O objectivo de um argumento é expor as razões (premissas) que sustentam uma conclusão. Um argumento é falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a conclusão, mas na realidade não sustentam. Da mesma maneira que há padrões típicos, largamente usados, de argumentação correcta, também há padrões típicos de argumentos falaciosos. A tradição lógica e filosófica procurou fazer um inventário e dar nomes a essas falácias típicas e este guia faz a sua listagem.
Falso dilema
É dado um limitado número de opções (na maioria dos casos apenas
duas), quando de facto há mais. O falso dilema é um uso ilegítimo do operador
“ou”. Pôr as questões ou opiniões em termos de “ou sim ou sopas” gera,
com frequência (mas nem sempre), esta falácia. Exemplos:
- Ou concordas comigo ou não.
(Porque se pode concordar parcialmente.)
- Reduz-te ao silêncio ou aceita o
país que temos. (Porque uma pessoa tem o direito de denunciar o que
entender.)
- Ou votas no Silveira ou será a
desgraça nacional. (Porque os outros candidatos podem não ser assim tão
maus.)
- Uma pessoa ou é boa ou é má.
(Porque muitas pessoas são apenas parcialmente boas.)
Apelo à ignorância (argumentum ad
ignorantiam)
Os argumentos desta classe concluem que algo é verdadeiro por não
se ter provado que é falso; ou conclui que algo é falso porque não se provou
que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso dilema, já que presume que
todas as proposições têm de ser realmente conhecidas como verdadeiras ou
falsas). Mas, como Davis escreve, “A falta de prova não é uma prova”. (p. 59)
Exemplos:
- Os fantasmas existem! Já provaste
que não existem?
- Como os cientistas não podem
provar que se vai dar uma guerra global, ela provavelmente não ocorrerá.
- Fred disse que era mais esperto
do que Jill, mas não o provou. Portanto, isso deve ser falso.
Derrapagem (bola de neve)
Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraiem-se
consequências inaceitáveis de P e consequências das consequências... O
argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou duvidoso.
Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos vários passos “se...
então...” que constituem o todo do argumento. Exemplos:
- Se aprovamos leis contra as armas
automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas,
e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por
viver num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas
automáticas.
- Nunca deves jogar. Uma vez que
comeces a jogar verás que é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a
deixar todo o teu dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que
te vires para o crime para suportar as tuas despesas e pagar as dívidas.
- Se eu abrir uma excepção para ti,
terei de abrir excepções para todos.
Stephen Downes,
Guia das falácias
Nenhum comentário:
Postar um comentário