VALOR MORAL INTRÍNSECO DOS SERES VIVOS
(Um) ser vivo é concebido como um sistema unificado de actividade organizada cuja tendência constante consiste em preservar a sua existência ao proteger e promover o seu bem estar.
(…) Mesmo quando consideramos organismos tão simples como os protozoários unicelulares, certamente que faz perfeito sentido (…) falar do que os beneficia ou do que os prejudica, que mudanças ambientais são para eles vantajosas e quais são desvantajosas, e que circunstâncias físicas lhes são favoráveis ou desfavoráveis.
(…) Mesmo quando consideramos organismos tão simples como os protozoários unicelulares, certamente que faz perfeito sentido (…) falar do que os beneficia ou do que os prejudica, que mudanças ambientais são para eles vantajosas e quais são desvantajosas, e que circunstâncias físicas lhes são favoráveis ou desfavoráveis.
PAUL TAYLOR, Respeito Pela Natureza, 1986, Tradução Célia Teixeira, pág. 45-66.
Problemas: É ou não necessário explorar no fundo do mar os minérios? Não há alternativa?Quais as consequências humanas, animais e geológicas?
É legítimo explorar sem limites o fundo do mar?
Para o debate conferir - Ética ambiental
Algumas teorias que podem dar argumentos para tomar uma posição sobre estes problemas.
a) Ética da sustentabilidade
b) Ética antropocêntrica
c) Teoria biocêntrica de Paul W. Taylor
d) Ética da Terra
e) Ética ecocêntrica - Leopold
e) Ética ecocêntrica - Leopold
TEXTO1
Cobalto, energia, biodiversidade e investigação são
mais-valias para Portugal
por © 2012 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
- Lisboa, 07 jan (Lusa) - As reservas de cobalto, a energia, a biodiversidade e o progresso científico são as grandes mais-valias decorrentes da extensão da plataforma continental portuguesa, cuja proposta está a ser avaliada pelas Nações Unidas (ONU), considera um estudo recentemente divulgado.
O estudo "Extensão da Plataforma Continental: Uma
Oportunidade para a Economia Portuguesa", publicado pelo Departamento de
Prospetiva, Planeamento e Relações Internacionais, tutelado pelo Ministério do
Ambiente e do Ordenamento do Território, destaca a "projeção internacional
de Portugal muito significativa", caso a proposta
venha a ser aprovada.
Uma das vantagens apontada pelas autoras do estudo, Fátima
Azevedo e Susana Escária, é o acesso a reservas de cobalto, uma vez que "a
colocação de selos da delimitação portuguesa abrange uma área nos Açores que
integra reservas de cobalto equivalentes a 25 por cento do consumo
mundial", ou seja, 217 milhões de euros por ano.
O cobalto é usado na produção de turbinas, ligas metálicas,
tintas e corantes. Outros minerais importantes nesta área, referem as
investigadoras, são o cobre, usado na construção de fios elétricos, moedas,
ornamentos e materiais de construção; o manganês, usado na produção de ligas
metálicas, tintas, baterias, químicos e fertilizantes; e o níquel, usado em
ligas metálicas, baterias e revestimentos de outros metais.
Também a "existência de fontes hidrotermais nas cristas
médio-oceânicas e a grandes profundidades" é apontada como uma mais-valia,
já que "potencia a adaptação de micro-organismos que usam a energia
química para produzirem matéria orgânica".
A biodiversidade do Oceano Atlântico e o progresso
científico decorrente da "
"investigação futura do oceano na área jurisdicional
portuguesa" são outras vantagens que as autoras identificam, caso a ONU
aprove a candidatura portuguesa.
No entanto, alertam, a ser aprovada a proposta, "é
essencial a capacidade de desenvolver e concretizar uma visão estratégica que
incorpore a economia do mar e o conhecimento/exploração de fundos marinhos numa
base económica sustentável".
Portugal formalizou a proposta de extensão da plataforma
continental a 11 de maio de 2009, quando apresentou a proposta às Nações
Unidas. Se o pedido for aceite, Portugal passa a ter sob sua influência 350
milhas náuticas, equivalentes a uma zona económica exclusiva de 2,15 milhões de
quilómetros quadrados, o que confere uma área de soberania de quatro milhões de
quilómetros quadrados (43 vezes o território terrestre do País).
Atualmente, a zona económica exclusiva de Portugal é de 1,85
milhões de quilómetros quadrados, o que corresponde a 20 vezes o território
terrestre do País, ao longo de 200 milhas (370 quilómetros) além da costa.
O resultado da avaliação da ONU à proposta portuguesa deverá
ser conhecida em 2013
ou 2014, referem as autoras, considerando que é
"completamente incerto o veredito, já que tem de ser provado, através de
amostras, que há uma continuidade geológica entre a plataforma continental
atual e a área de alargamento pretendido".
TEXTO 2 - CIIMAR estuda impacto da mineração no mar profundo
- 15.11.18
- Por Eunice Sousa / CIIMAR
Trabalho resultou na implementação de uma ferramenta que
permite prever cenários de dispersão de sedimentos resultantes de atividades de
mineração e, antecipar possíveis consequências sobre os ecossistemas marinhos.
A mineração no mar profundo é hoje uma aposta atrativa para
a obtenção de metais e minerais para a indústria. (Foto: DR)
Numa altura em que a exploração dos fundos oceânicos é
anunciada como a próxima grande aposta da indústria extrativa, os
investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e
Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) desenvolveram modelos numéricos
que permitem prever os cenários de dispersão de sedimentos resultantes de
atividades mineiras no mar profundo e antecipar assim as possíveis
consequências sobre os ecossistemas marinhos. O estudo, desenvolvido no âmbito
do projeto “CORAL – Exploração Sustentável do Oceanos”, numa parceria
entre o CIIMAR e o INESC TEC, foi publicado na prestigiada revista
internacional Science of the Total Environment.
A mineração no mar profundo apresenta-se como uma aposta
atrativa para a obtenção de metais e minerais para a indústria. Por exemplo, o
fundo oceânico da Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, em particular nas
áreas próximas de fontes hidrotermais ao largo das ilhas dos Açores,
apresentam sulfuretos maciços ricos em cobre e níquel, materiais esses
com alto interesse económico. Ao mesmo tempo, porém, grande parte destes
recursos localizam-se em áreas próximas de ecossistemas únicos de grande
valor ecológico e que podem vir a ser danificados devido às atividades de
extração, à emissão e transporte de sedimentos e pelo ruído e luz associados.
Miguel Santos, investigador principal da linha “Ferramentas”
do projeto CORAL, sublinha que “antes de se começar a licenciar atividades de
mineração em mar profundo, urge estabelecer orientações ambientais e de gestão
que permitam uma exploração sustentável minimizando os seus impactos, e para
isso é preciso desenvolver ferramentas que permitam antecipar os seus efeitos”.
O trabalho do grupo de Dinâmica Oceânica e Costeira e
Sistemas Aquáticos do CIIMAR, liderado pela investigadora Luísa Bastos,
respondeu preventivamente a esta problemática através da implementação uma ferramenta
numérica para analisar cenários de dispersão de sedimentos associada a
atividades de mineração. As áreas analisadas dizem respeito a áreas próximas de
três importantes fontes hidrotermais localizadas na ZEE portuguesa que estão
classificadas pela OSPAR como Zonas Marinhas Protegidas desde 2007: Menez Gwen,
Rainbow e Lucky Strike.
desenvolveram modelos numéricos que permitem prever os
cenários de dispersão de sedimentos resultantes de atividades mineiras no mar
profundo e antecipar assim as possíveis consequências sobre os ecossistemas
marinhos
Segundo Isabel Iglesias, Investigadora Auxiliar do CIIMAR,
“estes modelos numéricos permitem compreender e representar a dinâmica oceânica
destas áreas, e prever os cenários de dispersão de diferentes partículas
sedimentares resultantes de atividades de mineração, em função da profundidade,
geomorfologia e hidrodinâmica dos locais”.
Apesar da grande variabilidade dos resultados em função do
tipo de sedimento, morfologia da zona de atuação e profundidade de libertação
das partículas sedimentares, o estudo agora publicado conclui que as partículas
associadas a possíveis atividades de mineração nas áreas estudadas podem
permanecer em movimento por um período variável entre as 14 h e os 40 dias e
afetar uma grande quantidade de ecossistemas num raio que pode atingir os 190
km.
Face a estes resultados, a líder do projeto, Luísa Bastos,
realça a importância destes modelos numéricos como “ferramentas fundamentais
para prever o possível raio de impacto das atividades de mineração no mar
profundo, delimitar zonas de proteção dos ecossistemas, apoiar a implementação
de planos de monitorização e avaliação de riscos, e desenho de ações de mitigação”.
O CORAL é um projeto colaborativo entre o CIIMAR e o INESC
TEC com várias frentes de atuação. A linha de investigação “ferramentas”, da
qual provem este estudo, tem como foco o desenvolvimento de sensores e
metodologias para avaliação dos efeitos da mineração no mar profundo.
O projeto “CORAL – Sustainable Ocean Exploitation: Tools and
Sensors” é apoiado pela Rede Operacional Regional Norte de Portugal
(NORTE2020), ao abrigo do Acordo de Parceria PORTUGAL 2020, através do Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional.
TEXTO3
Mineração no fundo do mar: ouro, cobre, entre outros
minérios, poderão ser extraídos das profundezas. Impactos ambientais severos
são esperados
Mineração no fundo do mar: planos para abrir a primeira mina
do mundo no fundo do oceano estão mais próximos de se tornarem realidade. Uma
empresa de mineração canadense fechou um acordo com o governo de Papua Nova
Guiné. Ela vai minerar uma área no fundo do mar.
Fontes termais contribuem para a formação de minérios
O projeto polêmico pretende extrair minério de cobre, ouro,
e outros metais valiosos, de uma profundidade de 1.500 metros (já existem
projetos de mineração até a 4 mil metros de profundidade, como o Clarion-Clipperton, oceano Pacífico) . A mina terá
como alvo uma área de fontes hidrotermais. Nela, as águas superaquecidas,
e altamente ácidas, emergem do fundo do mar e encontram a água muito mais fria
e alcalina do oceano. Isso as força a depositar altas concentrações de
minerais.
Fundo do mar: minérios mais ricos
O resultado é que o fundo do mar fica coberto de
minérios. Eles são muito mais ricos em ouro e cobre do que os minérios
encontrados nas minas terrestres. Mas não são só minérios a serem extraídos do
fundo mar. Algas calcárias também estão na lista.
Novas tecnologias, oriundas do petróleo, contribuem para
a mineração
Durante décadas a ideia de minerar esses depósitos tem sido
inviabilizada por causa do desafio de engenharia e dos altos custos. Com o
aumento das operações de petróleo e gás, desenvolveu-se uma série de
tecnologias avançadas que permitem a exploração em grandes profundidades. Ainda
assim, a mais simples das extrações, a do petróleo, vive causando problemas. A ver como será este
‘futuro’ a nossa espera…
Mais uma vez, Papua Nova Guiné é escolhida
Segundo o acordo assinado, o governo de Papua Nova Guiné
terá uma participação de 15% na mina oceânica. E vai contribuir com US$ 120
milhões para cobrir os custos da operação.
Solwara-1
A mina, conhecida como Solwara-1, será escavada por uma
frota de máquinas robóticas. Elas serão controladas a partir de um navio na
superfície. O plano consiste em quebrar a camada superior do fundo do mar
de modo que o minério possa ser bombeado para cima, como lama.
Para quebrar as rochas, e raspar o fundo do mar, será
empregada a maior máquina, um triturador pesando 310 toneladas que trabalhará
24 horas por dia.
Promessa de impacto mínimo: difícil acreditar
De acordo com a empresa canadense, Nautilus, a mina terá um
impacto ambiental mínimo. O equivalente a cerca de 10 campos de futebol. E com
foco em uma área que é suscetível de ser rapidamente recolonizada pela vida
marinha. Difícil acreditar já que a mineração é extremamente impactante ao meio
ambiente, mesmo em terra firme. Que diria debaixo d’água.
O descarte das minas e os oceanos
Muitas minas em terra usam o sistema, inclusive algumas em
Papua Nova Guiné, de descarte conhecido como DSTL, Deep Submarined Tailings Disposal, quando milhares de
toneladas de rejeitos são depositadas no fundo do mar causando severos danos.
Ambientalistas dizem que atividade será ‘devastadora’
Enquanto muitos apontam para os “tesouros minerais” no fundo
do mar, ambientalistas dizem que a mineração oceânica será devastadora,
causando danos duradouros à vida marinha.
Mineração no fundo do mar causa debate entre
ambientalistas
Só recentemente a ONU publicou as primeiras regras para
tentar normatizar a mineração no fundo do mar. As perspectivas geraram um forte debate entre
cientistas marinhos.
Advertências de cientistas sobre a mineração no
fundo do mar
Jon Copley, biólogo da Universidade de Southampton, não crê
que tenhamos a propriedade sobre o oceano profundo, no sentido de que possamos
fazer o que quisermos com ele. O biólogo Paul Tyler, do Centro Nacional
Oceanográfico, da Grã-Bretanha, adverte que espécies únicas podem ser colocadas
em risco.
A química marinha, Rachel Mills, da Universidade de
Southampton, sugere um debate mais amplo sobre a mineração, com o argumento de
que todos nós usamos minerais. E que as minas em terra são muito maiores do que
seria qualquer uma no leito do mar.
Brasil adere à mineração submarina
Apesar dos alertas dos cientistas para os imensos problemas
da mineração submarina, o Brasil é o próximo país da lista a iniciar esta
atividade. O país procura metais como cobalto, platina, manganês,
tálio e telúrico.
Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a minerar
tudo do mar
O Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a praticar
esta atividade, prevista para acontecer na Elevação Rio Grande, área de 3 mil quilômetros quadrados,
distando cerca de 1.100 KM da costa do Rio Grande.
TEXTO 4 - Papua Nova Guiné autoriza inédita exploração submarina de
ouro e cobre
Agencia EFE
Sydney (Austrália), 19 jan (EFE).- A mineração ganhou nesta
semana uma importante área de atuação em Papua Nova Guiné, país que aprovou que
uma companhia explore, pela primeira vez na história, jazidas de ouro e cobre
localizadas no leito marinho, a 1.600 metros de profundidade.
A empresa autorizada é a canadense Nautilus Minerals, que
fará a exploração em uma região de 59 quilômetros quadrados do Mar de Bismarck.
O acordo da companhia com o governo estabelece que o Estado
dispõe do prazo de um mês para comunicar se aceita a opção de ficar com 30% do
negócio ao investir no projeto cerca de US$ 20 milhões.
O presidente da Nautilus, Stephen Rogers, disse ao jornal
local "Post Courier" que a "histórica decisão de outorgar a
concessão é um grande passo rumo a esta nova fronteira da mineração".
A concessão, fruto de dois anos de intensas negociações
entre as partes, é válida por um prazo inicial de 20 anos, e está previsto que
a extração de minerais na área denominada "Solwara 1" comece no final
de 2013.
A Nautilus Minerals calcula que, para tornar o projeto de
exploração uma realidade, será necessário investir US$ 385 milhões.
Em entrevista à rádio australiana "ABC", Rogers
afirmou que os mais recentes estudos indicam que a produção anual de minerais
será da ordem de 1,3 milhão de toneladas, e gerará, aproximadamente, 80 mil
toneladas de cobre de qualidade superior ao encontrado em terra firme. Além
disso, serão obtidos, a cada ano, de 4,5 mil a 5,6 mil quilos de ouro. EFE
TEXTO 5 - Corrida por mineração no fundo do mar gera polémica
David Shukman Editor de Ciência, BBC
- 19 maio 2013
A Ideia de explorar metais do
leito oceânico vem sendo considerada há décadas
As perspectivas de uma "corrida do ouro" nas
profundezas do mar, abrindo um polêmico caminho para a mineração no leito
oceânico, estão mais próximas.
A ONU recém-publicou seu primeiro plano para o gerenciamento
da extração dos chamados "nódulos" - pequenas rochas ricas em
minerais - do fundo do mar.
Um estudo técnico promovido pela Autoridade Internacional do
Leito Oceânico (ISA, na sigla em inglês), o órgão da ONU que controla a
mineração nos oceanos, diz que as companhias interessadas podem pedir licenças
a partir de 2016.
A ideia de explorar ouro, cobre, manganês, cobalto e outros
metais do leito oceânico foi considerada por décadas, mas só recentemente se
tornou factível, por conta do alto preço das commodities e de tecnologias mais
modernas.
Especialistas em proteção ambiental vêm advertindo há tempos
que a mineração no leito oceânico pode ser altamente destrutiva e poderia ter
consequências de longo prazo desastrosas para a vida marinha.
O próprio estudo da ONU reconhece que a mineração provocará
"danos ambientais inevitáveis".
Mas o relatório foi divulgado em meio ao que um porta-voz do
órgão descreve como "um aumento sem precedentes" no interesse das
companhias estatais e privadas.
Divisão de receitas
O número de licenças emitidas para a busca de minerais já
chega a 17, com outras sete prestes a serem emitidas e muitas mais em análise.
Elas cobrem vastas áreas dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico.
De acordo com a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar, a
ISA foi estabelecida para estimular e administrar a mineração do fundo do mar
para o benefício mais amplo da humanidade - com uma parcela dos lucros dirigida
para os países em desenvolvimento.
Agora o órgão está dando o passo significativo de não só
mais simplesmente manejar pedidos para exploração mineral, mas também
considerar como licenciar as primeiras operações reais de mineração e como
dividir as receitas.
"Estamos à beira de uma nova era de mineração do leito
marinho profundo", disse à BBC o conselheiro legal do ISA, Michael Lodge.
A atração é óbvia. Uma análise do leste do Pacífico - uma
área de 5 milhões de quilômetros quadrados conhecida como zona
Clarion-Clipperton - concluiu que mais de 27 bilhões de toneladas de nódulos
poderiam estar misturadas à areia.
Essas pedras poderiam conter 7 bilhões de toneladas de
manganês, 340 milhões de toneladas de níquel, 290 milhões de toneladas de cobre
e 78 milhões de toneladas de cobalto - apesar de ainda não se saber o quanto
disso é acessível.
Operações viáveis
Image caption ONU tenta avaliar quais empresas têm a
capacidade técnica para atividade
De acordo com o estudo de planejamento, a ISA enfrenta o
desafio de tentar garantir que os benefícios da mineração de nódulos cheguem
além das próprias companhias e ao mesmo tempo fomentar operações comercialmente
viáveis.
O plano se baseia em prover operadores com incentivos para
assumir riscos no que poderiam ser investimentos caros sem perder a chance de
os países em desenvolvimento receberem uma fatia das receitas.
A ISA tenta agora avaliar que companhias têm capacidade
suficiente para desenvolver o trabalho, ainda que nenhuma empresa tenha
experiência específica nessa nova modalidade de mineração.
Um fator chave na avaliação da ISA é a necessidade de
salvaguardas ambientais, então o documento pede o monitoramento do leito
marinho durante qualquer operação de mineração - apesar de os críticos
questionarem se a atividade na profundeza dos oceanos pode ser policiada.
Debate
As perspectivas da mineração no fundo do mar já geraram um
forte debate entre cientistas marinhos.
"Não creio que nós tenhamos a propriedade sobre o
oceano profundo, no sentido de que possamos fazer o que quisermos com
ele", afirma Jon Copley, biólogo da Universidade de Southampton e chefe de
missão do navio de pesquisas britânico James Cook.
"Em vez disso, nós dividimos a responsabilidade por sua
condução", diz. "Nós não temos um histórico bom em alcançar um
balanço em nenhum outro lugar - pense nas florestas tropicais -, então a
questão é: 'Será que conseguiríamos acertar?", questiona.
O também biólogo Paul Tyler, do Centro Nacional
Oceanográfico, da Grã-Bretanha, adverte de que espécies únicas podem ser
colocadas em risco.
"Se você limpa aquela área pela mineração, aqueles
animais terão que fazer uma dessas duas coisas: ou se dispersam e colonizam
outra fissura hidrotermal em outro lugar ou eles morrem", comenta.
"E o que acontece quando elas morrem é que a fissura se
torna biologicamente extinta", diz.
A química marinha Rachel Mills, da Universidade de
Southampton, sugere um debate mais amplo sobre a mineração em geral, com o
argumento de que todos nós usamos minerais e que as minas em terra são muito
maiores do que seria qualquer uma no leito do mar.
Ela fez pesquisas para a Nautilus Minerals, uma empresa
canadense que planeja explorar minas nas fissuras hidrotermais na costa da
Papua Nova Guiné.
"Tudo o que nos cerca, e a maneira como vivemos,
depende de fontes minerais, mas não nos perguntamos com frequência de onde eles
veem", afirma.
"Precisamos nos perguntar se há mineração sustentável
em terra e se há mineração sustentável no mar. Acho que são as mesmas questões
morais que devemos colocar se é nos Andes ou no Mar de Bismarck", diz.
Esse debate deve crescer mais com a proximidade cada vez
maior do início das operações de mineração.
TEXTO 6 - Mineração no fundo do oceano Pacífico preocupa
ambientalistas por falta de regulamentação
Opera mundi25 de nov de 2014 às 08:00
Por vários anos, a ideia de explorar depósitos minerais no
fundo do oceano não passou de um sonho inviável. O equipamento de extração não
era sofisticado ou não apresentava uma relação custo-benefício boa o
suficiente, e as empresas de mineração estavam muito ocupadas com os depósitos
terrestres. No entanto, o surgimento de tecnologias elaboradas especificamente
para inspecionar o leito marinho – junto da crescente queda de qualidade
mineral em muitas das minas terrestres atuais – está levando a indústria para
cada vez mais perto de uma nova e, segundo muitos ambientalistas e
oceanógrafos, preocupante fronteira.
Após anos de tentativas, em abril deste ano uma mineradora canadense assinou um acordo com o governo da Papua Nova Guiné para extrair cobre e ouro de suas águas. De acordo com a Autoridade Internacional de Leitos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), uma agência regulatória criada em 1994 sob os auspícios das Nações Unidas, a empresa Nautilus Minerals planeja começar a testar seu equipamento no próximo ano em águas europeias.
Após anos de tentativas, em abril deste ano uma mineradora canadense assinou um acordo com o governo da Papua Nova Guiné para extrair cobre e ouro de suas águas. De acordo com a Autoridade Internacional de Leitos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), uma agência regulatória criada em 1994 sob os auspícios das Nações Unidas, a empresa Nautilus Minerals planeja começar a testar seu equipamento no próximo ano em águas europeias.
A principal preocupação entre os críticos é a de que a
mineração do leito marinho comece sem um acompanhamento regulatório abrangente
e uma avaliação ecológica. Eles dizem que a perfuração do solo marítimo poderia
destruir ecossistemas e levantar uma imensa quantidade de sedimento, o que
diminuiria a concentração de oxigênio em algumas áreas. Empresas internacionais
poderiam também tirar vantagem das liberdades ou da inexistência de
fiscalização em pequenas ilhas do oceano Pacífico – precisamente onde os
depósitos minerais submarinos estão mais concentrados.
Leia também: Certificado de ‘ouro ético’ não garante respeito a meio
ambiente e direitos humanos na mineração
"As comunidades se preocupam com o fato de que os
governos não sabem o suficiente sobre a ecologia local ou sobre as implicações
da mineração marítima", disse Maureen Penjueli, coordenador da Pacific
Network on Globalization, uma ONG sediada no Fiji que monitora a prospecção de
leitos na região desde 2009. "Nós não temos visto muitos benefícios na
mineração terrestre, e isto seria ainda pior levando em conta a pesca ou o
turismo – e aqui estamos cruzando uma nova fronteira".
"Estamos comprometidos com o uso de métodos de extração mineral ecologicamente corretos", diz Jennifer Warren, diretora de regulamentação da UK Seabed Resources [Recursos do Leito Marinho do Reino Unido], subsidiária do braço britânico da empresa americana Lockheed Martin. "Estamos trabalhando em conjunto com instituições de pesquisa e cientistas para entender qualquer possível impacto ambiental dos esforços".
"Estamos comprometidos com o uso de métodos de extração mineral ecologicamente corretos", diz Jennifer Warren, diretora de regulamentação da UK Seabed Resources [Recursos do Leito Marinho do Reino Unido], subsidiária do braço britânico da empresa americana Lockheed Martin. "Estamos trabalhando em conjunto com instituições de pesquisa e cientistas para entender qualquer possível impacto ambiental dos esforços".
Até os anos 50, o fundo do oceano ainda era visto como um
local escuro e desolado onde quase não havia biodiversidade a ser protegida.
Entretanto, nos anos 60, novas tecnologias de amostragem levaram à descoberta
de novas espécies marinhas e, por volta dos anos 70, cientistas descobriram
bactérias que viviam nas profundezas de regiões com atividade vulcânica. Estas
bactérias são alimento para vários organismos invertebrados. No início dos anos
90, cientistas estimavam que o fundo do oceano abrigava cerca de 10 milhões de
espécies de pequenos invertebrados.
Leia também: Remoção de barragens restaura rios e multiplica peixes nos
EUA
Foi em meio a este despertar para a biodiversidade marinha que o interesse pela mineração do leito do mar voltou à tona. Embora o investimento nestas operações continue sendo dispendioso, a "equação está se invertendo", de acordo com Michael W. Lodge, conselheiro legal da ISA. "As pessoas estão começando a achar que o investimento inicial vale a pena, por causa dos lucros posteriores". A ISA emitiu sete novas permissões para exploração de leitos apenas neste ano, observou Lodge, o que leva o total global a 26, abrangendo uma área de águas internacionais mais ou menos do tamanho do México.
Espera-se, no entanto, que a operação planejada da Nautilus Minerals em águas territoriais da Papua Nova Guiné seja a primeira mina submarina de escala comercial. Vários países vizinhos começaram a emitir permissões de exportação – e, em alguns casos, legislações específicas sobre a exploração de minérios no mar começam a ser esboçadas. A Nova Zelândia também está avaliando requisições para a exploração de duas minas submarinas em suas águas, visando a obtenção de areia ferrosa e fosfato.
James Hein, geólogo da Agência Geológica dos EUA e presidente da Sociedade Internacional de Minerais Marinhos, que une indústria, governo e instituições acadêmicas, sugeriu que a busca global pela mineração dos chamados elementos "raros" – que são usados na manufatura de celulares, turbinas, painéis solares, carros elétricos e outros produtos – é um fator-chave na nova empreitada da indústria.
Foi em meio a este despertar para a biodiversidade marinha que o interesse pela mineração do leito do mar voltou à tona. Embora o investimento nestas operações continue sendo dispendioso, a "equação está se invertendo", de acordo com Michael W. Lodge, conselheiro legal da ISA. "As pessoas estão começando a achar que o investimento inicial vale a pena, por causa dos lucros posteriores". A ISA emitiu sete novas permissões para exploração de leitos apenas neste ano, observou Lodge, o que leva o total global a 26, abrangendo uma área de águas internacionais mais ou menos do tamanho do México.
Espera-se, no entanto, que a operação planejada da Nautilus Minerals em águas territoriais da Papua Nova Guiné seja a primeira mina submarina de escala comercial. Vários países vizinhos começaram a emitir permissões de exportação – e, em alguns casos, legislações específicas sobre a exploração de minérios no mar começam a ser esboçadas. A Nova Zelândia também está avaliando requisições para a exploração de duas minas submarinas em suas águas, visando a obtenção de areia ferrosa e fosfato.
James Hein, geólogo da Agência Geológica dos EUA e presidente da Sociedade Internacional de Minerais Marinhos, que une indústria, governo e instituições acadêmicas, sugeriu que a busca global pela mineração dos chamados elementos "raros" – que são usados na manufatura de celulares, turbinas, painéis solares, carros elétricos e outros produtos – é um fator-chave na nova empreitada da indústria.
Outros recursos também buscados são minerais sulfuretos –
uma fonte de metais preciosos como prata, ouro e cobre – que se acumulam ao
redor de orifícios no leito marinho onde fluidos quimicamente ricos vazam para
o oceano a temperaturas próximas dos 537 graus Celsius. O projeto da Nautilus
Minerals na Papua Nova Guiné planeja cortar o leito marinho com uma máquina,
controlada remotamente, de cerca de 8 metros de altura, 12 metros de largura e
16 metros de comprimento. De acordo com a empresa, os minerais serão extraídos
por meio de um "bocal de sucção embutido" e bombeados até a
superfície, que estará a uma distância de mais ou menos 1,6 quilômetro.
Nódulos de manganês – pedaços de pedras do tamanho de um punho contendo cobre, níquel e cobalto – também são valorizados e, em águas mais rasas, as mineradoras buscam rochas que contenham fosfato, ingrediente central para a produção de fertilizantes. "O processo consiste, basicamente, em um enorme aspirador de pó", disse Chris Castle, da Chatham Rock Phosphate, a empresa por trás da solicitação de concessão para extração de fosfato na Nova Zelândia.
Nódulos de manganês – pedaços de pedras do tamanho de um punho contendo cobre, níquel e cobalto – também são valorizados e, em águas mais rasas, as mineradoras buscam rochas que contenham fosfato, ingrediente central para a produção de fertilizantes. "O processo consiste, basicamente, em um enorme aspirador de pó", disse Chris Castle, da Chatham Rock Phosphate, a empresa por trás da solicitação de concessão para extração de fosfato na Nova Zelândia.