A defesa de Mill do princípio da maior felicidade
A prova de Mill do Princípio da Maior Felicidade consiste num argumento que parte da analogia entre visibilidade e desiderabilidade. Podemos reconstruí-lo da seguinte maneira:
- Ver uma coisa prova que ela é visível.
- Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.A seguir a esta conclusão afirma-se:
- A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.
- Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade.Da conclusão afirmada em 4 resulta uma outra:
- Logo, cada pessoa deve realizar as acções que promovem a maior felicidade.
Que avaliação podemos fazer deste argumento? Desde logo, é provável que vejas o seguinte problema: 1 não é uma razão para aceitar 2; se podes ver uma coisa, isso significa que ela é visível; mas se podes desejar uma coisa, isso não significa que ela seja desejável, isto é, que deva ser desejada. Por que razão a analogia não resulta? Porque o conceito de visibilidade é um conceito descritivo enquanto o conceito de desiderabilidade é um conceito normativo.
Vejamos agora a premissa 3. Trata-se de uma premissa falsa ou pelo menos bastante duvidosa. Dizer que a felicidade é o fim último de cada pessoa significa que tudo o que as pessoas desejam é um meio para assegurar esse fim. Se desejares que as crianças sujeitas a maus-tratos recebam amor e protecção, Mill diz que queres isto como um meio para assegurar a tua felicidade. Mas a verdade é que o bem-estar dos outros tem uma importância que não depende da importância que dás à tua felicidade. Como ninguém pode negar que muitas pessoas têm preferências deste tipo, a premissa 3 é falsa. Por outro lado, pessoas deprimidas parecem por vezes não desejar a sua própria felicidade.
Faustino Vaz,
Retirado DAQUI
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