O que é a filosofia?
um blog com materiais para as aulas
Tradicionalmente, os filósofos quiseram
compreender a natureza de tudo, de um modo muito geral: a existência
e a inexistência, a possibilidade e a necessidade, o mundo do senso comum, o
mundo da ciência natural, o mundo da matemática, as partes e os todos, espaço e
tempo, causa e efeito, mente e matéria. Querem compreender a nossa compreensão
ela mesma; o conhecimento e a ignorância, a crença e a dúvida, a aparência e a
realidade, a verdade e a falsidade, o pensamento e a linguagem, a razão e a
emoção. Querem compreender e ajuizar o que fazemos com essa compreensão: ação e
intenção, meios e fins, bem e mal, correto e incorreto, facto e valor, prazer e
dor, beleza e fealdade, vida e morte, e mais. A filosofia é superambiciosa.
Esta breve descrição coloca uma pergunta óbvia: uma vez que os cientistas estudam muitos destes tópicos, como se relaciona a filosofia com a ciência? Estas nem sempre estiveram separadas. Desde os antigos gregos, a filosofia incluía a filosofia natural, o estudo do mundo natural (…) a filosofia natural, ou ciência natural, desenvolveu uma metodologia particular, conferindo um papel crucial à experimentação, à observação exata através de instrumentos especiais como os telescópios e microscópios, à medição e ao cálculo. (enquanto a metodologia filosófica não recorre a estes métodos, o seu método é argumentar e problematizar. Cada vez mais esta filha da filosofia se foi assemelhando a uma rival e a uma ameaça mortal à sua progenitora. (…) Se é um duelo, a filosofia parece em desvantagem, pois dispõe apenas do pensamento, ao passo que a ciência natural tem também aqueles outros métodos.
Timothy Williamson, Filosofar. Da curiosidade comum ao
raciocínio lógico. Lisboa, Gradiva,2019, p.13,14 e 15,
Lista dos principais filósofos pré-socráticos:
1. Tales
2. Anaximandro
3. Anaxímenes
4. Heraclito
5. Anaxágoras.
6. Parménides
7. Pitágoras
8. Diógenes (o cão)
9. Demócrito
Exercício - Escolher um destes filósofos; elaborar uma pequena biografia; selecionar as principais ideias; selecionar um fragmento de texto atribuído ao filósofo escolhido; comentar /interpretar esse fragmento de texto. Escrever para ler na aula.
a) Compreensão da história do pensamento
b) Interpretação de texto.
c) Leitura.
A busca da verdade pelos filósofos pode ser talvez comparada a um romance policial. Alguns pensam que Andersen é o assassino, outros pensam que é Nielsen ou Jepsen. Talvez o verdadeiro mistério deste crime possa ser um dia esclarecido subitamente pela polícia. Podemos também pensar que a polícia nunca conseguirá resolver o enigma. Mas este tem, no entanto, uma solução.
Mesmo quando é difícil responder a uma pergunta, é possível imaginar que a pergunta possa ter uma — e apenas uma — resposta correta. Ou há uma forma de vida após a morte ou não.
Muitos enigmas antigos foram entretanto resolvidos pela ciência. Outrora, o aspeto da face oculta da Lua era um grande mistério. Não se podia descobrir a resposta através da discussão, e assim era deixada à imaginação de cada um. Mas hoje em dia sabemos exatamente qual é o aspeto da face oculta da Lua. Já não podemos acreditar que haja um homem a viver na lua, ou que ela seja um queijo.
Segundo um filósofo grego que viveu há mais de dois mil anos, a filosofia surgiu da capacidade que os homens têm de se surpreender. O homem acha tão estranho viver, que as perguntas filosóficas surgem por si mesmas.
Pensa no que sucede quando observamos um truque de magia: não conseguimos perceber como é possível aquilo que estamos a ver. E perguntamo-nos: como é que o ilusionista conseguiu transformar dois lenços brancos de seda num coelho vivo?
Para muitos homens, o mundo parece tão inexplicável como o coelho que um ilusionista retira subitamente de uma cartola até então vazia.
No que diz respeito ao coelho, percebemos claramente que o ilusionista nos enganou. O que pretendemos descobrir é como nos enganou. Quando falamos sobre o mundo, a situação é diferente. Sabemos que o mundo não é pura mentira, uma vez que nós estamos na Terra e somos uma parte do universo. Na verdade, somos o coelho branco que é retirado da cartola. A diferença entre nós e o coelho branco é apenas o facto de o coelho não saber que participa num truque de magia. Connosco passa-se de modo diferente. Sentimos que tomamos parte em algo misterioso, e gostaríamos de esclarecer de que modo tudo está relacionado.
P.S. No que diz respeito ao coelho branco, o melhor é talvez compará-lo com o conjunto do universo. Nós, que vivemos aqui, somos parasitas minúsculos que vivem na pele do coelho. Mas os filósofos procuram trepar pelos pêlos finos, de modo a poderem fixar nos olhos o grande ilusionista.
Estás a seguir-me, Sofia? Receberás a continuação.
Jostein Gaarder, O mundo de Sofia