Robert Doisneau
O que são os valores? Dizemos que os valores não existem por si
mesmos: necessitam de um depositário sobre o qual descansam. Aparecem-nos,
portanto como meras qualidades desses depositários: beleza de um quadro,
elegância de um vestido, utilidade de uma ferramenta. Se observarmos o vestido,
o quadro ou a ferramenta, veremos que a qualidade valorativa é distinta das
outras qualidades.
Nos objectos mencionados há algumas qualidades que parecem
essenciais para a própria existência dos objectos, por exemplo, a extensão. Mas
o valor não confere nem agrega ser, pois a pedra existia plenamente antes de
ser talhada, antes de se transformar num bem.
Enquanto as qualidades primárias não se podem eliminar dos
objectos, bastam uns golpes de martelo para terminar com a utilidade de um
instrumento ou a beleza de uma estátua. Antes de incorporar-se no respectivo
portador ou depositário, os valores são meras "possibilidades", isto
é, não têm existência real mas virtual.
Ver-se-á melhor a diferença se se comparar a beleza, que é um
valor, com a ideia de beleza, que é um objecto ideal. Captamos a beleza
primordialmente por via emocional, enquanto a ideia de beleza aprende-se por
via intelectual.
Com o fim de distinguir os valores dos objectos ideais, afirma-se
que estes são, enquanto os valores não são mas valem.
Uma característica fundamental dos valores é a polaridade.
Enquanto as coisas são o que são, os valores apresentam-se desdobrados num
valor positivo e o correspondente valor negativo. Assim, a beleza opõe-se à
fealdade, o mal ao bem. A polaridade implica a ruptura com a indiferença. Não
há obra de arte que seja neutra, nem pessoa que se mantenha indiferente a
escutar uma sinfonia, ler um poema ou ver um quadro.
Aliás os valores estão ordenados hierarquicamente, isto é, há
valores inferiores e superiores. É mais fácil afirmar a existência de uma ordem
hierárquica do que indicar qual é essa ordem e quais são os critérios para a
estabelecer.
Muitos são os axiólogos que têm enunciado uma tábua de valores,
pretendendo que essa seja a "TÁBUA", mas a crítica mostra rapidamente
os erros de tais tábuas e dos critérios usados na sua elaboração.
O homem individualmente, bem como as comunidades e os grupos
culturais concretos, manejam sempre uma tábua de valores. É certo que tais
tábuas não são fixas, mas flutuantes, e nem sempre coerentes; porém é
indubitável que o nosso comportamento frente ao próximo, aos seus actos, às
suas criações estéticas (...) é julgá-los e preferi-los de acordo com uma tábua
de valores. Submeter essas tábuas de valores, que obscuramente influem na nossa
conduta e nas nossas preferências, a um exame crítico, é a tarefa a que o homem
moderno não pode renunciar.
Frondizi, Qué son los valores? (México, Fondo de Cultura Económica).
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