O imperativo categórico
Kant
acreditava que, como seres humanos racionais, temos certos deveres.
Estes deveres são categóricos: por outras palavras, são absolutos e
incondicionais -- deveres como «deves sempre dizer a verdade» ou «nunca
deves matar ninguém». Estes deveres são válidos sejam quais forem as
consequências que possam advir da sua obediência. Kant pensava que a moral era um sistema de imperativos categóricos: mandamentos para agir de determinadas maneiras. Este é um dos aspectos mais distintivos da sua ética.
Ele
contrastou os deveres categóricos com os hipotéticos. Um dever
hipotético é um dever como «se queres ser respeitado, deves dizer a
verdade» ou «se não queres ir para a prisão, não deves matar ninguém».
Os deveres hipotéticos dizem-nos o que devemos ou não fazer se quisermos
alcançar ou evitar um dado objectivo. Kant pensava que só existia um
imperativo categórico básico: «age apenas segundo as máximas que possas
ao mesmo tempo querer como leis universais». Por outras palavras, age apenas segundo uma máxima que quererias aplicar a toda a gente. Este princípio é conhecido como princípio da universalizabilidade.
Apesar
de Kant ter dado várias versões diferentes do imperativo categórico,
esta formulação é a mais importante e tem sido extraordinariamente
influente. Iremos examiná-la mais detalhadamente.
Kant
pensava que, para que uma acção seja moral, a máxima subjacente teria
de ser universalizável. Teria de ser uma máxima que se aplicaria a todas
as outras pessoas em circunstâncias análogas. Não devemos erigir-nos
como uma excepção, mas antes ser imparciais. Assim, por exemplo, se o
leitor roubar um livro, agindo segundo a máxima «Rouba sempre que fores
demasiado pobre para comprar o que queres», e para que este seja um acto
moral, esta máxima teria de aplicar-se a qualquer outra pessoa que
estivesse na sua situação.
Claro
que isto não significa que qualquer máxima que possa ser
universalizável é, por essa razão, uma máxima moral. É óbvio que muitas
máximas triviais, tais como «Deita sempre a língua de fora a pessoas
mais altas do que tu», podem facilmente ser universalizáveis, apesar de
terem pouco ou nada a ver com a moral. Outras máximas universalizáveis,
como a máxima sobre o roubo que usei no parágrafo anterior, podem mesmo
assim ser consideradas imorais.
Esta
noção de universalizabilidade é uma versão da chamada Regra de Ouro do
cristianismo: «faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti».
Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia
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