VI.Argumentos dedutivos
Todos os argumentos que até agora
apreciamos têm um certo grau de incerteza, de uma maneira ou de outra. Exemplos
novos podem sempre refutar um argumento com base em exemplos, e até uma fonte
informada e imparcial pode estar errada. No entanto, os argumentos dedutivos
bem construídos são argumentos em que a verdade das premissas garante a verdade
das conclusões.
Se não há
fatores de sorte no xadrez, então o xadrez depende unicamente do talento dos
jogadores.
Não há fatores
de sorte no xadrez.
Logo, o xadrez depende unicamente do talento dos jogadores.
Se estas duas premissas são
verdadeiras, então tem também de ser verdade que o xadrez depende unicamente do
talento dos jogadores. Para discordar da conclusão, o leitor teria de discordar
também de pelo menos uma das premissas.
Os argumentos dedutivos oferecem,
pois, certezas —mas apenas se as respectivas premissas forem também certas. Uma
vez que as premissas dos nossos argumentos. Raramente são de fato assim, as
conclusões dos argumentos dedutivos da vida real têm ainda assim de ser apreciadas
com algumas (por vezes muitas!) reticências. No entanto, quando conseguimos encontrar
premissas fidedignas, as formas dedutivas são muito úteis. Lembre-se da regra
3: tente começar com premissas fidedignas.
Mesmo quando as premissas são
incertas, as formas dedutivas oferecem uma maneira efetiva de organizar um
argumento, especialmente num ensaio argumentativo. Este capítulo apresenta seis
formas dedutivas comuns com exemplos simples, cada uma com uma regra própria.
Os capítulos VII-IX voltarão a tratar do seu uso nos ensaios argumentativos.
MODUS PONENS
Os argumentos dedutivos bem
formados chamam-se argumentos válidos. Usando as letras p e q em representação
de duas frases, a forma dedutiva mais simples é:
Se [frase p], então [frase q].
[Frase p].
Logo, [frase q].
Ou, mais sucintamente:
Se p, então q.
p.
Logo, q.
Esta forma chama-se modus ponens («o modo de pôr»: ponha p,
fique com q). Se p representar «não há fatores de sorte no xadrez» e q «o
xadrez depende unicamente do talento dos jogadores», o nosso exemplo
introdutório é um caso de modus ponens.
Verifique-o.
Muitas vezes um argumento destes é
tão óbvio que não precisa de ser formulado como um modus ponens.
Uma vez que os otimistas têm mais hipóteses de terem sucesso do que os pessimistas,
devias ser otimista.
Este argumento pode escrever-se
assim:
Se os otimistas têm mais hipóteses
de terem sucesso do que os pessimistas, devias
ser otimista.
Os otimistas têm mais hipóteses de
terem sucesso do que os pessimistas.
Logo, devias ser otimista.
No entanto, o argumento é
perfeitamente claro sem o pormos nesta forma. Outras vezes, no entanto; é útil
escrevermos o modus ponens:
Se existem milhões de planetas habitáveis na nossa galáxia, então
parece provável que a vida se tenha desenvolvido em mais do que um planeta.
Existem milhões de planetas habitáveis na nossa galáxia.
Logo, parece provável que a vida tenha evoluído em mais do que um
planeta.
Para desenvolvermos este argumento
temos de defender e explicar ambas as premissas e elas requerem argumentos
bastante diferentes (porquê?). E útil formulá-los clara e separadamente desde o
início.
Nenhum comentário:
Postar um comentário