Natureza morta, Emilio Longoni,
Problemas da Ética: Análise de algumas teorias sobre uma vida boa
Alguns hedonistas chegam à sua perspetiva da forma que passo a explicar. Consideram uma perspetiva rival, como a que afirma que aquilo que é bom para uma pessoa é ter conhecimento, envolver-se em atividades racionais ou aperceber-se da verdadeira beleza. Estes hedonistas perguntam:
“Estes estados mentais seriam bons se não trouxessem nenhuma
satisfação, e se a pessoa que os tem não tivesse o menor desejo de que
prossigam?”. Como respondem pela negativa, concluem que o valor desses estados
mentais tem de residir no facto de serem apreciados e de suscitarem o desejo de
que prossigam. Este raciocínio pressupõe que o valor de um todo é apenas a soma
do valor das suas partes. Se removermos a parte à qual o hedonista atende,
aquilo que sobra parece não ter nenhum valor, pelo que o
hedonismo é verdadeiro.
Suponha-se antes, mais plausivelmente, que o valor de um
todo pode não ser a mera soma do valor das suas partes. Nesse caso, poderemos
afirmar que aquilo que é melhor para as pessoas é um composto. Não é apenas estarem
em estados conscientes nos quais querem estar. Nem é apenas terem conhecimento,
envolverem-se em atividades racionais, aperceberem-se da
verdadeira beleza ou algo do género. Aquilo que é bom para
uma pessoa não é apenas aquilo que os hedonistas dizem ser bom, nem apenas
aquilo que os defensores das Teorias da Lista Objetiva dizem ser bom. Podemos
acreditar que, se tivéssemos uma dessas coisas sem a outra, teríamos algo com
pouco ou nenhum valor. Podemos afirmar, por exemplo, que aquilo que é bom ou mau
para uma pessoa é ter conhecimento, envolver-se em atividades racionais, experienciar
amor mútuo e aperceber-se da beleza — ao mesmo tempo que se quer com
intensidade precisamente essas coisas. De acordo com esta perspetiva, cada
parte do desacordo viu apenas metade da verdade.
Cada parte apresentou como suficiente algo que era apenas
necessário. O prazer obtido com certos objetos de vários géneros não tem nenhum
valor. E não há nenhum valor no conhecimento, na atividade racional, no amor ou
na perceção da beleza, se estas coisas estiverem inteiramente desprovidas de
prazer. Aquilo que tem valor, ou que é bom para uma pessoa, consiste em ter
ambas as coisas: estar envolvido nessas atividades e querer intensamente esse
envolvimento.
Derek Parfit, Aquilo que Faz a Vida de uma Pessoa Correr pelo Melhor
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