Todos nós temos questões a resolver e procuramos respostas. Mas as respostas não nascem
de geração espontânea. Mesmo que estejam depositadas em livros e artigos famosos nas prateleiras
das bibliotecas ou em ficheiros do computador, de nada servem se não as conhecermos e se não forem
comunicadas. Por mais especialistas informados que haja, é preciso comunicar a verdade. Além disso,
as verdades, que a ciência considerou definitivas, revelam-se, na maioria das vezes insuficientes. As
certezas inabaláveis das ideologias sucumbem perante a voragem das contradições que o seu
dogmatismo produziu. O que hoje é sólido, amanhã dissolve-se no ar.
Vivemos num tempo de novos problemas e novas esperanças, aos quais já não responde o
paradigma de uma racionalidade única e linear. Vivemos num tempo de luzes e trevas, de riqueza e
miséria, de comunicação e isolamento, de liberdade e tirania. Nunca fomos tão iguais e, ao mesmo
tempo, tão diferentes. Vivemos num tempo que necessita de outras razões e verdades que se
completam. Já não nos satisfazem as certezas que não são partilhadas. Tudo é mais misterioso e
complexo. Precisamos de mais e diferentes razões para novas e diferentes realidades.
O nosso mundo foi enriquecido pela diversidade. A rigidez da verdade deu lugar à plasticidade.
A imaginação inteligente cria novas leituras. Na arte, na ciência, na política ou na filosofia, de nada
serve a mera repetição de verdades antigas. As novas gerações têm sempre o mundo inteiro para
reconfigurar. Mas, apesar dos tempos difíceis, podemos sempre buscar o que em nós é mais genuíno:
a liberdade de criarmos diferentes futuros e novas verdades.
Vimos como a lógica desempenha um papel capital nestas mudanças, ajudando a clarificar o
pensamento e a evitar erros de raciocínio. Ao tentarmos resolver problemas, apresentamos
argumentos e teorias. Se a argumentação resistir ao crivo da lógica, tem garantia de coerência formal
e correção. As demonstrações não dependem das circunstâncias, do momento ou do sujeito.
Outra coisa muito diferente é o que se passa no discurso argumentativo, onde estamos no
âmbito do plausível. Nem todos os argumentos que apresentamos têm a mesma força e poder. O
poder dos argumentos depende do tipo de validade que lhes atribuímos.
Porém, nem toda a validade lógica é validade formal. Só os argumentos dedutivos são argumentos
formais, e, mesmo assim, com exceções que agora não referimos. Os argumentos dedutivos têm uma
particularidade: a conclusão segue-se necessariamente das premissas, ou seja, é impossível que as
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Lembremos o nosso exemplo:
1. A rainha de copas ainda não saiu.
2. Todos os outros jogadores à exceção da Luísa não têm a rainha de copas.
3. Logo, é a Luísa que tem a rainha de copas.
Estamos perante um argumento dedutivo porque, se as afirmações 1 e 2 forem verdadeiras, é
impossível que 3 seja falsa.
Ora, nos argumentos válidos não dedutivos, o que se passa é que é improvável (mas não
impossível) que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Exemplifiquemos:
1. Já joguei imensas vezes à sueca com a Luísa e ela zanga-se sempre que perde um jogo.
2. A Luísa vai perder este jogo.
3. Logo, vai ficar zangada.
Neste caso, 1 e 2 tornam 3 muito provável. Mas não é necessário. A Luísa pode ter um ataque de
boa educação ao jogo. A validade não dedutiva não garante a verdade das conclusões, mas torna
razoável que as aceitemos.
Mendo Henriques – Nazaré Barros., Olá, Consciência! Editora Objetiva
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