Paulo Gonçalves, um dos portugueses que participou no rali Dakar 2016, esteve em grande destaque na sétima etapa, depois de ter parado mais de dez minutos para ajudar Matthias Walkner — um piloto rival — que sofrera um acidente e partiu o fémur. Esta ação poderia ter custado a Paulo Gonçalves a liderança da classificação geral, mas ele não hesitou em parar para ajudar. Mais tarde, escreveria no Facebook:
Fiz aquilo que me competia. […] Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos.
O Público, onde li a notícia, refere que Paulo Gonçalves “protagonizou a boa ação do dia na sétima etapa do rali” (Pimentel, 2016).
As nossas ações podem ter várias características. Quando encaradas sob o aspeto pelo qual podem chamar-se boas ou más, têm um valor moral. Ao lermos as declarações de Paulo Gonçalves e a notícia do Público, formamos a crença de que é uma pessoa de valores, ou com valores, querendo com isto dizer que segue bons valores: foi solidário, bondoso e respeitoso com o seu rival. (...)
Mas o que são os valores? Qual é a sua natureza? As coisas têm valor porque as valorizamos, ou valorizamo-las porque têm valor? A axiologia, também chamada filosofia dos valores ou teoria dos valores, procura responder a estas perguntas. A axiologia estuda a natureza dos valores em geral, o significado e as características das afirmações que referem valores (os juízos de valor), analisa a possibilidade de esses juízos serem verdadeiros ou falsos e as condições em que o poderão ser
Os
filósofos discordam em relação ao que sejam os valores (como, de resto, em
relação a quase tudo). Uns pensam que os valores são ideias que existem apenas
na mente de quem neles pensa, outros pensam que os valores são realidades
abstratas com alguma independência dos sujeitos. Uma definição neutra e
consensual dos valores apresenta-no-los como “aquilo que nos leva a ter
preferência e interesse por algumas coisas, pessoas, ações, situações, etc., e
não por outras, e, por isso, a avaliá-las positiva ou negativamente” . Entendidos deste modo, os valores são critérios de
ação, orientam as nossas decisões, dão-nos uma linha de rumo:
Permitem avaliar pessoas e situações, e ajudam-nos a classificar as coisas como boas ou más, desejáveis ou indesejáveis, benéficas ou prejudiciais.
Os valores são diversos. Vão desde
as ações cotadas na bolsa — que têm um valor económico — aos mais elevados
valores morais, desde o copo de água, capaz de matar a sede, até ao que
pensamos que nos ajuda a aproximar-nos de Deus — como a fé. Dada a grande
diversidade de valores, é costume agrupá-los em áreas ou domínios. Entre os
mais estudados em filosofia, temos os valores éticos, os estéticos e os
religiosos. Valores como a bondade, a solidariedade, o respeito, a honestidade,
a lealdade, a justiça e a liberdade são valores éticos. Valores como a beleza,
a graciosidade, a harmonia e a elegância são valores estéticos. Valores como a
fé, o sagrado e a pureza são valores religiosos.
António Padrão
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