John Stuart Mill, Utilitarismo, Porto Editora, Porto, 2005
quinta-feira, 29 de abril de 2021
Texto para resumo Guilherme 10B
De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou
quase todos aqueles que tiveram a experiência de ambos derem uma
preferência decidida, independentemente de sentirem qualquer obrigação
moral para o preferir, então será esse o prazer mais desejável. Se um
dos dois for colocado, por aqueles que estão competentemente
familiarizados com ambos, tão acima do outro que eles o preferem mesmo
sabendo que é acompanhado de um maior descontentamento, e se não
abdicarem dele por qualquer quantidade do outro prazer acessível à sua
natureza, então teremos razão para atribuir ao deleite preferido uma
superioridade em qualidade que ultrapassa de tal modo a quantidade que
esta se torna, por comparação, pouco importante.Ora,
é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente
familiarizados com ambos, e que são igualmente capazes de os apreciar e
de se deleitar com eles, dão uma preferência muitíssimo marcada ao modo
de existência que emprega as suas faculdades superiores. Poucas
criaturas humanas consentiriam ser transformadas em qualquer dos animais
inferiores perante a promessa da plena fruição dos prazeres de uma
besta, nenhum ser humano inteligente consentiria tornar-se tolo, nenhuma
pessoa instruída se tornaria ignorante, nenhuma pessoa de sentimento e
consciência se tornaria egoísta e vil, mesmo que a persuadissem de que o
tolo, o asno e o velhaco estão mais satisfeitos com a sua sorte do que
ela com a sua. (...) Um ser com faculdades superiores precisa de mais
para ser feliz, provavelmente é capaz de um sofrimento mais agudo e
certamente é-lhe vulnerável em mais aspectos. Mas, apesar destas
desvantagens, não pode nunca desejar realmente afundar-se naquilo que se
lhe afigura como um nível de existência inferior. (...) Quem supõe que
esta preferência implica um sacrifício da felicidade - que, em igualdade
de circunstâncias, o ser superior não é mais feliz que o ser inferior -
confunde as ideias muito diferentes de felicidade e de contentamento. É
indiscutível que um ser cujas capacidades de deleite sejam baixas tem
uma probabilidade maior de as satisfazer completamente, e que um ser
amplamente dotado sentirá sempre que, da forma como o mundo é
constituído, qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita. Mas
pode aprender a suportar as suas imperfeições, se de todo forem
suportáveis, e estas não o farão invejar o ser que, na verdade, está
inconsciente das imperfeições, mas apenas porque não sente de modo
nenhum o bem que essa imperfeições qualificam. É melhor um ser humano
insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor Sócrates insatisfeito
do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião
diferente é porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra
parte da comparação conhece ambos os lados.
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