Para compreender uma idade ou uma nação temos de
compreender-lhe a filosofia, e para isso temos de ser em qualquer grau
filósofos. Há aqui uma causalidade recíproca. As circunstâncias da vida do
homem concorrem muito para determinar a sua filosofia e, reciprocamente, a sua
filosofia determina em muito as suas circunstâncias. Esta interação
multisecular é o tópico das páginas seguintes (da história da filosofia).
Há no entanto uma resposta mais pessoal. A ciência
diz-nos o que sabemos, e é pouco; e se esquecemos quanto ignoramos ficaremos
insensíveis a muitos factos da maior importância. Por outro lado, a teologia
induz a crer dogmaticamente que temos conhecimento onde realmente só temos
ignorância, e assim produz uma espécie de impertinente arrogância em relação ao
Universo. A incerteza perante esperanças vivas e receios é dolorosa mas tem de
suportar-se se quisermos viver sem o conforto dos contos de fadas. Nem é bom
esquecer as questões postas pela filosofia, nem persuadirmo-nos de que lhes
achámos resposta indubitável. Ensinar a viver sem certeza sem ser paralisado
pela hesitação é talvez o mais importante dom que a filosofia do nosso tempo
dá, a quem a estuda.
Bertrand Russell, História da Filosofia Ocidental,(1946)
Relogio D’água, 2017, p. 13,14
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