Stuart Mill, 1806/1873
O que é a felicidade?
Mill tem uma perspectiva hedonista
de felicidade. Segundo esta perspectiva, a felicidade consiste no prazer e na
ausência de dor. O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro.
Mas a novidade de Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o
que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. Mas o que
quer isto dizer? Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros
devido à sua natureza. Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor
são os prazeres do pensamento, sentimento e imaginação; tais prazeres resultam
da experiência de apreciar a beleza, a verdade, o amor, a liberdade, o
conhecimento, a criação artística. Qualquer prazer destes terá mais valor e
fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres
inferiores. Quais são os prazeres inferiores? Os prazeres ligados às
necessidades físicas, como beber, comer e sexo.
Diz-se que
o hedonismo de Mill é sofisticado por ter em conta a qualidade dos prazeres na
promoção da felicidade para o maior número; a consequência disso é deixar em
segundo plano a ideia de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode
medir meramente em termos de duração e intensidade. É a qualidade do prazer que
é relevante e decisiva. Daí Mill dizer que é preferível ser um “Sócrates
insatisfeito a um tolo satisfeito”. Sócrates é capaz de prazeres elevados e
prazeres baixos e escolheu os primeiros; o tolo só é capaz de prazeres baixos e
está limitado a uma vida sem qualidade.
Mas será que é realmente preferível ser um “Sócrates insatisfeito”? Mill afirma que, se fizéssemos a pergunta às pessoas com experiência destes dois tipos de prazer, elas responderiam que os prazeres elevados produzem mais felicidade que os prazeres baixos. Todas fariam a escolha de Sócrates.
Há filósofos que consideram a distinção entre prazeres inferiores e superiores incompatível com o hedonismo. Se, como afirma o hedonismo, uma experiência vale mais do que outra apenas em virtude de ser mais aprazível, ao aumentarmos progressivamente a aprazibilidade do prazer inferior, chegaremos a um ponto em que este pesará mais do que um prazer superior na balança dos prazeres; e nesse caso, se quisermos manter o hedonismo, a distinção entre prazeres inferiores e superiores deixará de fazer sentido e terá de ser abandonada. Convido-te a imaginar que resposta poderá ser dada a esta objecção em defesa da ética de Mill.
Faustino Vaz
Retirado DAQUI
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