Diferença entre relativismo cultural e relativismo moral
Nas discussões calorosas sobre a universalidade de
valores morais tornou-se comum apelar para a cultura. Nesses argumentos, a cultura seria
responsável para justificar as atitudes. Porém, o conceito de cultura empregue
nessas discussões, é muito vago e é importante
diferenciar o relativismo moral do relativismo cultural.
Relativismo cultural é
uma atitude e pressuposto de método de pesquisa que serve para descrever,
analisar e avaliar a cultura de um grupo humano baseado em termos e valores
daquele grupo. Quando se refere aos aspetos morais, trata-se de um relativismo
moral descritivo.
Por outro lado, relativismo moral é
acreditar que não há valores absolutos ou universais, mas que a moral é
determinada pelas circunstâncias.
O relativismo cultural opõe-se ao etnocentrismo enquanto
relativismo moral opõe-se ao universalismo moral.
O problema de como julgar os “outros” ou o
“estranho” é universal e antigo. Os gregos chamavam de barbaroi a todos
os que eles não entendiam. Os primeiros portugueses a encarar a
diversidade cultural dos nativos brasileiros submeteram línguas como o tupi
antigo à gramática latina e reclamavam que para os tupi não havia “fé, nem lei,
nem rei” – tanto pela ausência dos fonemas /f/, /l/ e /r/ quanto pela
falta de religião, normas legais e organização social nos moldes
europeus. Assim, a língua indígena por não ser nada similar aos que
os europeus conheciam, era tida como defeituosa como os próprios indígenas.
Essa atitude de julgar a cultura alheia, frequentemente julgando-a inferior,
exemplifica o etnocentrismo.
Baseando-se nesse etnocentrismo, autoridades coloniais
e antropólogos do século XIX categorizavam o mundo num esquema evolutivo em
civilizados (eles mesmos), bárbaros (outras nações) e selvagens (gente
que supostamente viviam como animais). Tais diferenças de escala teriam razões
deterministas: ou era a raça ou o clima que afetavam o grau de civilidade.
O relativismo cultural defende que não é possível julgar culturas diferentes e opõe-se ao etnocentrismo.
Uma maneira de diferenciar os conceitos de relativismo moral e
relativismo cultural é aplicá-los num caso. Tomamos, por exemplo, a linguagem.
Sob a perspetiva do relativismo cultural, todas as línguas são válidas — não há
línguas melhores que outras, pois todas são completas para expressar
pensamentos e emoções. Também cada registro linguístico é válido no seu
contexto. (…) Agora, aplicando o conceito de relativismo moral: seria certo um
ministro chamar os seus pares com um palavrão? Ou ofender verbalmente um membro
de outro partido? Ambas as ofensas são moralmente inaceitáveis, embora
possíveis com os recursos linguísticos daquelas comunidades. O fato de esses
termos existirem nessas comunidades culturais não tornaria seus usos
indiscriminados moralmente legítimos.
ALVES, Leonardo
Marcondes. Diferença entre relativismo cultural e relativismo moral. Ensaios
e Notas,
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