quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Texto para resumo Leonor 10A

 


Considera o argumento seguinte:

2) A maior parte dos ingleses lê o Times; logo, o próximo inglês que encontrarmos será leitor do Times.

Este argumento é indutivamente válido; isto porque, na circunstância em que tem premissa verdadeira, a sua conclusão é muito provavelmente verdadeira. Se quiséssemos explicar a sua validade mantendo a metáfora da força, teríamos de dizer que se trata de um argumento forte.

Porém, o argumento seguinte é igualmente válido, pela mesma razão:

3) A maior parte dos ingleses lê o Público; logo, o próximo inglês que encontrarmos será leitor do Público.

A querermos manter a metáfora da força, para explicar a validade de 3, teríamos de dizer que também 3 é um argumento forte. Mas parece haver algo de contra-intuitivo em pretender que 3 é um argumento forte: aceitamos que a sua conclusão seria provavelmente verdadeira, se a sua premissa fosse verdadeira; mas a sua premissa é claramente falsa; daí que nada possamos concluir. O que quer que seja um argumento forte, dificilmente será isto.

Se tudo o que podemos fazer com a metáfora da força se limita a isto, então a metáfora da força não nos ajuda muito: já tínhamos decidido que tanto 2 como 3 são válidos; falar de fraqueza ou de força a respeito da maneira como a premissa de cada um apoia a respectiva conclusão nada parece acrescentar.

A diferença relevante entre 2 e 3 não é a validade; isto porque a probabilidade de terem conclusão verdadeira, na circunstância em que a premissa é verdadeira, é igual em ambos os casos. A diferença relevante entre 2 e 3 é a plausibilidade da respectiva premissa: tanto 2 como 3 têm premissa falsa; porém, 3 tem premissa muito mais evidentemente falsa do que 2. A partir do momento em que ambos os argumentos são válidos, agora parece fazer sentido falar de força: dizer que 2 é um argumento forte e 3 é um argumento fraco não significa que 2 é válido e 3 inválido: significa, sim, que, sendo ambos válidos, 2 tem premissa mais plausível do que 3.

Não pode ser, portanto, a força que explica a validade. A metáfora de força pode ser esclarecedora quando confrontamos argumentos que já decidimos serem válidos: será mais forte o que tiver premissa ou premissas mais plausíveis.

Artur Polónio, in Crítica na rede

Nenhum comentário: