acção.

Os agentes não são responsáveis por acções causadas por factores fora do seu controlo.

Qualquer acção que um agente pratique é causada por factores (genes e meio ambiente durante e após a infância) sobre os quais o agente não tem controlo.

Logo, não há acções livres.


Argumento da Inevitabilidade

Se um agente pratica livremente uma acção A, então poderia ter agido de modo diferente (ou seja, poderia ter praticado outra acção muito diferente de A).

As pessoas não podem praticar acções diferentes daquelas que de facto praticam.

Logo, as pessoas nunca agem livremente.


Qualquer destes argumentos é dedutivamente válido. O problema, para um compatibilista, consiste em encontrar boas razões em defesa da falsidade de pelo menos uma das premissas.


Excerto de Elliott Sober, Core Questions in Philosophy (Prentice-Hall, 2001)

https://criticanarede.com/fil_3livrearbitrio3.html


Matriz de Avaliação para a Ficha de Revisões de 18 de dezembro de 2020

Tempo - 45 min. 

1. Estrutura e Cotações 

Grupo I ( 60 Pontos) 
Grupo II ( 50 Pontos) 
Grupo III (40 Pontos) 
Grupo IV ( 50 Pontos) 

2. Competências gerais 

a. Apresenta a definição rigorosa dos conceitos lecionados. 
b. Identifica com rigor os problemas em discussão. 
c. Enuncia claramente as teses em discussão. 
d. Apresenta claramente argumentos a favor ou contra determinado ponto de vista. 
e. Aplica com sucesso as regras de raciocínio lógico. 

3. Conteúdos e competências específicas 

Lógica Formal 

a. Identificar as formas de inferência válidas e as falácias formais: Modus Ponens, falácia da afirmação do consequente, Modus Tollens, falácia da negação do antecedente, contraposição, silogismo disjuntivo, Leis de De Morgan (negação da conjunção e negação da disjunção), silogismo hipotético e dupla negação. 
b. Aplicar as tabelas de verdade para verificar se os argumentos são válidos ou não. 


Lógica Informal 

a. Identificar os diferentes tipos de argumentos não dedutivos: argumentos indutivos (generalização e previsão), argumentos por analogia e argumentos de autoridade. 
b. Aplicar as regras de validade dos diferentes argumentos de forma a verificar se os diferentes argumentos são válidos/fortes ou inválidos/ fracos. 
c. Identificar as respetivas falácias dos argumentos não dedutivos: falácia da generalização apressada, falácia da amostra não representativa, falácia da falsa analogia e a falácia do apelo à autoridade. 
d. Identificar as restantes falácias informais: Ad Populum (apelo à popularidade, à opinião popular), Ad Hominem (ataque pessoal), Petição de Princípio, Falso Dilema, Derrapagem, Falsa Relação Causal, Boneco de Palha e Apelo à Ignorância. 


A Rede Concetual da Ação 

a. Distinguir os acontecimentos da natureza e as atividades humanas (acontecimentos que estão ligados à manutenção da componente biológica do ser humano). Identificar as atividades humanos como atos reflexos e atos acidentais. 
b. Perceber que nem tudo o que o ser humano faz pode ser considerado como ações humanas: apenas aquilo que fazemos de forma consciente e voluntária pode ser considerado uma ação humana, pois parte da vontade e podemos atribuir uma responsabilidade ao agente da ação. 
c. Estabelecer uma rede concetual da ação: agente, consciência, intenção, motivo, finalidade, deliberação e decisão. 
d. Distinguir um ato voluntário de um ato involuntário. 
e. Perceber que existem diferentes tipos de atos que geram controvérsia e sobre os quais não é possível estabelecer uma diferença rígida entre o voluntário e o involuntário. 
f. Conseguir identificar e descrever atos mistos: atos forçados, atos equivocados, atos inevitáveis e atos impulsivos. 


Determinismo e Liberdade na Ação Humana 

a. Distinguir os diferentes tipos de condicionantes da ação humana: condicionantes físico-biológicas e histórico-culturais. 
b. Esclarecer os conceitos de determinismo e de livre-arbítrio. 
c. Reconhecer as diferentes teorias que admitem o determinismo e as teorias que admitem o livre-arbítrio: Determinismo radical, determinismo moderado, libertismo e indeterminismo. 
d. Distinguir as teorias compatibilistas (há compatibilidade entre determinismo e livre-arbítrio) das teorias incompatibilistas (não há compatibilidade entre determinismo e livre-arbítrio). 
e. Distinguir os diferentes argumentos de cada uma das teorias sobre o livre-arbítrio e determinismo e quais as objeções que podemos fazer a cada uma delas.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Filosofia da ação: A ação humana

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A ação humana: análise e compreensão do agir

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Texto para resumo Guilherme 10ºB

"A palavra "ação" emprega-se, às vezes, para falar de animais não humanos (diz-se que a ação das cegonhas é benéfica para a agricultura) ou inclusivamente para falar de objetos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de ação à distância) ou a que toda a ação exercida sobre um corpo corresponde uma ação igual de sentido contrário. Porém, empregamos a palavra "ação" sobretudo para falar do que fazem os seres humanos. Aqui só nos interessa este tipo de ação, a ação humana. As nossas ações são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade, o verbo “fazer” cobre um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo ação. Em latim distingue-se o agere do facere. Agere só tem o significado de agir, enquanto facere tanto pode significar “fazer” como “agir” (…). Assim, etimologicamente, "ação" só mantém a carga semântica de agere, enquanto "fazer" mantém tanto a de agere como a de facere. Tudo o que fazemos faz parte da nossa conduta, mas nem tudo o que fazemos constitui uma ação. Enquanto dormimos, fazemos muitas coisas: respiramos, transpiramos, (…) sonhamos (...) talvez ressonemos ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Fazemos todas estas coisas inconscientemente, não nos damos conta, não temos consciência do que fazemos, uma vez que estamos a dormir. (...) A estas coisas que fazemos inconscientemente não vamos chamar-lhes ações. Vamos reservar o termo "ação" para as coisas que fazemos conscientemente, isto é, das quais nos damos conta do que fazemos. Há coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que a sua realização corresponda a uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos tiques e de muitos dos nossos atos reflexos, mas não os realizamos voluntariamente; constatamo-los como espectadores, não os efetuamos como agentes (a palavra "agente" também tem a sua origem verbo agere). (...) Por algo que sentimos depois de comer, damo-nos conta de que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui uma ação. Assim, também não chamamos ações a estes aspetos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não realizamos intencionalmente. Neste estudo limitar-nos-emos a considerar ações humanas conscientes e voluntárias. Uma ação será uma interferência consciente e voluntária de um ser humano (o agente) no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência seguiriam um caminho diferente. Uma ação consta, portanto, de um acontecimento que sucede graças à interferência de um agente, que tem a intenção de interferir para que tal acontecimento suceda. A maioria dos acontecimentos não tem nada a ver com ações. (...) Uma ação é uma entidade abstrata formada por um agente X e um acontecimento Y, de tal modo que X tem a intenção de que ocorra Y e mediante a sua interferência consegue que ocorra Y."

Jesús Mosterin, racionalidade Y Accion Humana, Alianza Universidade, Madrid, pp. 141-145 (trad.).