(A fotografia mostra a passagem clandestina em Portugal de refugiados judeus, durante a segunda guerra mundial )
1 – As regras morais não são absolutas
Kant defende que para agirmos moralmente temos de respeitar
de forma incondicional um conjunto de algumas regras morais (deveres ditados
pela nossa razão). Para Kant, essas regras morais são absolutas, são para serem
respeitadas de forma incondicional, sem exceções, em todas as situações do
nosso quotidiano.
Uma dessas regras é o nosso “dever de não mentir”. Para
Kant, não devemos mentir em toda e qualquer situação. Mas quererei eu que este
princípio de ação se aplique universalmente a todos os casos possíveis de ação?
Vamos ver um caso em que é preferível mentir a dizer a verdade, ou seja, em que
é moralmente mais correto mentir a dizer a verdade, sendo o caso de termos de
mentir com vista a salvarmos a vida de uma pessoa (lembre-se de que Kant
admitira que não existiam exceções para a violação ou desobediência a estas
regras morais).
Imagine que vai na rua e de repente vê um rapaz a correr
aflito na sua direção, entrando, logo de seguida, numa casa abandonada que se
encontrava ao seu lado. Poucos segundos depois, quando retomava o seu percurso,
avista um homem com uma pistola na mão que lhe pergunta de relance se viu algum
rapaz a correr, percebendo de imediato, naquele momento, que o homem teria a
intenção de disparar contra o rapaz e, provavelmente, de matá-lo. O que diz ao
homem? Tem duas possibilidades de ação.
Uma das possibilidades é dizer a verdade ao homem,
dizendo-lhe que o rapaz se encontra mesmo ali ao vosso lado, no interior da
casa abandonada, sabendo que as consequências do que afirmou poderão
eventualmente resultar na morte do rapaz.
A outra das possibilidades é mentir, dizendo ao homem que o
rapaz seguiu em frente. Mentir? Mas isso Kant não o permitiria, diria. Exato,
não o permitiria. Mas o que é que para si é moralmente mais correto, dizer a
verdade e pôr em causa a vida de uma pessoa ou mentir e provavelmente salvar a
vida de uma pessoa? De acordo com uma das formulações do imperativo categórico
de Kant, como irias querer que todas as pessoas agissem quando confrontadas com
essa situação:
1 – Que mentissem e não pusessem em causa a vida de um jovem
2 – Que dissessem a verdade e pusessem em causa a vida de um
jovem.
Vamos colocar as duas na balança da decisão ética. Tenho a
certeza de que a maioria das pessoas concordaria com a primeira das hipóteses.
É claro que Kant iria afirmar que, dizendo a verdade ou pura
e simplesmente mentindo, as consequências são imprevisíveis. Portanto, o melhor
é sempre dizermos a verdade, aquilo que a nossa razão nos ordena. Mas isto é
absurdo, porque um caso como este põe em causa a vida de uma pessoa e, neste
sentido, podemos dizer que as consequências daquilo que afirmamos poderão
provavelmente resultar na morte de um jovem.
Ora, este exemplo revela que nem sempre é moralmente correto
termos de respeitar de forma incondicional as regras morais da nossa
consciência racional, tal como Kant nos tinha dito. Logo, concluímos que as
regras morais não são absolutas.
Luís Rodrigues, retirado daqui
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