A distinção entre verdade e validade
"É necessário agora distinguir claramente a validade, ou a correcção de
um raciocínio, da verdade. A validade é uma propriedade dos raciocínios e
não das proposições que os compõem, ao passo que a verdade é uma
propriedade das proposições que compõem os raciocínios. Isto é, uma
proposição pode ser verdadeira ou falsa; mas não faz sentido dizer que é
válida ou inválida. Pelo contrário, um raciocínio é válido ou inválido
mas não faz sentido dizer que é verdadeiro ou falso. Esta não é uma mera
convenção, nem uma distinção meramente verbal; ela corresponde à
diferença que existe entre a avaliação de um raciocínio e a avaliação de
uma proposição. Avaliar uma proposição é muito diferente de avaliar um
raciocínio. Quando avaliamos um raciocínio e sancionamos a sua
qualidade, afirmamos que ele nos “conduz” à verdade, assumindo que as
premissas são verdadeiras. Esta verdade a que ele nos “conduz” é a
proposição que se conclui. Assim, avaliar positivamente um raciocínio é
afirmar que, assumindo a verdade das suas premissas, ele nos garante a
verdade da conclusão. Logo, temos de distinguir essa qualidade que os
bons raciocínios têm, que consiste em garantir a verdade das suas
conclusões, da própria verdade das suas conclusões: é preciso distinguir
o comboio que nos conduz ao Porto, do Porto."
- Desidério Murcho, Limites do papel da lógica na filosofia, em https://criticanarede.com/logica2.htm
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