Ficha 2 Lógica
Proposicional AULA3/4
Operadores proposicionais
Basta mudar da palavra «e» para a palavra «ou» e obtemos uma
forma lógica inválida: P ou Q. Logo, P. Esta forma lógica é inválida porque há
imensos argumentos com esta forma cujas premissas são verdadeiras e cujas
conclusões são falsas: Lisboa é feita de maionese ou Coimbra é uma cidade.
Logo, Lisboa é feita de maionese. Este argumento é inválido: a sua premissa é
verdadeira e a sua conclusão é falsa. Podemos assim concluir que as palavras «ou»
e «e» desempenham um papel central na forma lógica, pois basta substituir uma
pela outra e passamos de uma forma válida para uma forma inválida. Tanto o «e»
como o «ou» são operadores proposicionais. Um operador proposicional é uma
expressão que se pode acrescentar a uma proposição ou proposições, formando
assim novas proposições. Por exemplo, tomemos as duas proposições expressas a
seguir: Asdrúbal tem olhos verdes. Asdrúbal tem olhos azuis. Se acrescentarmos
corretamente o operador «ou», obtemos a proposição expressa a seguir: Asdrúbal
tem olhos verdes ou Asdrúbal tem olhos azuis. Geralmente, usa-se uma frase mais
abreviada para exprimir a mesma proposição: «Asdrúbal tem olhos verdes ou
azuis». Há muitos operadores proposicionais, além de «e» e «ou». Eis alguns
deles: • Penso que; • Tenho medo que; • Se…, então… • Não. Alguns operadores
aplicam-se a uma única proposição; outros aplicam-se a mais de uma. Para
aplicar o operador «e» precisamos de duas proposições. Mas para aplicar o
operador «Penso que» basta uma.
Como o nome indica, os operadores proposicionais só se
aplicam a proposições; não se aplicam a partes de proposições, como «é alto».
Por exemplo, «é magro e alto» não exprime uma proposição. Claro que no
dia-a-dia podemos dizer «É magro e alto», mas isso só acontece porque esta
frase abrevia algo como «Asdrúbal é magro e alto».
Revisão 1. O que é
uma variável proposicional? Defina e dê exemplos.
2. O que é um operador proposicional? Defina e
dê exemplos.
3. Assinale os
operadores presentes nas proposições expressas a seguir e reescreva- -as sem os
operadores. a) Aristóteles pensava que a virtude é o centro da ética. b) Ou
Deus existe ou a Bíblia está enganada. c) Tanto Platão como Aristóteles eram
filósofos gregos. d) Não há lobisomens.
Operadores verofuncionais Alguns operadores, como «ou» e
«e», têm uma característica especial: são verofuncionais. Isto significa que se
partirmos de duas proposições, P e Q, e se as ligarmos com «ou», por exemplo,
saberemos qual é o valor de verdade de «P ou Q», desde que saibamos o valor de
verdade de P e de Q. Por exemplo, se sabemos que o Asdrúbal não está na praia
mas sim no cinema, então sabemos que 1 é verdadeira e 2 falsa: 1. O Asdrúbal
está na praia ou no cinema. 2. O Asdrúbal está na praia e no cinema. Isto
contrasta com os operadores que não são verofuncionais. Por exemplo, mesmo que
saibamos que o Asdrúbal está no cinema, isso não é suficiente para saber se 3 é
verdadeira ou falsa: 3. A Fortunata pensa que o Asdrúbal está no cinema. Assim,
«e» e «ou» são operadores verofuncionais porque os valores de verdade de «O
Asdrúbal está no cinema» e «O Asdrúbal está na praia» determinam inteiramente o
valor de verdade de 1 e 2. Mas «A Fortunata pensa que» não é um operador
verofuncional porque o valor de verdade de «O Asdrúbal está no cinema» não é
suficiente para determinar o valor de verdade de 3. Um operador proposicional é
verofuncional quando o valor de verdade da proposição com o operador é
inteiramente determinado pelo valor de verdade da proposição ou proposições sem
o operador. Chama-se também «conectiva proposicional» aos operadores
verofuncionais.
Revisão 1. O que é um
operador proposicional verofuncional? Defina e dê exemplos. 2. Pressupondo que
a proposição a é verdadeira e a b falsa, determine o valor de verdade das
proposições c-g, se for possível; caso não seja possível, explique porquê. a) A
arte é imitação. b) A arte é expressão. c) A arte não é imitação. d) A arte é
expressão e imitação. e) A arte é expressão ou imitação. f) O Asdrúbal teme que
a arte seja imitação. g) O Asdrúbal pensa que a arte é expressão
Tabelas de verdade Quando um operador é verofuncional
acontece algo muito interessante. Mesmo que não saibamos se o Asdrúbal está no
cinema, na praia ou noutro sítio qualquer, sabemos que a proposi- ção expressa
a seguir só é falsa no caso de o Asdrúbal não estar nem no cinema nem na praia:
O Asdrúbal está no cinema ou na praia. O mesmo acontece com qualquer proposição
da forma «P ou Q»: só será falsa se P e Q forem ambas falsas; caso contrário,
será verdadeira. Podemos representar isto graficamente numa tabela de verdade: Uma tabela de verdade é um dispositivo
gráfico que permite exibir as condições de verdade de uma forma proposicional
dada. As condições de verdade são as circunstâncias que tornam uma proposição
verdadeira ou falsa. Cada fila da tabela de verdade acima representa
graficamente as condições de verdade do operador «ou». Neste caso, há quatro
condições de verdade, que resultam da combinação dos dois valores de verdade
possíveis de P e Q: podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas, ou pode uma
ser verdadeira e a outra falsa, ou vice-versa. Estas condições de verdade estão
todas graficamente representadas nas filas da tabela. Numa tabela de verdade
temos de representar todas as condições de verdade. É evidente que tanto faz
que P seja verdadeira e Q falsa como o contrário: P falsa e Q verdadeira. Em
ambos os casos o resultado é V. Mas temos mesmo assim de representar essas duas
condições de verdade.
FICHA 2 LÓGICA PROPOSICIONAL
Análise da forma
lógica das proposições e do seu valor de verdade, utilizando tabelas de
verdade.
TABELAS DE VERDADE: Uma tabela de verdade
é um dispositivo gráfico que permite exibir as condições de verdade de uma
forma proposicional dada. As condições de verdade são as circunstâncias que
tornam uma proposição verdadeira ou falsa. Cada fila da tabela de verdade
abaixo representa graficamente as condições de verdade do operador «ou». Neste
caso, há quatro condições de verdade, que resultam da combinação dos dois
valores de verdade possíveis de P e Q: podem ser ambas verdadeiras ou ambas
falsas, ou pode uma ser verdadeira e a outra falsa, ou vice-versa. Estas
condições de verdade estão todas graficamente representadas nas filas da
tabela. Numa tabela de verdade temos de representar todas as condições de
verdade
1.Disjunção
Chama-se disjunção a uma proposição da forma «P ou Q» e
disjuntas a P e a Q.
A tabela de verdade da disjunção é uma forma simples de
representar graficamente o significado verofuncional da disjunção:
P
|
Q
|
PVQ
|
V
|
V
|
V
|
V
|
F
|
V
|
F
|
V
|
V
|
F
|
F
|
F
|
REGRA LÓGICA: Uma
disjunção só é falsa se ambas as disjuntas forem falsas.
Assim, mesmo que o valor de verdade de «Deus existe» e de «A
vida faz sentido» seja desconhecido, sabemos que «Deus existe ou a vida faz
sentido» só é falsa se as duas proposições anteriores forem falsas. E é isto
que a tabela de verdade da disjunção representa.
Revisão 1.
Considere-se a disjunção «A vida tem sentido ou a felicidade não é possível».
a) Admitindo que a vida tem sentido, a disjunção é verdadeira ou falsa? Porquê?
b) Admitindo que a vida não tem sentido e que não sabemos se a felicidade é possível,
podemos saber se a disjunção é verdadeira ou falsa? Porquê? c) Admitindo que a
vida tem sentido e que a felicidade não é possível, a disjunção é verdadeira ou
falsa?
Expressão canónica “Platão refletiu sobre a ética ou
Aristóteles refletiu sobre a ética”. Outras expressões • “Platão ou Aristóteles
refletiram sobre a ética”. • “Quem refletiu sobre a ética foi Platão ou
Aristóteles.” • “Platão refletiu sobre a ética a não ser que Aristóteles tenha
refletido sobre a Ética”
Chama-se disjunção inclusiva à disjunção que acabámos de
estudar.
EXERCÍCIOS: Considere-se a
disjunção «A vida tem sentido ou a felicidade não é possível». a) Admitindo que
a vida tem sentido, a disjunção é verdadeira ou falsa? Porquê? b) Admitindo que
a vida não tem sentido e que não sabemos se a felicidade é possível, podemos
saber se a disjunção é verdadeira ou falsa? Porquê? c) Admitindo que a vida tem
sentido e que a felicidade não é possível, a disjunção é verdadeira ou falsa?
2. DISJUNÇÃO
EXCLUSIVA: «Ou o Asdrúbal nasceu em Lisboa ou em Faro». Neste caso, as
disjuntas não podem ser as duas verdadeiras: se o Asdrúbal nasceu em Lisboa,
não pode ter nascido em Faro, e vice-versa.
Chama-se disjunção exclusiva a este tipo de disjunção, que só é
verdadeira quando só uma das proposições disjuntas é verdadeira. A tabela
de verdade da disjunção exclusiva é a seguinte:
P
|
Q
|
PVQ
|
V
|
V
|
F
|
V
|
F
|
V
|
F
|
V
|
V
|
F
|
F
|
F
|
REGRA LÓGICA: Uma
disjunção exclusiva só é verdadeira se uma das disjuntas for verdadeira e a
outra falsa.
EXERCÍCIOS: Assinale quais das seguintes disjunções são
inclusivas e quais são exclusivas, explicando porquê: a) Ou o estado é
justificável ou os anarquistas têm razão. b) O Asdrúbal foi pelas escadas ou
pelo elevador. c) O universo é indeterminado ou não temos livre-arbítrio. d) A
alternativa é ir a Luanda ou ficar em Lisboa.
3. CONJUNÇÃO
Chama-se conjunção a uma proposição da forma «P e Q», e
conjuntas às proposições P e Q. As condições de verdade da conjunção são
evidentes:
Por exemplo, a conjunção «O Asdrúbal tem um cão que lê o
jornal e a Fortunata usa sapatos sem sola» só é verdadeira se as duas
proposições que a compõem forem verdadeiras; caso contrário, é falsa.
P
|
Q
|
P^Q
|
V
|
V
|
V
|
V
|
F
|
F
|
F
|
V
|
F
|
F
|
F
|
F
|
REGRA LÓGICA: Uma
conjunção só é verdadeira se ambas as conjuntas forem verdadeiras.
Expressão canónica “O conhecimento é estudado pela filosofia
e a fé é estudada pela filosofia”. Outras expressões • “O conhecimento e a fé
são estudados pela filosofia”. • “O conhecimento é estudado pela filosofia e a
fé também.” • Tanto o conhecimento como a fé são estudados pela filosofia”. •
“A filosofia estuda quer o conhecimento, quer a fé”. • “O conhecimento é
estudado pela filosofia mas a fé também o é”. • “O conhecimento é estudado pela
filosofia, embora a fé também o seja”.
4. Negação
As condições de verdade da negação são ainda mais
elementares do que as da disjunção e da conjunção. Chama-se negação a qualquer
proposição da forma «não P». A tabela de verdade da negação é óbvia:
P
|
̚̚ P
|
V
|
F
|
F
|
V
|
REGRA LÓGICA: Uma
negação é falsa unicamente quando a proposição de partida é verdadeira, e vice-
-versa.
Por exemplo, a negação «O Asdrúbal não existe» só é
verdadeira se for falso que o Asdrúbal existe. Expressão canónica O
conhecimento não é possível. Outras expressões • Não é verdade que o
conhecimento seja possível. • Não é o caso que o conhecimento seja possível. •
O conhecimento é impossível
EXERCÍCIOS: 1.
Considere-se a conjunção «A vida tem sentido e a felicidade é real». a)
Admitindo que a vida não tem sentido, a conjunção é verdadeira ou falsa?
Porquê? b) Admitindo que a vida tem sentido e que não sabemos se a felicidade é
real, é possível saber se a conjunção é verdadeira ou falsa? Porquê? 2. Por que
razão a tabela de verdade da negação tem apenas duas filas e não quatro?
5. Condicional
Chama-se condicional a qualquer proposição da forma «Se P,
então Q», e chama-se antecedente a P e consequente a Q. Por vezes, chama-se
também implicação à condicional. É evidente que a condicional «Se Aristóteles
era grego, era africano» é falsa. É falsa porque a antecedente é verdadeira e a
consequente falsa. Na lógica clássica olha-se unicamente para o valor de
verdade da antecedente e consequente da condicional literal e considera-se que
uma condicional só é literalmente falsa quando parte de uma verdade e chega a
uma falsidade; em todos os outros casos, a condicional é verdadeira:
P
|
Q
|
P→Q
|
V
|
V
|
V
|
V
|
F
|
F
|
F
|
V
|
V
|
F
|
F
|
V
|
REGRA LÓGICA: Uma
condicional só é falsa quando a sua antecedente é verdadeira e a sua
consequente falsa; em todos os outros casos é verdadeira.
Expressão canónica Se há pensamento, então há matéria.
Outras expressões • Se há pensamento, há matéria. • Há matéria, se houver
pensamento. • Há pensamento somente se houver matéria. • Há matéria caso haja
pensamento. • Não há pensamento, a menos que haja matéria. • Não há pensamento,
a não ser que haja matéria. • Sempre que há pensamento, há matéria. • A matéria
é uma condição necessária do pensamento. • O pensamento é uma condição
suficiente da matéria.
EXERCÍCIOS 1. Considere-se
a condicional «Se Deus existe, a vida tem sentido». a) Admitindo que Deus não
existe, a condicional é verdadeira ou falsa? Porquê? b) Admitindo que Deus
existe e que não sabemos se a vida tem sentido, é possível saber se a
condicional é verdadeira ou falsa? Porquê? c) Admitindo que a vida tem sentido,
a condicional é verdadeira ou falsa? Porquê?
A IMPLICAÇÃO NÃO É COMUTATIVA
Um operador é comutativo quando podemos trocar a ordem das
proposições e obter o mesmo valor de verdade. Como na disjunção ou na
conjunção, mas não na implicação ou condicional.
As condicionais
estabelecem condições necessárias e suficientes. A antecedente de uma
condicional é uma condição suficiente para a sua consequente. E a consequente
de uma condicional é uma condição necessária para a sua antecedente. Condição
suficiente P Condição necessária Q
6. Bicondicional
Chama-se bicondicional a qualquer proposição da forma «P se,
e só se, Q». Eis a tabela de verdade da bicondicional:
P
|
Q
|
P→ Q
←
|
V
|
V
|
V
|
V
|
F
|
F
|
F
|
V
|
F
|
F
|
F
|
V
|
REGRA LÓGICA: Uma bicondicional
só é verdadeira caso ambas as proposições tenham o mesmo valor de verdade.
. Expressão canónica Uma obra é arte se, e só se, for a criação de um
artista. Outras expressões • Uma obra é arte se, e somente se, for a criação de
um artista. • Uma obra é arte se, e apenas se, for a criação de um artista. •
Se uma obra for arte, é a criação de um artista e vice-versa. • Uma condição
necessária e suficiente para algo ser uma obra de arte é ser a criação de um
artista. • A arte é a criação de um artista. • A criação
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