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Porque em filosofia argumentamos
uns com os outros sobre questões filosóficas é natural pensar que a filosofia é
um processo "adversarial" [antagónico] como dois advogados (o de
acusação e o de defesa) que argumentam um contra o outro num tribunal.
Contudo,
há duas razões pelas quais esta comparação dos filósofos com os advogados não é
boa. Em primeiro lugar, o objectivo de cada advogado é ganhar a causa do seu
cliente — quer o seu cliente esteja inocente quer não. Pelo contrário, o
objectivo de dois filósofos que se encontrem a argumentar um com o outro é
chegar à verdade — seja ela qual for e seja quem for que tenha razão. Como um
estudante afirmou, eloquentemente, o objectivo de cada advogado é ganhar a
causa, quer ele tenha a verdade quer não, ao passo que o objectivo de cada
filósofo é chegar à verdade, quer ele ganhe o argumento quer não. (Sendo os
filósofos seres humanos, nem sempre são assim tão imparciais, mas o ideal é
este.)
Em segundo lugar, num julgamento
há uma autoridade (o juiz ou o júri) que os advogados tentam persuadir, e que
em última análise determina se o acusado está ou não inocente. Em filosofia,
pelo contrário, não há qualquer juiz ou júri com autoridade para tornar uma
posição incorrecta e a outra correcta. Só existimos nós. Claro que alguns de
nós sabem mais do que outros sobre questões filosóficas, e o mais sábio é ficar
atento e aprender com quem sabe mais do que nós, mas quando chega o momento de
tomar decisões relativamente a um tema filosófico somos todos igualmente
responsáveis pelas nossas crenças e devemos por isso tomar, cada um de nós, as
suas próprias decisões.
Richard E. Creel, Thinking Philosophical.Trad. Desidério Murcho
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