sexta-feira, 4 de junho de 2021

Resumo Susana 10B

 


A pior consequência da desigualdade

 

«Alguns filósofos que tributariam os ricos para ajudar os pobres fazem-no em nome da utilidade; tirar cem dólares de uma pessoa rica e dá-los a uma pessoa pobre irá reduzir a felicidade da pessoa rica apenas de forma ligeira, especulam eles, mas aumentar grandemente a felicidade da pessoa pobre. John Rawls defende igualmente a redistribuição, mas com base no consentimento hipotético. Afirma que se imaginássemos um contrato social hipotético numa posição original de igualdade, todos concordariam com um princípio que apoiasse alguma forma de redistribuição.

Mas há uma terceira razão mais importante para nos preocuparmos com a crescente desigualdade da vida americana: um fosso demasiado grande entre os ricos e os pobres prejudica a solidariedade que uma cidadania democrática exige. Eis de que modo: à medida que a desigualdade se intensifica, os ricos e os pobres vivem vidas cada vez mais separadas. Os ricos mandam os filhos para escolas particulares (ou para escolas públicas em subúrbios ricos), deixando as escolas públicas urbanas para os filhos de famílias que não têm outra alternativa. Uma tendência semelhante conduz à separação dos privilegiados de outras instituições e estabelecimentos públicos. Os ginásios privados substituem os centros recreativos municipais e as piscinas. Os condomínios privados contratam seguranças privados e dependem menos da proteção policial pública (…).

[Uma das consequências disso é que] instituições públicas, como escolas, parques, parques infantis e centros comunitários deixam de ser lugares onde os cidadãos de diferentes posições sociais se encontram. Instituições que outrora juntavam as pessoas e funcionavam como escolas informais de virtude cívica tornam-se cada vez mais raras. O esvaziamento do domínio público torna difícil cultivar a solidariedade e o sentido de comunidade de que depende a cidadania democrática.

Por conseguinte, muito para além dos efeitos que tem na utilidade e no consentimento, a desigualdade pode ser corrosiva para a virtude cívica.»

 

Michael Sandel, Justiça – Fazemos o que devemos?, Editorial Presença, Lisboa, 2011, pp. 276-277

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