1. TEXTO PARA RELATÓRIO
Raciocinar em filosofia é semelhante a raciocinar em outras áreas.
Frequentemente raciocinamos acerca de questões como 'Quem cometeu o crime?',
'Que carro comprar?', 'Há um número primo maior do que todos?' ou 'Como
curar o cancro?' Ao abordar estes temas, clarificamos as questões e colhemos
informação de fundo. Consideramos o que outros disseram sobre o assunto.
Consideramos perspetivas alternativas e as objeções a estas. Fazemos distinções
e pesamos os prós e contras. O clímax do processo atinge-se quando tomamos
posição e tentamos justificá-la. Explicamos que a resposta tem de ser tal e tal
e apontamos para outros factos que justificam a nossa resposta. Isto é raciocínio
lógico, no qual vamos de premissas para uma conclusão.
Raciocinar logicamente é concluir algo a partir de algo diferente. Por
exemplo, concluir que foi o mordomo que cometeu o homicídio a partir das
crenças (1) ou foi o mordomo ou a criada e (2) a criada não pode ter sido. Se
colocamos o raciocínio em palavras temos um argumento - uma série de
proposições consistindo em premissas e uma conclusão:
Ou foi o mordomo ou a criada.
A criada não foi.
Logo, foi o mordomo.
[…] Este argumento é válido, o que significa que a conclusão se
segue logicamente das premissas. Se as premissas são verdadeiras, então a
conclusão tem de ser verdadeira. Portanto, se podemos ter confiança nas premissas,
podemos estar confiantes de que foi mordomo que cometeu o crime.
Dizer que um raciocínio é válido é dizer que a conclusão se segue das
premissas e não que as premissas são verdadeiras. Para provar algo precisamos,
além da validade do argumento, de premissas verdadeiras. Provamos a nossa
conclusão se ela se segue logicamente de premissas claramente verdadeiras.
A filosofia envolve muito raciocínio lógico. A forma mais comum de
raciocínio lógico em filosofia consiste em atacar-se uma tese P argumentando
que ela conduz ao absurdo Q:
Se P é verdadeiro, então Q também o será.
Q é falso.
Logo, P é falso.
Ao examinarmos uma tese, consideramos as suas implicações e vamos à procura
das falhas. Se encontramos implicações claramente falsas, então mostrámos que a
tese é falsa; se encontramos implicações altamente duvidosas, então a tese é
duvidosa.
Na formação das nossas perspetivas filosóficas são igualmente importantes o
raciocínio e o empenho pessoal. O raciocínio só por si não resolve todas as
disputas. Uma vez considerados os argumentos de um lado e de outro, temos de
tomar uma decisão. Se nos decidimos por uma perspetiva que levanta fortes objeções,
temos de estar à altura de lhes responder.
Harry Gensler, Ethics - A Contemporary Introduction. (London &
New York, 1998, p. 3).
1. O que é um argumento válido?
2. O que é raciocinar? Dê dois exemplos de dois raciocínios ou inferências:
leis de Morgan e contraposição.
2. Micaela Figueiredo,
Texto para relatório
Tales tentou compreender
o mundo sem invocar a intervenção dos deuses. Como os babilónicos, acreditava
que o mundo já tinha sido água. Para explicar a terra seca, os babilónicos
diziam que Marduk tinha colocado uma esteira na face das águas e amontoado
areia sobre ela. Sim, tudo tinha sido água, mas a Terra surgiu dos oceanos por
um processo natural, similar, ele julgava, à obstrução que tinha observado no
delta do Nilo. Pensava realmente que a água era um princípio comum subjacente a
toda matéria, assim como hoje em dia dizemos o mesmo de eletrões, protões e
neutrões, ou dos quarks. Se a conclusão de Tales estava ou não correta
não importa, mas sim o seu lema: o mundo não era governado pelos deuses, mas
sim pelo trabalho das forças materiais interagindo com a Natureza. Tales trouxe
da Babilónia e do Egito as sementes das novas ciências, astronomia e geometria;
ciências que germinaram e cresceram no solo fértil da Jónia. Muito pouco se
sabe da vida pessoal de Tales, mas Aristóteles narra uma anedota reveladora na
sua obra Política: [Tales] era censurado pela sua pobreza, que se
supunha ser prova de que sua filosofia não tinha utilidade. De acordo com a
história, sabia pela sua perícia [em interpretar os céus], enquanto ainda era
inverno, que haveria uma grande colheita de azeitonas no ano seguinte, de modo
que, tendo pouco dinheiro, fazia depósitos pelo uso das prensas de azeitonas em
Quio e Mileto, as quais alugava a preços baixos porque ninguém lhe dava
ouvidos. Quando chegava a colheita, e havia necessidade de muitas, cedia-as ao
preço que lhe convinha e ganhava uma boa quantia de dinheiro. Assim provava que
os filósofos do mundo podiam facilmente ficar ricos se quisessem, mas que a sua
ambição era outra. Era famoso como sábio político, incitando com sucesso os
Milesianos a resistir à assimilação por Creso, Rei da Lídia, mas não foi feliz
ao apelar a uma federação de todos os estados insulares da Jónia contra os
Lídios. Anaximandro de Mileto era amigo e colega de Tales, um dos primeiros,
que se tem conhecimento, a fazer experiências. Examinando o movimento de uma
sombra lançada por uma vareta vertical, determinou com precisão a duração do
ano e das estações. Por anos os homens utilizaram varetas para lutar ou matar.
Anaximandro utilizou-as para medir o tempo. Foi a primeira pessoa na Grécia a
fazer um relógio de sol; um mapa do mundo conhecido e um globo celeste que
mostrava os traços das constelações. Acreditava que o Sol, a Lua e as estrelas
eram feitos de fogo vistos através de buracos que se moviam na abóbada do céu,
provavelmente uma ideia bem mais antiga. Sustentou a opinião admirável de que a
Terra não era suspensa ou sustentada mas, para ele, era o centro do universo;
uma vez sendo equidistante de todos os pontos da "esfera celeste" não
havia força capaz de movê-la. Argumentava que somos tão desamparados ao nascer,
que se os primeiros bebés fossem colocados no mundo e deixados a sós, talvez
morressem de imediato. Partindo daí, Anaximandro concluía que os seres humanos
surgiram de outros animais com recém-nascidos mais capazes. Propôs a geração
espontânea da vida na lama, os primeiros animais tinham sido peixes cobertos
por espinhos. Alguns descendentes desses peixes abandonaram eventualmente a água
e dirigiram-se para a terra seca, onde evoluíram para outros animais por
transmutação de um tipo para outro. Acreditou num número infinito de mundos,
todos habitados e sujeitos a ciclos de dissolução e regeneração. "Nem
ele", queixou-se lamentavelmente Santo Agostinho, "nem Tales
atribuíram a causa de toda esta atividade sem fim a uma mente divina."
Carl Sagan, Cosmos
1. Faça um resumo do
texto salientando as principais ideias a reter sobre os filósofos
pré-socráticos.
2. A partir do diapositivo e apontamentos sobre as
inferências válidas, construa um argumento de modus ponens e modus tollens
a partir das ideias do texto.
Rafael Magalhães,
A máquina de salsichas
da razão
Aquilo que é maravilhoso num argumento sólido é o seu
poder de preservar a verdade. Tomemos, por exemplo, o argumento seguinte:
1. Francisco é um homem.
2. Todos os homens vivem na terra.
Conclusão: Francisco vive na terra.
1. Francisco é um homem.
2. Todos os homens vivem na terra.
Conclusão: Francisco vive na terra.
Este argumento
forma-se de duas afirmações, ou premissas, e de uma conclusão. Num argumento
dedutivo, como este, as premissas implicam supostamente a conclusão.
O argumento, se válido, fornece-nos uma garantia lógica: se as premissas são
verdadeiras, a conclusão também o é. Neste caso, o argumento é válido. As
premissas implicam realmente a conclusão.
É claro que se
introduzirmos num argumento dedutivamente válido uma ou mais falsidades, não há
qualquer garantia quanto ao que obteremos. A conclusão pode, ainda assim, ser
verdadeira. Mas pode ser falsa. (Suponhamos, por exemplo, que a primeira
premissa do nosso argumento é falsa: o Francisco não é um homem – é um
extra-terrestre que vive no planeta Plutão; então a nossa conclusão é falsa.)
Portanto, um argumento
dedutivo válido preserva a verdade. Se introduzirmos premissas verdadeiras,
temos a garantia lógica de que sai uma conclusão verdadeira. Se estivermos
interessados em ter convicções que sejam realmente verdadeiras, trata-se de um
belo resultado.
Para aqueles que gostam de analogias, podemos dizer
que as formas válidas de argumentos dedutivos funcionam um pouco como as
máquinas de salsichas. A única diferença é que em vez de introduzirmos carne de
salsicha e de saírem do outro lado salsichas, é-nos dada a garantia de que se
introduzirmos premissas verdadeiras, sairão conclusões verdadeiras.
A máquina de salsichas
indutiva
A argumentação
dedutiva não é a única forma de argumentação sólida. Há também os raciocínios
indutivos. Eis um exemplo de um argumento indutivo:
1. A maçã um tem sementes.
2. A maçã dois tem
sementes.
3. A maçã três tem sementes.
3. A maçã três tem sementes.
[...]
1000. A maçã mil tem sementes.
Conclusão: Todas as maçãs têm sementes.
1000. A maçã mil tem sementes.
Conclusão: Todas as maçãs têm sementes.
Este argumento tem mil
premissas (embora eu não me tenha dado ao trabalho de listar mais do que
quatro). Num argumento indutivo, as premissas apoiam supostamente a conclusão.
Aqui, a palavra-chave é apoiam. É claro que estes argumentos não são (e
não pretendem ser) dedutivamente válidos. As premissas não implicam dedutivamente
a conclusão. Não há garantia lógica de que a maçã seguinte não terá sementes,
apesar das muitas maçãs que examinámos até agora. Apesar disso, supomos que o
facto de todas as maçãs que examinámos até agora terem sementes torna extremamente
razoável que concluamos que todas têm. As premissas, supomos, tornam a
verdade da conclusão bastante provável. Se isto é correto, os argumentos
indutivos sólidos também têm a qualidade de preservar a verdade à maneira da
máquina das salsichas. Introduzam-se premissas verdadeiras num argumento
indutivo sólido e sai provavelmente uma conclusão verdadeira do outro lado. Uma
vez mais, se é a verdade que buscamos, trata-se de um belo resultado. Stephen Law, The War for Children’s
Minds
Salvador Almeida,
Ficha de trabalho. TEXTO 1 – Filosofia, Senso Comum e Ciência.
A filosofia opõe-se ao senso comum
porque recusa a superficialidade, as visões simplistas e instantaneas, as
opiniões infundadas e não argumentadas, as verdades tradicionais cristalizadas.
A filosofia rejeita do senso comum a fixidez, a precipitação, a pressa de se
agarrar a uma qualquer verdade fácil e cómoda, a intolerância própria de quem
transforma as opiniões em crenças inquestionáveis. A filosofia faz a crítica
sistemática do senso comum realçando o facto de que muitas das questões
tratadas com leveza pelo pensamento vulgar podem ser aprofundadas e reflectidas
de modo rigoroso e radical pelos filósofos.
A filosofia porém não é ciência
porque não delimita o seu campo de análise, não utiliza experimentações e não é
objectiva. A filosofia não é definitivamente ciência embora, tal como ela,
procure construir um saber sólido e racional, um saber que ultrapasse o nível
do estritamente vivenciado para, assente no rigor e na reflexão crítica,
permitir uma compreensão esclarecida do mundo e de nós mesmos. Ninguém espera
que a filosofia forneça respostas exactas e únicas para os problemas
fundamentais do Homem. A própria diversidade das respostas, sendo factor de
diálogo e discussão, é enriquecedora e estimula a procura pessoal, a construção
da nossa mundividência.
A filosofia tem, entre outras
tarefas, a de examinar os nossos preconceitos e não podemos esquecer que há
também preconceitos científicos, antigas verdades que perderam o seu valor
científico ou foram substituídas por outras mas a que nos apegamos obstinadamente.
Para o homem do senso comum a ciência, que lhe permanece estranha,
transformou-se numa nova religião e na fábrica de novos dogmas.
Por outro lado, as próprias
explicações científicas deixam por responder muitas questões que não podem ser
ignoradas e acrescentam também novos problemas. A aliança entre a ciência e a
técnica, sem dúvida proveitosa em muitas aspectos, empobreceu a racionalidade
convertendo-a numa racionalidade técnica, instrumental, que parece só entender
a realidade quando a pode manipular e submeter.
Jorge Torres
1. No resumo esclareça a distinção sugerida no texto, entre Ciência, Senso comum e Filosofia.
Sebastian
Através da lógica proposicional é possível avaliar a validade de um argumento. Um inspector de circunstância, com o recurso às tabelas da verdade, pode revelar se um argumento é válido pela simples constatação da presença ou não de circuntâncias que possuem premissas verdadeiras e conclusão falsa.
Contudo, será necessário algumas explicações prévias.
Vejamos os seguintes argumentos:
Platão é grego e Sócrates é grego
Logo,
Platão é grego
Em
lógica proposicional aplicamos determinadas letras para substituir as
proposições, tal como em aritmética substituímos números por letras: 2+3=5
pode-se exprimir por X+Y=Z quando queremos dizer qualquer número.
Quantas proposições temos no exemplo?
Duas: Platão é grego e Sócrates é Grego. De seguida vamos substituir cada proposição por uma letra
p: Platão é grego.
q: Sócrates é grego.
Então,
substituindo as proposições por letras, fica: P e Q, logo P. A estas letras chamaremos variáveis proposicionais
variáveis
proposicionais: Correspondem às letras P,Q, R... que representam lugares vazios
que só podem ser ocupados por proposições.
Exercícios:
substituir as proposições pelas respectivas letras.
O
João é alto e a Maria é Alta
Logo,
o João é Alto
Resposta:
p: João é alto.
q: Maria é alta
p e q, logo p
As conectivas
Utilizamos conectivas
proposicionais para expressar determinadas formas lógicas. Entende-se por conectiva expressões que se podem
acrescentar a uma frase ou frases, formando assim novas frases:
Por exemplo: se juntarmos a expressão «ou» às frases «Platão
era romano» e «Platão era grego», ficamos com a frase «Platão era romano ou
Platão era grego».
Existem muitas formas conectivas: Penso que, acho que, porque...não
são frases mas que servem para gerar uma frase se for colocada alguma depois
dela.
Conectivas verofuncionais
Uma conectiva proposicional é
verofuncional quando o valor de verdade da proposição com a conectiva é
inteiramente determinado pelo valor de verdade da proposição ou proposições sem
conectiva.
Apesar de haver várias conectivas, a Lógica Proposicional
estuda cinco conectivas:
- …ou… - A casa é amarela ou está isolada v - disjunção
- …e… - A casa é amarela e está isolada………………………^ - conjunção
- não…- A casa não é amarela………………………………….¬ - negação
- se…,então… - Se estiver sol, então irei à praia……………….-> - condicional
- se, e só se,..- Irei à praia, se e só se, estiver sol……………<-> bicondicional->
Tabelas da verdade
A disjunção
Uma tabela da verdade
é uma disposição gráfica que permite exibir as condições de verdade de uma
forma proposicional dada.
Assim, segundo a proposição «O professor vai ganhar a
lotaria ou os alunos vão ganhar» pode ser traduzida por uma tabela da verdade
da seguinte maneira:
P Q
|
P v Q
|
V V
V F
F. .V
F.. F
|
V
V
V
F
|
Estão evidenciadas as condições de verdade de uma disjunção
inclusiva, caso os dois ganhem.
Contudo, se usasse a minha disjunção de modo exclusivo, caso
o professor ganhasse de forma exclusiva, a tabela já seria diferente:
P Q
|
P v Q
|
V V
V F
F. .V
F.. F
|
F
V
V
F
|
A Conjunção
A conjunção corresponde a proposições cujo conector
verofuncional é o «e»
Assim temos um exemplo: «Manuel de Arriaga está apaixonado»
e «Manuel de Arriaga é rico»
Eis a tabela da verdade:
P Q
|
P ^ Q
|
V V
V F
F. .V
F.. F
|
V
F
F
F
|
A Negação
Chama-se negação a qualquer proposição tipo «não P»
Eis a tabela da verdade:
P
|
¬P
|
V
F
|
F
V
|
Exercícios:
1-Diga o valor de verdade das
seguintes proposições:
a)
3»1 e 4»2.
b)
O sol é um planeta ou Júpiter é uma estrela.
c)
O papagaio é uma ave ou a cobra é um réptil.
d)
2 é divisor de 6 e 7 é múltiplo de 3.
2- Considere as seguintes
proposições:
p-
Manuel é futebolista
q-
Manuel é pintor
Escreva em linguagem natural
a)
p ^q
b)
pvq
c)
~pvq~
d)
~p^~q
e)
~qv~p
Condicional
Chama-se condicional a qualquer argumento com a forma «se P,
então Q»
Por exemplo: «se a
relva é verde, então tem clorofila».
P Q
|
P=>Q
|
V V
V F
F. .V
F.. F
|
V
F
V
V
|
Uma condicional é falsa quando a antecedente é V e a consequente é F
É fácil colocar um F na segunda
linha. Se a relva é verde e não tiver clorofila, então é falsa a condicional.
Nos meios lógicos, a condicional
é bastante questionada quanto à sua verofuncionalidade. Os estóicos consideram
que a condicional é verofuncional porque, ao construirmos uma proposição tipo
«se, então» estou a sugerir uma conexão mas não afirmo efectivamente a existência
de tal conexão.
Um argumento deste tipo pode ser
enganador mas não é falso.
Bicondicional
P se, e só se, Q
Ex: Um argumento dedutivo é válido se, e só se, for
impossível as premissas serem verdadeira e a conclusão falsa.
João terminará a horas o seu trabalho se, e só se, os amigos
o ajudarem
P Q
|
P<=>Q
|
V V
V F
F. .V
F.. F
|
V
F
F
V
|
Faça o resumo deste texto, dê exemplos novos de cada uma das proposições.
Sofia Fortunato, Sofia Ferreira, Vânia Nogueira e Guilherme Brigolas. Ver
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